Para o dia de Finados

Família é eterna.

Venho aprendendo essa lição ao longo dos últimos dezesseis anos - eu tenho vinte e dois completos - e a contagem se inicia do dia em que meu irmão (do meio, mas na época o caçula) faleceu.

Minha avó, meu primo Bruno, meu avô paterno e meu avô materno seguiram essa sequência de despedidas temporárias e por último, uma das minhas melhores amigas. Vivi aprendendo a "perder" - a cada ciclo, a morte me gerava uma nova despedida e eu precisava aprender a lidar com uma nova faceta dela: descobri que tem várias, atingindo bebês, jovens, idosos, com ou sem doenças, com ou sem avisos, de uma hora à outra.

Não conheço todas as fases e sequer pretendo - que Deus me livre de, tão cedo, redescobrir a velha novidade da falta.

Aconteceu que, ao longo de todos esses processos, aprendi a dizer "até logo" ao invés de "adeus".

E a razão é uma só.

O que meu irmão e minha amiga, que sequer se conheceram tem, é algo em comum - e esse algo em comum é o mesmo entre os meus avós, que é o mesmo algo em comum com o pai de uma amiga, que é o mesmo algo em comum comigo mesma, que permaneço respirando e sem expectativa de morrer tão cedo: Uma Cruz levantada no alto de um monte de maneira rude e muito pouco romântica para atrair para si todas as nações e formar família - uma família para Deus, que não morre, na qual Ele é o Pai.

Pode soar estranho e transcendental aos seus ouvidos, mas quando essa verdade se enraizar no seu coração, a única perspectiva possível é a de que não se perde ninguém (ao menos ninguém que tinha fé), porque a vida dessas pessoas passa a estar guardada na eternidade. Revelação maravilhosa, não acha? A fé não salva só a alma, salva a vida. E permite uma continuação esperançosa.

Ao me referir à família, não falo sobre a família natural, mas aquela construída aos pés de Cristo.

Essa família é eterna e não é abalável.

Eu chorei muito todos esses "até breve" e cada um deles esmagou meu coração e me fez crescer de uma maneira diferente, mas sempre pude descansar na certeza de que os meus amados estavam seguros com o Pai. Não pelo jargão ou pela declaração recorrente de que "eles estão melhor agora", mas porque eu sei em quem eu tenho crido e eu sei que a morte não é um plano dEle - e Ele a venceu quando passou por ela e ressuscitou ao terceiro dia. Maria Madalena contemplou algo na porta daquele túmulo, enquanto chorava sua perda:

"Eles lhe perguntaram: Mulher, por que você está chorando? 'Levaram embora o meu Senhor', respondeu ela, 'e não sei onde o puseram'. Nisso ela se voltou e viu Jesus ali, em pé, mas não o reconheceu. Disse ele: 'Mulher, por que está chorando? Quem você está procurando?' Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: 'Se o senhor o levou embora, diga-me onde o colocou, e eu o levarei'. Jesus lhe disse: 'Maria!' Então, voltando-se para ele, Maria exclamou em aramaico: 'Rabôni!' (que significa 'Mestre!')."

A dor da separação se tornou alegria extrema no momento em que ela, olhando nos olhos de Jesus, viu que Ele havia vencido a morte. Tempos antes, uma outra Maria, como um sinal, havia visto seu irmão ser chamado para fora da porta de um sepulcro enquanto chorava por ele - Jesus, que sempre teve poder o suficiente, havia ressuscitado Lázaro. Tais coisas, breve, voltarão a acontecer.

Assim como Ele, minha família também vai ressuscitar. Eu vou ressuscitar.

Família é eterna. Nada me tira. Nada me afasta do amor de Deus - e nada pôde afastá-los também.

Hoje, eu queria dizer a Jesus que o agradeço muito pelo fato de guardar a minha família com Ele e garantir que nunca seremos separados, pelo menos não para sempre - resta aqui, a honra de ter sido amada por pessoas tão valiosas.

O plano de Deus sempre foi a vida, e não a morte. A morte é uma consequência dos nossos delitos e pecados - uma que o próprio Cristo, o Filho de Deus, expurgou quando tomou para si as nossas consequências e morreu crucificado, ressuscitando e trazendo-nos novamente a perspectiva da vida eterna. Ainda que um pequeno lapso temporal nos separe, a Eternidade é vivida em comunhão: com Ele, acima de tudo.