Meu batismo erege

Cresci num quintal no contato com a terra e os insetos, brincando e sendo eu sem precedentes. Além de mim só havia eu, depois de mim havia eu de novo. Nunca quis companhia nenhuma, não preciso de âncoras, se as mesmas só me servem para me afundar. Cantos, danças, ritos de passagens e comemorações, vivendo a minha vida sem preocupação com o divino e de seus castigos miseráveis. Correndo muito fui devorando o conhecimento que a mim era dado e vou com tudo querendo mais e mais. Sedento, surdo, mas cego nunca! Meninas, meninos, sempre fui os dois, eu vivi os dois, brinco com os dois e vejo que os dois lados são frustações diferentes e qualidades diferentes. Fico aqui agora pensando, onde será a minha próxima morada? Quais irmãos meus irão morrer primeiro? Quando é que a vida irá me trair? Não sei, mas até lá, vou devorando com a minha insaciável fome e sangrando das feridas que em mim abrem a cada luta, cada dia e a cada momento de tempo e caminhada.

Ágatha Ternurie
Enviado por Ágatha Ternurie em 29/01/2024
Código do texto: T7987358
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