O encanto dos noivos - Ct2

Em todo romance há aquela fase do encanto que destila poesia e doçura. Esta é a parte sempre agradável de todo relacionamento.

Mas às vezes os dotes e carinhos super valorizados revelam, não o que está no íntimo, mas o que vai na superfície.

No caso que analisamos do casal Israel-Senhor, a maquiagem só é válida para a noiva, visto que o Noivo celestial, por sua posição divina e santa, deve seu linguajar expressar exatamente o que se passa nas suas entranhas. Há uma distância imensa entre lábios e coração.

Passemos ao coração do Senhor para com sua noiva. O que Ele vê nela?

“Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com ‘os colares’” (1.10).

Aparentemente, por esta descrição isolada, teríamos a impressão de que Sua noiva terrena fosse bela por natureza própria. Mas uma nota em Ezequiel nos informa que esta beleza não era natural, mas algo que vinha – imerecidamente – de Deus. Descrevendo a formação de Jerusalém em seus primórdios, luz é lançada nesta aparente beleza.

“Assim diz o Senhor DEUS a Jerusalém: A tua origem e o teu nascimento procedem da terra dos cananeus... E, passando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue, e disse-te: Ainda que estejas no teu sangue, vive... E te vesti com roupas bordadas, e te calcei com pele de texugo, e te cingi com linho fino, e te cobri de seda. E te enfeitei com adornos, e te pus braceletes nas mãos e ‘um colar’ ao redor do teu pescoço. E te pus um pendente na testa, e brincos nas orelhas, e uma coroa de glória na cabeça...(Ez 16.3,6,10-12).

Mas cuidado! Não podemos descuidar da leitura. A descrição de Salomão fala de ‘colares’ no plural, enquanto em Ezequiel o Senhor adorna sua noiva apenas de um colar. Havia outros que não eram presentes de seu amado.

“E, mais ainda, mandaram vir alguns homens, de longe, aos quais fora enviado um mensageiro, e eis que vieram. Por amor deles te lavaste, coloriste os teus olhos, e te ornaste de enfeites” (Ez 23.40) – este contexto fala de Aolá e Aolibá, nomes espirituais de Samaria (capital do norte, Israel) e Jerusalém (capital do sul - Judá) em estado moral e espiritual decadentes.

No contexto de castigo sobre Israel, mais especificamente Jerusalém, sob o cerco final de Babilônia, Jeremias também profetiza.

“Agora, pois, que farás, ó assolada? Ainda que te vistas de carmesim, ainda que te adornes com enfeites de ouro, ainda que te pintes em volta dos teus olhos [à la Jezabel], debalde te farias bela; os amantes te desprezam, e procuram tirar-te a vida’ (Jr 4.30).

E não se espante – a Israel de hoje ainda se enfeita na busca de amores com outras nações. Acabamos de ver em Setembro de 2020 sua terceira e quarta transgressões, cometidas ao mesmo dia, propondo núpcias com os Emirados Árabes e Bahrein (leia no link https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54162987) – cumprindo o segundo capítulo profético de Amós.

Não se iluda – o desprezo das nações ainda será plenamente demonstrado a esta velha prostituta.

Vamos examinar somente mais uma descrição, pois são muitíssimas, que basta para mostrar o verdadeiro estado a que chegou esta noiva agraciada diretamente por Deus.

“Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa” (2.14).

O que aquela graciosa pomba faria pelas fendas das penhas?!

“Porventura não sois filhos da transgressão, descendência da falsidade, que vos inflamais com os deuses debaixo de toda a árvore verde, e sacrificais os filhos nos ribeiros, nas fendas dos penhascos?” (Is 57.4-5).

“E entrarão nas fendas das rochas, e nas cavernas das penhas, por causa do terror do Senhor, e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para abalar terrivelmente a terra” (Is 2.21).

Estas passagens e tantas outras por este belo livro falam muito mais do que aparece pela superfície. De forma poética, pois o Noivo realmente ama e deseja sua noiva, Ele anuncia – em um jogo de palavras sutis – a deplorável situação da amada de sua alma.

Seus dotes recebidos das mãos misericordiosas de seu Amado foram desprezados para se adequarem ao mundo que a cercava.

Como o colar de santidade não podia atrair outros amantes, enfeitou-se com tantos outros – mais agradáveis e menos penosos – que só a deturparam e corromperam.

A pomba se extraviou pelo caminho das penhas. A amiga traiu-Lhe a confiança. A amada se deitou com estranhos. A esposa se prostituiu. Seus jardins, encheu de pragas. A pureza descambou em podridão.

No entanto, o encanto foi perdido pela noiva – jamais pelo Noivo.