Uma árvore no meio da terra - Dn3

“Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama. Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba” (Jó 33.14-17).

Assim como Jó havia entendido a questão de Deus se manifestar anteriormente ao castigo pretendido, como que em um ato preventivo e misericordioso, também o grande rei Nabucodonosor passou pelo aviso e teste. Em uma de suas atribuladas noites, ‘teve um sonho, que o espantou; e estando ele na sua cama, as imaginações e as visões da sua cabeça o turbaram’ (Dn 4.5).

Às vezes Deus deve quebrar o vício de nossa comodidade na tentativa de abrir nossos ouvidos, se assim interpretarmos a figura de que antes ele ‘estava sossegado em sua casa, e próspero no seu palácio’ (4.4).

Mas afinal o que o perturbou tanto?! Certamente não foi a primeira parte do sonho, aquela que nos enche o ego e o gosto – ‘uma árvore no meio da terra que crescia forte, alcançava os céus, de folhagem formosa e fruto abundante, e que servia de sustento a todos em redor’ (4.10-12).

O problema vinha depois – um vigia ou santo que descia do céu para atormentá-la, dizendo que seria derrubada, os ramos cortados, as folhas sacudidas, os frutos espalhados e o sustento delicioso seria quebrado para todos que a cercavam (4.14).

Mas não parava por aí – o tronco e suas raízes seriam acorrentados, ficariam ao relento e o seu coração (sinal claro que a árvore falava de uma pessoa) seria mudado em coração animal, e isto por 7 tempos (4.15-16).

Certamente os magos não tinham problemas quanto à interpretação, uma vez que se lembravam do sentido do sonho anterior da estátua. Se o sonho tivesse parado na primeira parte, eles não hesitariam em ‘encher’ de elogios seu rei. O problema estava na segunda parte, que envolvia desilusão, castigo, abandono, e isto talvez pudesse ser incômodo aos ouvidos reais. Mas graças a Deus, havia um Daniel que fugia da hipocrisia farisaica ou evangélica – a verdade e a justiça divinas vinham antes da bajulação e egoísmo humanos.

“Então entraram os magos... mas não me fizeram saber a sua interpretação... Então Daniel... esteve atônito por uma hora, e os seus pensamentos o turbavam... falou, pois, o rei, dizendo:... não te espante o sonho, nem a sua interpretação... Senhor meu, seja o sonho contra os que te têm ódio, e a sua interpretação aos teus inimigos” (Dn 4.7,19).

Mas passemos à parte profética que nos interessa. Você deve se lembrar daquele primeiro sonho em que o rei viu uma estátua em forma humana construída de cinco materiais diferentes – ouro (o próprio Nabucodonosor e seu reino), prata (Medo-Pérsia), bronze (Grécia), ferro (Roma imperial) e ferro misturado com barro (Roma em seu estado final híbrido império-democrático) – 5 tipos de materiais distribuídos em 5 estágios consecutivos em desenvolvimento.

Pela perda óbvia do valor do material conforme a imagem vai descendo em direção ao chão – começando pelo ouro da cabeça e terminando em barro e ferro nos 10 dedos – a imagem perde seu poder governamental direto ou imperial, representado pelo ouro puro, até chegar a uma mistura corrupta do ferro misturado com barro, uma mistura impossível e hipócrita da rigidez do ferro e da maleabilidade do barro, este não tendo força de reação ante o molde imposto pelos governos ‘nem tanto’ democráticos.

Em acréscimo ao primeiro sonho, agora sob outra figura e perspectiva, o mesmo rei vê uma “árvore no meio da terra [em contraposição à “árvore da vida no meio do jardim” ??], cuja altura era grande, crescia e se fazia forte, de maneira que a sua altura chegava até ao céu; e era vista até aos confins da terra” (4.10-11). Ela começou com a ascensão de Babilônia segundo a interpretação de Daniel – “És tu, ó rei [Nabucodonosor], que cresceste, e te fizeste forte; a tua grandeza cresceu, e chegou até ao céu, e o teu domínio até à extremidade da terra” (4.22).

Conquanto o personagem babilônico não tenha chegado propriamente ao céu nem aos confins da terra, era questão de tempo para que chegasse lá. Estamos assistindo, diante de nossos próprios olhos, a conclusão da porção final desta visão na construção de uma sociedade desconfigurada, arrogante, impiedosa, globalizada e, principalmente, substituindo as antigas verdades divinas pela mentira de que o homem formará seu ‘Éden’ aqui na terra mediante seu esforço tecnológico e guiado pelo espírito da mentira que já tomou o lugar do Espírito da verdade. É exatamente disto que fala a figura ‘chegar até aos céus’. A antiga torre de Babel já tinha este objetivo, porém foi interrompida bruscamente.

Este império global – pela visão dupla 1) da estátua de metal que mistura a força imperial com a democracia e 2) da árvore que cresce arrogantemente até afrontar as leis divinas – está em seus últimos retoques.

Somente a permanência da verdadeira Igreja de Cristo – formada por cristãos verdadeiros, e independente de escolha denominacional, desde o Pentecostes e sua unção pelo Espírito Santo até sua retirada brusca – é o que tem detido o aparecimento do sistema iníquo global.

Isto porque, outra árvore, desta vez numa figura profetizada pelo próprio Senhor Jesus, também está em desenvolvimento. Concluiremos este tema em nossa próxima nota, quando analisarmos os 7 tempos que se passaram sobre Nabuco.