Até a próxima, Renata...
Não havia vento nem mar
Pra ela mergulhar
Menina olhava ao redor
Estava pior.
O cheiro era forte, de mangue
Sem coisas mais belas
Renata olhava o sangue
Em suas canelas.
Por que você foi se cortar?
Santa inquisição
As esferas do seu colar
Rolando no chão.
Fechada em si, se recata
São cortes vermelhos
E, mesmo morrendo, Renata
Poupou seus cabelos.
Não queria se perdoar
Em seus devaneios
Vida pra finalizar
Sem mais rodeios.
Apêndice, palavra errata
Final compulsório
Deixada, foi ela, Renata
No crematório.
E Renata queima... queima
Pra que tanta teima... teima
Antecipada sem medo
Ela quis ir mais cedo... cedo.
Até a próxima, adeus
Vai sem cerimônia
Fecha, então, olhos seus
Abertos nas noites de insônia.
Preâmbulo de Alighieri
Não estavam em seus planos
Não há mais oitava série
Nem catorze anos.
Pensou pelo lado positivo
Não queria ela estar
Com dezenas de anos vividos
Pra recordar.
Sofrimento foi extirpado
Sem vinte nem trinta
Ela cortou com machado
Pra que não se sinta.
Dores que não latejaram
Anos não foram vividos
Namorados não a abandonaram
Não houve gemidos.
Hipócritas em salas com cofres:
“Ela era tão jovem”
O que está morto não sofre
Simples assim: dissolvem.
E Renata queima... queima
Pra que tanta teima... teima
Antecipada sem medo
Ela quis ir mais cedo... cedo.
Marcelo Garbine (Mingau Ácido) – @mingauacido – mingauacido.com.br
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