Desabafo

Às vezes, uma verdade está tão estupidamente colocada diante de nosso nariz que teimamos em não enxergar. Toda verdade dói. Um belo dia, alguém, numa estranha terapia constelar, chega diante de nosso sofrimento e diz todas as verdades incontestes que estiveram sempre ali, ao lado, mas a cegueira momentânea do achar-se sofrendo não deixou que fossem vistas. A manobra do querer não desacreditar no que achou que se tivesse vivido manipulou todo tempo uma tendência para não querer aceitar.

Pois é, chorar nunca será suficiente para fazer curar a dor. Todo o tempo eu soube que amar é dedicar-se, é uma lição de enfrentamentos, de coragem. Coragem de enfrentar, coragem de resignar-se, coragem de cuidar. Coragem de sofrer. Coragem de ver-se perseguido. Já o próprio amar é coragem. Amar é ação.

Sempre soube que, longe de quem amamos, a vida não nos reserva a menor graça e para que então viver? Melhor seria morrer pelo amor que ceifar a vida aos poucos pela solidão ou pela dor da separação. Viver assim seria loucura, uma forma insana de acabar também, aos poucos, com a própria vida. Não existem boas intenções no inferno. Ou, se preferirem, o inferno está repleto de más intenções disfarçadas em boas.

Por algum tempo, acreditei na influência negativa de amigos. Mas qual o quê? Alguém influencia negativamente um coração que está positivamente preenchido por uma pessoa? Claro que não. Ledo engano. Cegueira pura. Dificuldade em aceitar as ordens do fato.

Raiva? Não, nunca. Pena pela dificuldade com que as verdades tiveram de se arrastar para que fossem vistas. Pena pelo tempo que se perdeu. Pena pelas lágrimas, pelo desconsolo...Vazio deixado pela bárbara mentira; vazio por minha inocência e retidão de sentimentos. Raiva jamais, seria nutrir e cultivar erva daninha num jardim bem verde e, de sentimentos e ações negativas, o meu passado está repleto.

Alguns acreditam que um dia haverá a tentativa de aproximação, de retorno. Aproximar o que de quem? Retorno de quê? As mentiras, quando aparecem em verdades que machucam tanto, deixam de existir completamente. Não haverá encontros, não haverá um segundo tempo para as despedidas que não existiram, simplesmente porque nunca nada foi verdade, nunca, nada existiu.

Sol Galeano
Enviado por Sol Galeano em 20/08/2013
Reeditado em 20/08/2013
Código do texto: T4444062
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