Retrato

As palavras do mundo já não me ensinam...

A realidade tampouco me aprimora...

Percebo apenas vestígios de vozes aviltantes...

Num dia qualquer do mês da Graça de Deus bebi uma água impregnada de luz...

Nos braços de um rio encontrei um olho dourado de primavera...

Lá uma tristeza andava sozinha...

Parei, observei, esperei um novo tom, mas só a tristeza no mundo eu percebia...

Às margens observei um fendo de girassol na existência de um arco...

Fui a outra margem, lá vi uma formiga com um fardo aparentemente pesado...

Avistei o início de um arco íris com características de realidade, ao lado uma estrada me pedindo pra andar...

Lá fui apresentado a um caranguejo e a uma tartaruga, numa porta que me disse...

Havia também uma porta para o norte, que seria de onde eu vim...

Recebi uma hóstia de luz, um firmamento colorido e uma Lei a cumprir...

Entendo bem o sotaque das águas, aqui melhoro o meu olhar no formato de um peixe...

Na estrada, tenho companhia, uma foice, uma vassoura, um lápis desapontado...

Não temos intenção de conquistar memória perfeita só estamos juntos...

Às vezes imagino que apenas os loucos me interpretam...

Mas minha voz é para o mundo...

Sou hoje nesta estrada um guardador de ideais...

Queria que minha voz tivesse o formato de uma flecha...

Agente descobre que o tamanho das coisas é medido pela intimidade que temos, assim como acontece com a dor...

Vejo em mim hoje um caçador de infância...

Numa madrugada debaixo de um pé de Oiticica, encontrei um baú cheio de lembranças, e uma estrada ao lado me pedindo pra entrar.

Eu não andava por aqui desde pequeno, e sinto que ela bota sentido em mim...

Eu acho que ela manja que eu vim da escola e estou voltando agora para revê-la...

Ela não tem diferença pelo meu passado...

Eu sinto mesmo que ela me reconhece agora tantos anos depois...

Eu sinto que ela melhora de eu ir também sobre o seu corpo; "mas, aqui pra nós!" eu a achei bem acabadinha...

Sobre suas margens raramente alguém passeia quando vem um, ela o segura com carinho, eu sinto mesmo hoje que ela é carente...

Muitos passavam por ela para ir ao rio do outro lado...

Agora eu estou imaginando que a estrada pensa que eu também sou como ela...

Mas eu ensino pra ela como se deve comportar...

Eu falo...

Tudo vai acabar numa boa...

Antônio Ximenes
Enviado por Antônio Ximenes em 12/05/2017
Reeditado em 20/08/2018
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