Obrigado, Vô

Eu só conheci um Evi em toda a minha vida.

Ainda que se chamasse Paulo, ou Isaque, ele seria único em todo o mundo.

Dele, herdei os olhos e, talvez, a paciência.

Queria eu ter herdado também sua amabilidade e capacidade de manter o bom humor, sempre perceptível a qualquer um que o encontrasse.

Ao contrário dele, a cada ano que passa, sinto que caminho para me tornar um velho ranzinza e cheio de certezas, como são a maioria dos velhos.

Seu Evi não era como a maioria. Ele era o exemplo, que a gente admira, mas sabe que não é capaz de espelhar.

Quando eu era criança, me ensinou ofensas fofas, como "zé sabão" e "tatu jereba". Isso nem ofendia ninguém.

Se precisasse brigar, ele fechava a cara e falava sério, nitidamente constrangido por ter que fazê-lo.

Quando acaba o sermão, ele abria um sorriso e oferecia um abraço que era sempre irrecusável.

Eu nunca lhe disse que o amava, que ele era esse exemplo de ser humano para mim. Tampouco ouvi de sua boca algo parecido.

Creio não ter sido necessário.

De Seu Evi, também herdei a inata habilidade de ler o que dizem os olhos.

Dougg Ribeiro
Enviado por Dougg Ribeiro em 16/04/2024
Código do texto: T8043251
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