Os canhões de Belo Monte (guerra de canudos)

Do nada surgiu o poder

armado sem compaixão

de um lado soldados nutridos

do outro jagunços sem pão

porque tudo começou

devido a construção

a igreja sem terminar

dinheiro pago na mão

então vamos nós lá buscar

trazer no braço ou na mão

ouviu-se então ameaça

já vem com bala e facão

mande soldado pra cá

pra ser nossa proteção

jagunços vindo de lá

isso já é invasão

como ninguém chegou

vamos então avançar

chegando lá primeiro

a gente começa atirar

poucos soldado sem plano

sem lider para comandar

caiu um a um na trincheira

Euclides há registrar

o alarme foi dado sem dó

vamos nos organizar

fazer um novo ataque

e eles exterminar

segunda chegada na fronte

também sem direção

morreu cada soldado

na bala e no facão

terceira chegada na fronte

mais gente a se armar

achavam que iam vencer

cabeças expostas no ar

cabeças cortadas expostas

balançando naquele lugar

trilhas com corpos mutilados

soldados querendo voltar

quarta expedição na fronte

soldado de todo lugar

Moreira Cezar na frente

a bala certeira a matar

Artur Oscar tremeu

não tinha como lutar

preparem canhões potentes

a gente vai massacrar

canhões soltando fogo

cortando todo lugar

casebres vindo abaixo

sem reza para salvar

o cerco estava fechado

não tinha como escapara

crianças, mulheres, idosos

norreram no mesmo lugar

cabeças foram cortadas

sem olho naquele olhar

sem piedade eterna

joelho a se dobrar

nada ficou no lugar

Euclides foi registrar

Sertões registrado em livro

lágrimas a derramar

a morte chegou devorando

a tumba a esperar

de boca aberta pro céu

o corpo ali a jantar

o lider partiu sem lutar

morreu sem começar

não viu o tiro de canhão

matando o seu comungar

sem ter o que dizer

nem como justificar

a água cobriu Belo Monte

sem prova para deixar

Vaza Barris está hoje

na história daquele lugar

servindo a tantos turistas

que vão ali se banhar

debaixo das água do açude

uma guerra sem explicar

porque tanta gente morreu?

sem culpa para pagar

a dor venceu a história

sem ninguém para pagar

o povo morrendo de fome

a fome mata sem parar

um vulto ali permanece

erguido sem respirar

estátua serve de enfeite

daquele a libertar

viva canudos no sertão

viva conselheiro a falar

viva Belo monte no mapa

Euclides da cunha a chorar