Não vão sem mim

-Não vão sem mim.

“Não vão sem mim”, dizia ele. E repetia: “Não vão sem mim…”

Nenhum deles planejava ir sem ele, nenhum deles sequer imaginava a possibilidade de deixá-lo ali, sozinho; mas ele ainda assim dizia, e repetia:

-Não vão sem mim…

E eles ouviam, indiferentemente; pensando que aquelas palavras eram insignificantes dado os fatos presentes no momento.

NENHUM - DELES - IRIA - SAIR - SEM ELE. E esses eram os fatos.

Mas ele parecia não se realizar disso, parecia viver em insegurança; pensando constantemente que iriam sair sem ele, e repetindo

-Não vão sem mim…

Um dia, ele não aguentou a pressão em que se colocou (sozinho, por continuar se colocando naquela posição) e chorou. Chorou, chorou como se não houvesse quantidade de lágrimas capaz de acabar com o choro. Chorou como se o amanhã não existisse, e como se ele fosse chorar para todo o sempre. Chorou, sem esperanças de, um dia, parar de chorar.

Até que parou - como todo o choro, este teve o seu fim, também. E, ao parar, se culpou - se culpou de acreditar, anteriormente, que seu choro ia ser eterno; se culpou de estar errado sobre isso e se culpou de que aquele choro se tornou mais triste apenas pela sua crença na infinitez dele. E, se culpando, chorou novamente.

Desta vez um choro às cegas - aquela espécie de choro que não sabemos bem porque choramos -; derramando apenas algumas poucas lágrimas. Seu choro foi interrompido pela visão de seus amigos, à sua frente, o esperando para partir…

Ele se lembrou deles, e se lembrou do que falava anteriormente. E se lembrou de dizer:

-Não vão sem mim…

E foi aí que eles foram, sem ele junto. Foi aí que seus amigos tomaram seus próprios caminhos, e ele, coitado, continuou chorando; aos prantos, sempre lamentando-se sobre aquele dia. E foi aí que ele desistiu de chorar, e decidiu tomar seu próprio caminho na vida: seja ele um caminho cheio de vitórias ou cheio de derrotas.

E foi aí que ele resolveu decidir se o que seus amigos tinham feito com ele era uma injustiça ou algo digno de compreensão. E esta decisão iria mudar o rumo da vida dele; seja prum lado ou pro outro.

O que ele não sabia era que: seus amigos não o tinham abandonado por ele ser a pessoa que ele era; seus amigos não o tinham abandonado pois tinham vindo planejando isto há tempo. Seus amigos o tinham abandonado pois ele não parava de falar aquela única frase, que com o tempo acabou esgotando a paciência de seus amigos:

“Não vão sem mim…”