O POEMA GANHA SOM E ROUPA NOVA

“ O poema enquanto peça poética:

CORAÇÃO PÁSSARO TRISTE

O canário amanhecido dobra o canto.

Ilumina o dia no nascedouro.

O agudo trinado é um sol lavrado

dentro de mim.

Retinem na saudade quase moribunda

o inconfessável e suas reticências.

O canto é sempre agridoce

ao se falar de ausências.

Pertinem palavras, atos e fatos.

A voz do poema lírico

pervive: é um pássaro triste.

Ainda que o pássaro já se tenha alçado

reluz o recantar das cordas vocais.

O voo da palavra Amor é o sinete

denunciador dos perdidos ais.

E a cruz do canto tatua o coração.”

– Do livro, inédito, BULA DE REMÉDIO, 2005/2009.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/69501

----- Original Message -----

From: Graça Garcia

To: 'Joaquim Moncks - Gmail'

Sent: Sunday, March 14, 2010 5:34 AM

Subject: Remessa de poemas para musicar - escolha de Graça Garcia.

Olha só Joaquim!

Houve uma leve modificação para entrar na métrica da música. A repetição da palavra pássaro seguida, musicalmente não soou bem. Espero que não te importes. Caso não queiras, eu a modifico. Vou gravar a voz essa semana.

Ela ficou magnífica, pois a letra é poesia pura e isso é maravilhoso!

Beijos da Graça.

“O poema enquanto composição para o aporte musical:

CORAÇÃO PÁSSARO TRISTE

Letra: Joaquim Moncks

Música: Graça Garcia

O canário amanhecido dobra o canto.

Ilumina o dia no nascedouro.

O agudo trinado é um sol lavrado,

dentro de mim, dentro de mim.

Retinem na saudade, quase moribunda,

o inconfessável e suas reticências.

O canto é sempre agridoce,

ao se falar de ausências,

ao se falar de ausências.

Pertinem palavras, atos e fatos.

A voz do poema lírico pervive

como um pássaro triste,

ainda que este já se tenha alçado.

Reluz o recantar das cordas vocais.

O voo da palavra amor é um ferrete

denunciador dos perdidos ais.

E a cruz do canto tatua o coração

e a cruz do canto tatua o coração.”.

Amada Graça Garcia, parceira musicista!

Que sirvam minhas primeiras palavras para agradecer o teu intenso labor de mais de dois anos para conseguir “musicar” o meu poema “Coração Pássaro Triste”. Desde logo me apercebi que não seria tarefa tão fácil assim...

Agradeço, também, ao emérito flautista Plauto Cruz, talento amigo a serviço da Música. Será uma glória poder contar com alguns “insights” do Plauto, em seus gloriosos 81 anos, em meus humildes versos...

Tens plena razão! Originalmente, à época da inspiração e primeiras transpirações sobre o poema, era "...o vôo da palavra Amor é um ferrete...". Depois, reexaminando a força da palavra, sua sonoridade rítmica e o fecho eminentemente lírico, preferi a palavra "sinete".

Como tratamos com palavras (ambas) trissilábicas, creio não haver problemas na musicalidade, a não ser a força inerente a toda palavra que contém consoantes duras, como é o caso do "erre", ainda mais quando há a ocorrência de duplo "erre". Preferi a atonia de "sinete".

Ressaltam, nos versos, assonâncias e aliterações.

A consoante "esse" é a espinha dorsal rítmica deste poema. Observa os fonemas. Em algumas o som se acentua: o "esse" é prolongado, sibilante...

Noutros é estanque, porém marca o tempo de musicalidade. Gostaste de minha pretensão?

Peço escusas. Nem me apercebera que era este o poema sobre o qual estavas trabalhando musicalmente.

Aqui topamo-nos de frente com o problema de quando a gente se vê pouco e leva muito tempo da criação poética até a sua consolidação quase definitiva, por força da cítara musical.

Bem, o serviço que é bem feito, meticuloso, sempre leva tempo...

O poema ganhou som e roupa nova... É um novo objeto estético. Espera-se que encante por sua fortaleza canora.

O pássaro-cantor vai continuar levando a poesia ao povo.

Há dois personagens regendo os desejos de ser feliz: o cantor e o compositor...

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/2147882