Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo!
 
Dá licença um dedinho de prosa com vosmicê da chamada terceira, da quarta ou de todas as idades?
 
“A idosidade é inevitável. A velhice é opcional”. – Voafra, aposentada pelo INPS e professora voluntária de adultos, abrindo o ano letivo na comunidade rural de Monte Alegre, no município de Guaratinga (Extremo-Sul da Bahia), em março de 1977.
 
Enquanto se tiver respiração do pulmão e batidas do coração, se tem tudo para continuar na lida, nem que seja apenas orando e emitindo bons pensamentos para as pessoas. É um trabalho como outro qualquer. Talvez só não se deva exagerar como um velho professor de Esperanto que eu conheci, que vivia a dizer, em sala de aula, que pretendia morrer com um pedaço de giz entre os dedos!
 
Viver é conviver. É experienciar, interagir, infiltrar-se, atuar, exercer papéis no espetáculo que é a própria vida em sociedade. E esse espetáculo não para nunca. Ele não pode parar, nem que sua cena final para alguém se desenrole num asilo de idosos, no leito de um hospital ou numa ilha deserta no Mar do Caribe. A verdadeira liberdade e a verdadeira felicidade estão dentro de nós mesmos.
 
Nunca é demais lembrar que muitos aposentados, quando saem da ativa e não iniciam mais nenhuma outra forma de atividade ocupacional, começam a definhar e a contrair várias doenças. Outros, mais espertos, procuram unir o útil ao agradável, e vão procurar atividades ocupacionais, lazer e estudo que estimulem a criatividade e o prazer, sem estafa e sem a obrigação de horários regulares. É o que propõe, inclusive, o livro “O Ócio Criativo” (2001), do sociólogo italiano Domenico Di Masi. Mesmo os trabalhadores da ativa que já conseguem enxergar e praticar o trabalho dessa maneira, geralmente, trabalham mais felizes.
Todo trabalho feito com prazer, tem o seu quê de lazer, ainda que seja o de carpideira ou o de animador de velório. A lazeridade (capacidade de se divertir) não está na labuta em si, mas, sim, na relação do tarefeiro com sua lida, na relação com as metas, no propósito maior além de apenas servir ao patrão.
 
O ideal é ninguém se aposentar ao pé da letra. A ideia é se sair da peleja obrigatória, mas nunca da ativa laborativa, ainda que voluntária. Labuta é labuta. A responsabilidade com seus resultados deve vir mais de dentro de si mesmo do que de cobranças ou pressões dos outros. Precisamos sempre de um patrão. Mas o melhor patrão é a consciência do dever a cumprir. E a melhor remuneração é a satisfação do dever cumprido, principalmente quando o trabalho serve para a melhoria coletiva, de alguma forma.
Quem alega falta de forças, cansaço físico e velhice para não fazer mais nenhuma atividade útil, lembre-se de São João, o do Apocalipse, que, mesmo velhinho, bambo das pernas, já quase sem forças, ficava sem parar dizendo aos que passavam a sua frente: “amai-vos uns aos outros!”, “amai-vos uns aos outros!”
O essencial é tentar manter o cérebro da cabeça sempre ativo e o cérebro emocional, que é o coração, sempre pulsando afetividade. Tudo é questão de habituação. Neurônios e sentimentos preguiçosos e inoperantes só têm um destino: a morte localizada.
Há muito tempo é espalhada a ideia de que, com a idade, os neurônios cerebrais morrem.
Entretanto, segundo pesquisas mais recentes, de cientistas ingleses e alemães, no campo da chamada “neuroplasticidade”, enquanto estiverem ativados e exigidos, os neurônios não morrem e até se fortalecem, mesmo na alta idade, ainda que se concentrem mais nas áreas do cérebro que são mais utilizadas de acordo com as especializações do “coroa”.
Diz-se também que a eventual perda de neurônios com o passar do tempo é suprida pela maior ligação entre os neurônios que vão ficando, e, com isso, nada se nota de muito diferente no processamento do raciocínio e na manifestação dos pensamentos. Isso, certamente, para quem está de bem com a vida em vários níveis, principalmente no nível da própria alma. Estar de bem consigo mesmo é o bem mais valioso para o bem das relações em geral.
 
 
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“Cada idade de vida tem a sua juventude”. – Honoré de Balzac
 
E essa juventude relativa influencia positivamente os corpos físico, emocional e mental.
 
A saúde física está sempre na razão direta das saúdes emocional e mental. O cérebro (centro nervoso de todo o corpo físico) não envelhece, se for mantido e estimulado com atividades intelectivas e afetivas e com alegres exercícios inteligenciais e emocionais.
Exercitar o intelecto e o amor em seus níveis maiores. Eis o segredo da longevidade produtiva e efetivamente feliz, com evidentes repercussões na pele, no tônus muscular e na feição. Assim, não importando a idade mostrada na carteira de identidade, a tendência é os “da terceira idade” sempre se apresentarem mais jovens do que efetivamente são, ao ponto de alguns até correrem o risco de serem barrados pelo motorista do ônibus, se não portarem a carteirinha de passe de idoso. [Acho que o bom é a gente se manter atuante e útil para Deus, sempre, seja pela via da arte, da religião, da ciência, da filosofia, seja pelo amor em Cristo.]
 
Nós vivemos dentro de corpos animaloides. Porém, não somos essencialmente nossos corpos.
Por isso, entre outras, é que perdemos a memória da nossa identidade espiritual, enquanto escondemos a nossa essência sob a grosseira camada corporal-hominal e suas influências no esquecimento multiexistencial de cada um de nós.
A partir de múltiplos fatores, nós alternamos a prevalência da animalidade e da espiritualidade que nos caracterizam, durante toda a vida.
Quanto mais maduros e sábios vamos ficando, principalmente do ponto de vista da emocionalidade, tanto mais espiritualizamos nossas impressões e expressões da vida, até atingirmos o ponto de maturação máxima para morrermos em paz. Atingir esse ponto de morte, ou melhor, começar a atravessar a ponte da morte-nascimento, equivale a já estar no útero da mãe natureza espiritual. É já estar pronto para abandonar a mãe natureza terráquea, por não mais estar envolvido com a predominância da carnalidade e suas ânsias, estresses, materialidades, antialimentos, desalimentos... Finalizou sutilmente sua razão maior de existir neste mundão material. Enfim, é já se estar pronto para morrer aqui e nascer ali adiante, em outras paragens.
[Podemos entender o hífen da expressão “morte-nascimento” como o cordão fluídico (“cordão de prata” ou “fio da vida” bíblicos) que liga o espírito ao corpo e que é partido no momento da chamada “morte”. A própria Bíblia tem várias passagens afirmando que, com a morte, não acaba tudo de nós. O corpo e consequentemente a vida humana, que é a ligação do espírito com o corpo, voltam para o pó, mas o espírito sobrevive, porque tem vida anterior e posterior ao corpo. O espírito ou centelha divina se sustenta por si só, independente da embalagem material, e, depois do corte do cordão de prata, vai para onde só Deus sabe. Bem, mas isso tudo é mais uma questão de interpretação.]
 
Porém... justamente quando estamos prontos para a morte, é que passamos a amar mais a vida. Agora temos tudo para curtir melhor o tempo que nos resta no planeta, já que passamos a ter um espírito mais fortalecido do que antes.
Para quem sabe explorar e tirar proveito dessa crença, convicção ou certeza, a velhice pode ser a melhor fase da vida. É para os que cultivam mais os prazeres espirituais, refinados e sutis, do que os prazeres tipicamente humanos ou animalescos com seus desejos, paixões e vícios. Está-se encarnado, mas não mais escravo da carne. A tendência é uma velhice mais longa e tranquila, ainda que intensa, feliz e dinâmica.
Pode-se ser até moderno e jovem, mas livre da ilusória modernagem estressada e, por isso mesmo, velha e caduca em relação aos verdadeiros conceitos de vivacidade que justifica nossa estada no planeta.
Tomando as palavras de Balzac, podemos dizer também que cada idade de vida tem a sua caducidade. Há crianças e adolescente por aí com ideias antiquadas, enquanto há senhores e senhoras da “melhor idade” com ideias vanguardistas e juvenis. Os preconceitos e as ideais fixas são exemplos clássicos de velhicidade da alma.
Mas, hoje em dia, o grande traço da velhice precoce é o estresse, que afeta a mente e a emoção. E mente e emoção insanas repercutem num corpo insano, especialmente porque envelhecem células e liberam radicais livres, a partir da maior corrosividade promovida pelo cortizol e adrenalina excessivos. Logo, o estresse atinge, direta ou indiretamente, todo o ser. Por isso, desde cedo, o bom é pegar leve, brincar, relaxar, não se avexar demais perante os aborrecimentos e as pressões da vida social. Quando tivermos de pensar, falar ou executar tarefas ou cumprir prazos, que o façamos devagar, uma após outra, sem atropelos, para não pré-envelhecermos os neurônios sem necessidade. A melhor fonte da juventude chama-se cabeça de gelo.
Quanto mais cedo nós cultivarmos a paz e o sossego da mente e do cérebro, mais bem preparados vamos ficando para a grande mudança da vida física para a vida espiritual, não importando a idade do começo nem a idade do fim desse processo preparatório. O próprio começo da espiritualização consciencial não deve depender da idade nem das condições de vida em que cada um se encontra. Pode começar ainda no uso das fraldinhas ou já no uso dos fraldões.
 
 
Enfim, o auge da boa velhice libertadora e rejuvenescedora da alma é quando não há mais a predominância das paixões, explosões emocionais, indecisões, desejos e apego demasiado à matéria, o que é próprio dos cativos nos impulsivismos da imaturidade.
 
Porém, a espiritualização sozinha não garante o desprendimento da carnalidade e da materialidade. O esforço de sublimação constante da alma é que garante a verdadeira elevação e interação com dimensões mais refinadas na cadeia evolutiva dos mundos e dos seres. É necessária, antes de tudo, a melhoria consciente, ética e supra-afetiva dos valores essenciais do espírito, independente da dimensão em que cada um de nós esteja em cada momento da vida. Sim, porque, mesmo quando estamos na quinta dimensão, podemos estar tão ou até mais presos à materialidade planetária do que muitos encarnados, já que levamos para o além-túmulo, também, o “corpo espiritual” (referido na Bíblia), os mesmos padrões de pensamento e de sentimento e suas saudades... suas carências... seus vícios enraizados em zonas profundas do ser.
A melhor forma de se preparar para a velhice é viver o melhor possível o presente, para si e para os outros, não importando a idade e as ideias que se tenha. É capaz de se morrer jovem em plena atuação, com mais de cem anos.
 
"Quero ser melhor, muito melhor do que sou hoje. Não se está morto até morrer. Serei um garoto até a morte." -
B.B. King (1925), músico e guitarrista estadunidense.
 
Eis uns princípios rejuvenescedores, a meu ver, básicos e universais:
 
·        Conhecer-se cada vez mais.
·        Fazer alongamento do corpo e principalmente da alma, sempre.
·        Desintoxicar-se periodicamente.
·        Beber dois litros d’ água por dia.
·        Relaxar a mente e o corpo contra estresses, saudosismos do passado (nostomania) e preocupações com o futuro (futuromania).
·        Alimentar-se principalmente de produtos naturais, com reforço nos alimentos fibrosos, conforme necessidades próprias.
·        Fortalecer-se sem fim, quer pelo corpo, com a vitamina para os ossos, articulações e cérebro, quer pela alma, com a vitamina da alegria, do bom humor e da esperança.
·        Buscar vivenciar em si o que há de melhor em todas aquelas gerações convencionalmente classificadas de baby boomers, x, y, z e as que mais chegarem, quer se esteja na terceira, na quarta ou na quinta idade. Mas, aqui entre nós, essas classificações de gerações e de idades são sutilmente preconceituosas e separatistas. O bom é fixar aquela ideia de Cora Coralina, que, mesmo já bem madura, dizia que trazia consigo “todas as idades do mundo”. De qualquer forma, tomando a classificação convencional de idades, eu considero que se completa o crescimento emocional aos quarenta e nove anos (ou ao fim do sétimo setênio de vida, segundo a filosofia oriental). Aos cinquenta anos, inicia-se a segunda idade e aos setenta e sete, a terceira. Questão meramente didática.
·        Aprender alguma das sete artes, seja na versão erudita, seja na versão popular, e ensiná-la a outros.
·        Crescer cada vez mais, até atingir a altura de uma criança em sua pureza, ainda que se agigantando em maturidade de raciocínio.
 
São algumas fórmulas para se conseguir uma reciclagem repaginante e felicitadora, não importando a idade nem as condições da saúde física. Com isso, vivifica-se mais a alma e afastam-se aqueles dois europeus que adoram maltratar os idosos - um tal de Alzheiner e um tal de Parkinson.
A saúde geriátrica, com a vivência dessas e de outras fórmulas rejuvenescedoras, deve se iniciar o mais cedo possível, antes da chamada “crise da meia idade”, até antes das primeiras manifestações de celulite, de estrias, de rugas, de esclerose... Estamos falando desses sintomas, porque são os que percebemos ou os que os outros percebem. Mas não podemos descuidar dos exames laboratoriais periódicos, cujos resultados são o espelho dos nossos órgãos, além dos exames clínicos preventivos anuais ou semestrais. No mais, é entregar a vida para Deus e sempre chutar a crise da velhice para bem adiante no tempo.
 
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Nascendo do lado de cá, já devemos começar a nos preparar para voltar para o outro lado. Deveríamos nos educar mais para viver melhor a vida, inclusive na idosidade, e também nos educar para a morte. Porque isto aqui, por mais que se viva intensivamente ou extensivamente, é só uma passagem.
 
Decriptar-se desde a mocidade,
para não se decreptar na idosidade. Eis tudo.
 
A espiritualidade, quando bem desperta, influencia na refinação, sofisticação e sublimação dos próprios instintos da parte física de nós, sem que deixemos de sentir nossos prazeres e nossas alegrias. Os instintos, quando bem educados ou já sublimados, em resposta, ajudam-nos a expandir ou a “expulsar” os sentimentos, pensamentos, palavras e ações mais próximas e mais próprias da nossa parte espiritual.
É nisso que reside o segredo da longevidade de muitos anciães duros na queda. Ao se enfraquecerem os instintos da carne, conseguem fortalecer o próprio corpo, com o fortalecimento do espírito. O espírito forte não fortalece, mas fortifica o corpo. E o corpo fortificado, mesmo frágil ou miudinho, mas não fraco, fortalece e alonga a alma.
 
{“Aprendi com esta colega que o que mais vale é a atitude e a altitude da alma, mesmo em um minicorpo que nem o dela”. – Trincaferro, diretor do Gran Circo Chão de Estrelas, durante agradecimento em público a Ninica, antiga palhaça e anã de 84cm, que estava encerrando a carreira, após sua última apresentação, na cidade de Tabocas do Brejo Velho (oeste da Bahia), no Natal de 1969.}
 
Certas fragilidades ou doenças físicas até servem para a manifestação dos chamados “dons espirituais”. Geralmente contribuem para a manifestação de poderes mais ligados à melhoria profunda de si e dos outros. Lembremo-nos de Coríntios II, 12:8-9: estando sofrendo continuados problemas físicos, Paulo de Tarso pediu ao Cristo, por três vezes, que o livrasse deles, e eis enfim a resposta que ele ouviu: “Minha graça basta para você, porque meu poder faz-se perfeito na fraqueza”. Com essas palavras, o Apóstolo dos Gentios curou-se em alma, porque passou a exercer sua missão com mais alegria. É o que está lá nas Escrituras. Com certeza, a partir daí, seu mal físico passou a não incomodá-lo mais como antes.
 
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A influência da mente positiva sobre o corpo, e vice-versa, costuma alongar a velhice, com saúde e sabedoria. É como disse o escritor espiritual Emmanuel: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
 
Quando finalmente chega a hora da Grande Viagem, a morte física é vista não como o final de uma doença. Ela é vista apenas como o fim da necessidade de se estar na Terra em matéria.
Entretanto, para que o parto da mãe natureza espiritual (a morte-nascimento) seja sem traumas físicos, mentais ou emocionais e na hora certa, precisa ser sempre espontâneo, pelo menos no que depender daquele que ainda estica sua vida no aquém-túmulo.
Largar-se, descuidar-se, deprimir-se é suicidar-se. O certo é deixar se esgotar, por si só, o último Coulomb da energia vital terráquea, mesmo que a hora do trabalho de parto surpreenda o nascituro em pleno trabalho produtivo, mental, físico ou espiritual. E este trabalho pode ser, inclusive, o de tentar proteger a própria vida física ou de tentar sarar de eventual doença teoricamente mortífera ou conceitualmente incurável.
Nós temos nossas expectativas de tempo, mas Deus tem o tempo Dele. E só Dele deve partir a iniciativa de dar o corte com a tesoura libertadora. O importante é, enquanto se estiver na carne, se sentir no lucro e aproveitar para valorizar essa oportunidade a cada segundo, trabalhando de alguma forma, mesmo que eventualmente esteja sofrendo algum processo externo e involuntário de distanásia, ortotanásia ou mesmo de cacotanásia indireta.
 
 Eutanásia: Retirada de aparelhos mantenedores da vida física, para morte imediata.
Eutanásia Indireta: Retirada dos aparelhos da fé, do amor e da esperança na vida eterna. Equivale a um suicídio indireto.
Distanásia: Esticamento forçado da vida, através de meios mecânicos e/ou químicos.
Ortotanásia: Retirada de aparelhos mantenedores da vida física, mas com a ingestão de analgésicos.
Cacotanásia: Morte com dor, do tipo que sofre o chamado golpe de misericórdia.
Cacotanásia indireta: Abandono privacional por parte de parentes ou amigos, com riscos de o desprotegido morrer à míngua, mesmo dentro da própria casa.
 
Como ninguém sabe exatamente o momento exato do transpasse, tem que se tentar proteger e tentar suavizar, racionalmente, as condições da vida no plano físico, sempre, até quando o espírito seguir sua viagem para o “andar de cima”.
Temos notícia, inclusive, de que muitos seres humanos que se mantêm sintonizados com os valores do espírito e do trabalho no campo do amor crístico, quando têm de voltar para o “mundo dos santos de Deus” vitimados por acidentes, crimes ou catástrofes, são “desligados” do corpo segundos antes do choque físico. Isso para não traumatizarem o “corpo espiritual” e não perderem muito tempo com recuperações de saúde do lado de lá e para voltarem logo ao serviço, ainda que em outros níveis.
Noticia-se também que um dos fatores que mais costumam dificultar um transpasse tranquilo do viajor é a densa energia produzida pelo desespero, pânico e tristeza de seus íntimos frente à piora da saúde física do seu ente querido. É de se crer nestes dois parágrafos, ou são meras ficções espiritualistas ou espiritistas? Eu creio. É bom termos alguma crença que dê um suporte objetivo a nossas esperanças de vida eterna, sejam baseadas em fatos reais, ou não, concorda?
Entretanto, o mais desejável, com ou sem crença seja no que for que aconteça depois, e independentemente mesmo do que venha a acontecer depois, é se morrer em paz, de preferência com um semblante de contentamento, como a dizer aos restantes: “Vivi como bem pude, até indagorinha!”.
 
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Para as pessoas já emocionalmente desprendidas, consciente ou inconscientemente, o ponto-momento exato da “grande passagem” é o meio da ponte morte-nascimento, ou seja, o próprio hífen, curto e tênue. Quando esse hífen (ou cordão umbilical fluídico) se rompe, não há nenhuma agressão. O moribundo-bebê dá o último suspiro com o pulmão corporal e, ao mesmo tempo, dá o primeiro suspiro com o pulmão espiritual. É o “sopro da vida” ao contrário. É quando expirar e inspirar ocorrem igualmente, mas em conexões espaço-tempo diferentes!
E a vida continua, agora com muito mais chances de rejuvenescimento, principalmente para quem não mais se engana com aquela ideia batida e caduca de que “morreu, acabou”. Pelo contrário, morreu, começou, ou, no mínimo, continuou.
A morte da qual devemos mais ter medo é a morte da frieza de sentimentos, principalmente o egoísmo. Este pode não impedir de respirar atmosfera, mas impede de respirar amor, e o amor é oxigênio da alma.
Quando exagerado e continuado, o egoísmo pode embrutecer e asfixiar a alma. O egoísta pode virar um morto-vivo, entupido de toxinas de sentimentos reprimidos, ainda que sob uma feição corporal suave e agradável aos olhos da carne, isso numa primeira “zoiada”. Enfim, os egoístas são as pessoas que mais precisam de ajuda neste mundo, principalmente porque não amam nem a si mesmos.
 
A prática do amor, além de contribuir para sarar de doenças físicas ou mentais, ginasticiza a alma, podendo, com o tempo, transformar pessoas, mesmo aparentemente frágeis ou muito idosas, em atletas internos, com um corpo anímico sarado e energicamente “musculoso”. O amor é um músculo, que para se fortalecer, precisa da maromba que é o próprio amar. E quanto mais tempo se passa nessa física, tanto mais forte e belo se vai ficando, mesmo quem já tem mais de cem anos na atual existência física (considerada a contagem do vão calendário do mundo).
O que me alenta e me alerta a continuar sempre ativo é a minha convicção de que a vida é eterna e cheia de ondas, quer estejamos no corpo, quer estejamos no mundo invisível. Por isso, eu espero não ter muito tempo para os aperreios das minhas inevitáveis velhices mental e física, se estas chegarem, ou quando chegarem.
Mais importante do que a memória cerebral é a memória afetiva. Podemos esquecer de números, de datas e até de nomes. Só não podemos é esquecer de abraçar, de beijar, de orar pelos nossos entes queridos, mesmo que a distância. Só não podemos é esquecer de perfumar as pessoas que se aproximam ou que se distanciam de nós, ou com palavras de “seja bem vindo”, ou com palavras de “Deus lhe acompanhe”, de alguma forma, mesmo em silêncio, mesmo em coma profundo. O bom funcionamento de tudo que existe no céu e na terra depende disso. Eis o que eu mais quero aprender e nunca esquecer, com ou sem alguma doença falaciosamente mortífera ou preconceitualmente tida como incurável, mesmo que o Grande Cronometrista do Universo me permita dobrar a casa dos três dígitos no meu atual corpo físico.
Quem não pode adoecer mesmo é a nossa alma. E a nossa autocura ou vitamina sustentadora principal será sempre a nossa alegria de viver, de preferência com muita gratidão a Deus, a cada segundo.
 
O negócio é correr atrás enquanto se tem vida ativa, ainda que sob eventual carcaça velha e sanguinolenta! Aliás, correr, não. Andar é melhor. Andar atrás de propósitos, de objetivos, de realização de sonhos, de formas de deixar sua marca na calçada da vida terrena, por suas prestações de serviço à coletividade ou mesmo para um alguém em especial. E sem faltar àquelas aulas de dança de salão, àquele campeonato de xadrez, àquela faculdade da terceira idade ou àqueles gostosos passeios matinais em derredor do jardim ou da praça!
 
Fazendo nossa parte, Deus faz a dEle, para que nossa onda evolucional nos recicle sempre em favor de uma juventude pujante e saudável, mesmo com as cãs já bem alvinhas e com a face já cheia de rugas. E a fonte dessa juventude é o amor, a fonte da vida eterna.
 
Enfim, o resumo do recado é este: MAIS VELHO, ATÉ SIM, MAS VELHO, JAMAIS!
E agora vou pegar minha estrada, que ainda está no braço de ida. Inté mais ver!
Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 23/11/2012
Reeditado em 09/12/2012
Código do texto: T4000667
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