O aleijado agraciado - 2Sm4

Davi, após devidamente entronizado e com uma administração relativamente segura sobre Israel, preocupa-se com o destino da família de Jônatas, seu amigo mais precioso.

“Há ainda alguém que tenha ficado da casa de Saul, para que lhe faça benevolência por amor de Jônatas?” (9.1).

A resposta de Ziba, servo na casa de Saul, indica com certo desprezo que ainda havia alguém, e ele faz questão de frisar sua condição física.

“Ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés” (9.3).

Ele tentou influenciar negativamente com uma observação maldosa, pois não conhecia o coração complacente de Davi, sempre pronto a demonstrar benevolência. E é aqui que recomeçamos nossa tipologia a respeito de Davi e Israel. Este povo também era coxo à sua maneira.

“Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (1 Re 18.21).

O silêncio do povo de Israel diante daquele desafio atrevido de Elias a Acabe e seus 850 profetas do engano, demonstra bem sua incapacidade em se erguer com firmeza e clamar juntamente com o profeta o nome de seu Senhor.

“Por isso o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a equidade não pode entrar” (Is 59.14).

O significado de Mefibosete – ‘da boca da vergonha’ – também encontra eco em seu povo.

“Para que te lembres disso, e te envergonhes, e nunca mais abras a tua boca, por causa da tua vergonha, quando eu te expiar de tudo quanto fizeste, diz o Senhor DEUS” (Ez 16.63).

Mas como garante o Senhor pela boca de Paulo – “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20).

Do seu estado aviltante, o rei humano providenciará terra e comunhão íntima em quem encontramos reflexo no rei divino.

“Então chamou Davi a Ziba, moço de Saul, e disse-lhe: Tudo o que pertencia a Saul, e a toda a sua casa, tenho dado ao filho de teu senhor. Trabalhar-lhe-ás, pois, a terra, tu e teus filhos, e teus servos, e recolherás os frutos, para que o filho de teu senhor tenha pão para comer; mas Mefibosete, filho de teu senhor, sempre comerá pão à minha mesa” (9.9-10).

Pelo comparativo da sombra, Israel também herdará toda sua terra no momento oportuno bem como comunhão íntima com Cristo.

“Eis que EU os congregarei de todas as terras, para onde os tenho lançado na minha ira, e no meu furor, e na minha grande indignação; e os tornarei a trazer a este lugar, e farei que habitem nele seguramente. E eles serão o meu povo, e eu lhes serei o seu Deus... E alegrar-me-ei deles, fazendo-lhes bem; e plantá-los-ei nesta terra firmemente, com todo o meu coração e com toda a minha alma” (Jr 32.37-41).

Salmo 23, usado alegoricamente para a Igreja de Cristo e refrigério de seus filhos, fala excelentemente para Israel em seu descanso futuro e comunhão íntima com seu Deus no milênio.

“Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias” (Sl 23.5-6).

O destino eterno de reinado de Davi é o mesmo destino de seus súditos. Mas como vamos frisar outras vezes, não antes que os inimigos de Israel forem subjugados.

“O Senhor sairá como poderoso, como homem de guerra despertará o zelo; clamará, e fará grande ruído, e prevalecerá contra seus inimigos. Por muito tempo me calei [nestes 2000 anos]; estive em silêncio, e me contive; mas agora darei gritos como a que está de parto, e a todos os assolarei e juntamente devorarei” (Is 42.13-14).

Assim como Israel será trazido de volta ao convívio pacífico com seu Deus somente após a destruição de seus inimigos no período tribulacional já às portas, Davi também só pôde estender sua misericórdia ao pobre coxo (cap. 9 de Segundo Samuel), depois de subjugado seus inimigos como indica o capítulo 8 anterior.

Israel está em sua terra agora, enganosamente seguro, mas sem o seu Deus. Novamente o Senhor os espalhará pelas mãos do falso Messias. Serão perseguidos e massacrados. Mas seus inimigos também serão julgados, então a luz de Israel voltará a brilhar sobre o mundo como profetiza Isaías.

“Faço chegar a minha justiça, e não estará ao longe, e a minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião a salvação, e em Israel a minha glória” (Is 46.13).

“Volta, ó Senhor, para os muitos milhares de Israel” (Nm 10.36).