Sobre morar sozinha

Morar sozinha é viver só.

É não enlouquecer, e ser obrigada a gostar da sua própria companhia.

Morar sozinha é solidão.

É no silêncio de uma madrugada acordada, você escutar o barulho da sua respiração.

É acostumar-se á deixar a roupa na sacada do seu apartamento, e no meio de uma tarde quente, cair o mundo em água, e você não ter para quem ligar e pedir que recolha as roupas de lá em tempo de não molharem.

Morar sozinha é ir ao supermercado sem lista de compras, e esquecer-se dos principais itens. É ter recentemente entrado no banho e perceber que o sabonete acabou. Ou pior, é o chuveiro queimar, e você terminar seu banho gelado.

É você descobrir que não tem coragem para matar uma barata, e gastar o vidro de desodorante inteiro tentando asfixiar ela.

Morar sozinha é não ter veneno para insetos em casa. É ter na geladeira água e ovos. É chorar até soluçar, e ninguém ver.

Morar sozinha é adaptação. Você se descobre a cada dia, e consegue identificar seus medos com clareza. Também vê o quanto se esforça para vencê-los.

Só que você aprende. O tempo vai passando, e você vai aprendendo.

Aprende a ir ao supermercado ao menos com os itens contados nos dedos, para que não seja esquecido de nada. Você também aprende a não fazer compras em exagero, para que nada estrague em sua geladeira.

Aprende a colocar o pão na geladeira, igual via sua avó fazendo para conservar mais.

Aprende a conferir se tem sabonete suficiente para o banho, não se esquece de levar a toalha, mas ainda chama seu Pai para consertar seu chuveiro queimado.

Você aprende a guardar os contatos de maridos de aluguel. Eletricistas. Enganadores e domésticas.

Aprende a fechar a casa ao anoitecer, para evitar insetos indesejados.

Começa a dar um valor inestimável para uma companhia nos almoços de fim de semana. É porque ninguém cozinha para si mesmo comer sozinho.

Coisa mais triste e deprimente é você cozinhar uma xícara de chá de arroz, e ainda sobrar um resto na panela.

As tardes de domingos são ainda piores, é lamentável, mas eu preciso lhe afirmar isto. É onde você sente um enorme vazio, pois você sabe que todo mundo esta com sua família OU com seu namorado, e você esta na sua casa, com a sua TV, olhando sua série ou programa preferido, no seu sofá, sozinha.

Na primeira consulta com minha psicóloga ela me questionou: - Você sabe que existe o ônus e o bônus de morar sozinha não é?

O bônus de morar sozinha é fazer tudo da sua maneira. É deixar um copo no canto do sofá e por dias ele permanecerá ali, se você não tirar.

É você lavar a louça quando tiver vontade. É você arrumar a cama se quiser.

É você organizar sua casa se achar que tem necessidade, e ainda melhor: comer o que quiser, na hora que quiser.

Já o ônus de morar sozinha, é você chegar em casa, e nunca ter alguém á sua espera, cheirinho de um bom café OU aquele cheiro de comida no ar, isso você nunca terá. Uma companhia, também você não terá.

Mas sou daquelas que antes viver só, do que ao lado de alguém que faça você se sentir só, mesmo diante da companhia.

É! Aquele tipo de alguém que ao deitar com você na mesma cama, dá as costas e nem te deseja um ‘boa noite’, não te abraça, não te esquenta. Não te toca. Aquela presença que você já sabe que não é mais tão necessária.

Prefiro sim ter a cama toda só pra mim, prefiro passar frio sozinha, e também prefiro saber que não terei um ‘boa noite’ de ninguém.

Prefiro ligar para o sindico e pedir ajuda com o bicho nojento que entrou no banheiro às 4 da manhã, assim como prefiro pagar o eletricista para consertar o fio da tomada que arrebentei.

Uns podem achar egoísmo, outros não me entenderão, mas eu prefiro chamar de prioridades.

Hoje eu tenho as minhas, entenda você ou não. Agora, quer um conselho?

Mesmo que as tardes de domingo são as piores horas para passar, experimente morar sozinha.

Um grande beijo no coração.

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