Á sombra de um amor, descansa um coração (que todo amor vira ódio, sombra e ausência)

Nem todo amor deve ser admitido. Isso dizia alguém cujo amor reservava para si, parte em luto, parte em contentamento... Pois de uma saudade e lembranças vivia diariamente como quem deseja um doce, mas diabético, não o pode provar. A grande verdade é que nenhuma declaração poderia ser mais intensa do que aquilo que sentia em sua alma. De sorte que toda emoção era calada pelas memórias de saudades que melhor lhes era, não partilhar;

Ao se recusar admitir seu eternal amor, como se protegendo a si mesmo, tinha em si a convicção de que a não-admissão era o caminho justo, uma vez que não só se protegia, mas garantia assim que o outro permanecesse longe, sem quaisquer esperanças de uma oportunidade futura. Desse modo, diariamente intentava persuadir sua amada de que jamais a teria amado, afinal, teus motivos para tal insistência pautavam-se em mentiras, ausência de transparência e alguma honestidade, por ela tão exigida, mas em muito, não retribuída;

Uma coisa havia aprendido ao longo da vida, que todo aquele que exige, pouco devolve, e quando o faz, o faz por metade; E mais, aprendeu que todo amor em grande parte é pela utilidade e não pelo essencial desejo de partilha e vida comum, como nos romances por ele tão lidos e relidos; O que ele chamava de amor, nela era uma obsessão, uma dependência emocional que não só a ela, mas a todos, gerava mais prejuízo do que ganho...

A verdade é que há coisas que não carecem de admissão, pois mesmo do ponto de vista da psicologia, a negação se dá pela omissão ou qualquer outro sentimento antagonizante ao amor, mas que numa observação acurada, vê-se ali um resquício de amor velado; Contudo, nem todos tem a capacidade de perceber essa sutil forma de amar sem declarada intenção. E um tanto pior, não há esforço algum por parte do objeto de amor, de perceber senão o que se apresenta aos seus delírios e inconclusivas percepções.

Destarte, amar é desamar em algum disfarçado sentimento que denota tamanha importância que melhor que seja assim, ausente, subjetivo, incoerente, essa forma de amar desconstruída; Afinal, protegendo a si mesmo e à amada de seu coração, permanecerá sempre na passividade de uma informal forma de amar, fingida de amizade, mas cuja amizade jamais será tal como uma, pois é teia de aranha, por tudo que viveram, por tudo que sofreram e pelas decisões e laços que agora os separam, mas que de algum grosso modo, os manteria ligados, mesmo na ausência e na distância, pois que ambas situações não é mais que tempo-espaço, diferente das almas tão atemporais.

Uma coisa é certa, que todo amor é ódio, em algum grau, assim como a sombra é ausência de luz, e assim como caminham juntas- sombra e luz... o amor trilha de mãos dadas com o ódio, que é sua forma obscura e que se manifesta na inapetência ou negativa da luz-amor, sendo agora, um amor-sombra, senão, um tanto mais, um sombrio amor....

FidelisF
Enviado por FidelisF em 03/09/2022
Código do texto: T7597336
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