VAGABUNDAGEM

Sigo as latas e os tocos de cigarro

a calça rasgada denuncia o esqueleto

gato de rua conheço a escalada e o tombo

se vier no passo errado vou na boa

como bombons recheados de sangue

e ensino o malandro a cobrir o rosto

de cão, chegada a manhã

Não me aconchego por amor nem por dinheiro

bagagem nas costas amigo da ladeira

quero a estrada incerta

livre de patrão e casamento

viciado na vagabundagem

vocifero gemuras, a mulher chama

como o navio que zarpa

abaixo o que é moral, o tempo

é o senhor das conveniências

mas apenas o místico enxerga

na cicatriz o mapa

Da minha parte, os passos

gravados na solidão das ruas

dissolvo no esquecimento,

todo caminho é de adeus

- deixarei como herança

cartas mal-escritas

e as sandálias do desleixo,

e a saudade do nunca

ter sabido de você