Meus passos vagarosos

Vagarosos são os passos

Já fumei mais de dois maços
Envenenando todo o meu ser
Até a alma, não quero crer.

Não creio
Abomino
Que encontrei o
Meu destino.

O meu destino
Eu mesmo invento
Desatino
Acrescento:

Nada vai mudar
As leis do Talião
Eu vou ter que cegar
A sua visão.

Olho por olho
Dente por dente
Eu que escolho
Meu oponente.

Não adianta rezar
Somos humanos
Vício não vai cessar
Daqui cem anos.

Ouço de longe a voz
Vem de Hiroshima
Dizendo a todos nós
“Quebrou o clima”

Bomba atômica
Mata menos
Que frase irônica
São Nicodemos.

Eu to vivo, porra!
Ainda degluto
Sai, não me socorra
Que eu fico puto.

Deixe-me ficar
Vivo por dentro
Não tente me internar
No hospício do centro.

Morto por fora
É só um detalhe
Vai-te embora
Não me atrapalhe.

Os porcos
Comem bosta
Efeitos inócuos
Da sua proposta.

Seu gosto
Não discuto
Não olhe meu rosto
Nem um minuto.

Deixe-me aqui
Vagando a esmo
Ninguém eu vou ferir
A não ser a mim mesmo.

Se assusta se eu respiro
Ou se digo um simples “atim”
Mas não vou dar nem um tiro
A não ser se for em mim.

Eu to vivo, porra!
Ainda degluto
Sai, não me socorra
Que eu fico puto.

Marcelo Garbine (Mingau Ácido) – @mingauacido – mingauacido.com.br

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