CARINHO ALHEIO

Quantas vezes vemos alguém estranho aos prantos e socorremos com uma palavra de conforto? Quantas vezes nos incomodamos ao nos depararmos com soluços? Marta Medeiros, em uma de suas crônicas apresenta-nos essa compaixão pelo alheio, mais exatamente por uma motorista em lágrimas, ao seu lado, no trânsito caótico de uma grande cidade.

Aconteceu comigo, mas eu que estava aos prantos. Durante internação de minha irmã para tratamento de um linfoma que a levou em um ano de sofrimento, me vi descendo uma rua de Belo Horizonte, após não poder doar meu sangue para que ela realizasse suas frequentes transfusões. Não pude doar, pois, devido à ansiedade, cansaço e estresse provocados pela ocasião, minha pressão foi às alturas. Assim, descendo aquela ladeira, voltando arrasada para o hospital para continuar a acompanhá-la, não consegui conter as lágrimas. Desespero, derrota, frustração se misturavam à tristeza, por não poder ajudá-la com o que de tanto precisava.

Eu chorava, chorava compulsivamente, e pessoas passavam por mim. Olhavam, abaixavam a cabeça e seguiam em frente. Foi então que uma senhora, simples, olhar terno, parou, voltou-se a mim e me perguntou se podia ajudar. Relatei-lhe, então, meu drama, aos soluços. Ela me tocou no ombro e disse com meiguice palavras doces que fizeram minha alma ficar um pouco mais leve.

Eu não queria, nem podia, voltar ao hospital naquele estado e Deus me enviou um anjo para secar minhas lágrimas e dar a leveza necessária para seguir em frente.

Anjos do cotidiano. Anjos em forma humana. Todos podemos ser. Ver o outro como irmãos e dar-lhes nosso amparo, nosso aconchego, nosso calor.

Com cuidado, tato e serenidade, podemos fazer o bem, nem sabendo para quem. Também não importa! Alguém está sempre precisando disso, da nossa mão amiga em seu ombro para dizer que tudo ficará bem, pelo menos por um tempo.

Sejamos anjos de alguém, pelo menos por um momento na vida!