Brigadeiro a flores - Cap. 9: A sirene do inferno

"CHEGAA!!" Erva gritou, ofegante, com a mão ao lado do corpo fechada em um punho, e deu um passo para o centro da roda que se formara no início.

Todos a olharam rapidamente, alguns até sorrindo, como as meninas de sua turma e Mariana. Já sabiam que ela tinha assinado sua desistência de matrícula.

Carlos, Fagundes e Benício se assustaram de tanta surpresa, nunca uma garota havia falado assim com eles.

Bernardo deu um sorrisinho de lado e virou lentamente para encontrar o olhar furioso de Erva para ele.

Após um silêncio mais mortal ainda do que o primeiro com Gabriela, e Bernardo e Erva ficarem se encarando por alguns segundos, a bolsista caiu em si e abaixou a cabeça. O que eu fiz?

"Quer dizer..." Conserte Erva Dana, conserte. "Ela já te pediu desculpas" Disse com a voz um pouco mais baixa e mais fina. "Ela tropeçou no cadarço, foi sem querer. E..." Vai funcionar isso? "... E ela é nova na universidade. Voltou faz poucos dias para o Brasil. Ela não sabe ainda da..." Eu vou dizer isso mesmo? "...da..." Eu preciso. "...da grandiosidade de vocês." Benício a observava e não conseguiu deixar escapar um leve sorriso ao ouvir 'grandiosidade'. "Por favor, a desculpe. Isso não voltará a acontecer." Finalizou fechando os olhos fortemente. Eu fiz merda!

Bernardo apenas soltou "Ahãn" e saiu vagarosamente esbarrando propositalmente em seu ombro, o que fez Erva cambalear um pouco para o lado. Os outros meninos do F4 o seguiram, mas não esbarraram em Erva.

Após eles desaparecerem pelo corredor, todos foram se dispersando, alguns gritando "Já era!", outros "Morreu já!", "Vem tarja!", "Lá se vai mais uma bolsista". Mariana passou perto dela e soltou "Jamais os F4 irão perdoar isso, nojenta". Erva só conseguiu ficar parada ali, olhando para o chão.

Após alguns segundos, ela voltou a si e procurou por Gabriela, que estava pior do que ela. A garota sentou no chão e ficou olhando para o nada. Erva respirou fundo, pegou a bolsinha rosa choque e levantou a amiga. "Vamos, você precisa se arrumar. Vamos sair daqui e conversar".

Erva levou Gabriela para o banheiro, para ela se limpar. Viu se não tinha ninguém no lugar, como estava vazio, começou a lhe contar sobre o F4 e a tarja vermelha, detalhou os episódios que vira nesses três anos e meio que estava ali. Gabriela demonstrou horror e após chorar mais um pouco, respirou fundo para se acalmar.

"Mas você não acha que ele me desculpou? Quer dizer, você disse aquelas coisas e ele fez 'Ahan', não fez?" Gabriela perguntou e Erva balançou a cabeça positivamente. "Isso não quer dizer que ele desculpou? Quer dizer, ele não socou nada nem ninguém".

"Ainda bem! Mas eu não sei. Esse cara é muito temperamental. Só ele bate, só ele faz as coisas. Os outros 3 ficam olhando, ou dando risada ou ficando sério" Disse Erva pensando no Benício que ela nunca sabia se estava feliz ou indiferente aos episódios, pois só ficava quieto. Mas não o perdoava, ele deixava acontecer, então era condizente. "Eu preciso ir!"

Erva correu até o terraço do (ainda continua reformando) prédio de artes e gritou. "SEUS FDP!!! EU ODEIO TODOS VOCÊS!! ELA PEDIU DESCULPAS! ELA NÃO FEZ POR QUERER!! BERNARDO, SEU RIDÍCULO DE CABELO PERMANENTE!!" Respirou fundo! "Eu tenho certeza que ele nem sabe o que é permanente, o cabelereiro deve ter mudado as células da cabeça dele para deixar como um abacaxi!! Em outras pessoas é bonito, nele é tudo ridículo!!" Socou a grade. "Babaca! 'Ahan, ahan'" Imitou uma voz grossa, como se fosse do Bernardo, mas o satirizando. "Tenho certeza que ele não aceitou as desculpas, ele vai fazer algo contra ela, ou... contra mim!" Erva sentou no chão. "Por que eu fui defendê-la? Por que eu sou assim?" Bateu a mão no rosto e ficou olhando para o céu. Lembrou da carinha fofa de Gabriela 'Somos amigas', 'Eu gosto muito mais de você'. E sorrindo. Seu coração se aqueceu! Lembrou também de Bianca, 'Deve ser ruim ter que fingir quem não é'. Erva então se levantou em um pulo do chão. Cheia de energia dentro de si. "Somos amigas!! E mesmo se não fôssemos, já está na hora de ser quem eu sou. Chega de fingir não ver nada!" Respirou fundo e na pose de Mulher-Maravilha sorriu. Mas logo se desmanchou. "Mas e se eu for obrigada a desistir ou ser expulsa e minha família prejudicada?" Erva se lembrou da mãe e do irmão. Pensou na mãe sorrindo. 'Você será uma excelente advogada.' Suspirou e voltou para a pose de Mulher-Maravilha. "Não importa! Eles não irão fazer nada! Aqui ou em qualquer outra universidade, mesmo que leve um pouco mais de tempo, eu serei uma excelente advogada!!" Voltou para a grade. "EU SEREI UMA EXCELENTE ADVOGADA!!!" Gritou para o nada e sorriu.

Erva não reparou, mas ali no terraço havia um F4 que cochilou após o treino de violino, e Erva o acordou com seus berros de 'eu odeio todos vocês!'. Benício assistiu toda a exaltação da garota e ouviu cada palavra que ela disse. Sua reação foi ficar mal-humorado no início por ter sido acordado, mas depois, soltou um sorriso, se divertindo com as poses e caras e bocas dela.

No dia seguinte, Erva chegou na faculdade e suspirou fundo para entrar. Ontem não aconteceu nada depois do almoço. Nem eu, nem a Gabi sofremos violência ou ganhamos a tarja. Será que o F4 desculpou mesmo? Pode ser que haja um coração naqueles monstros de sangue ruim! Sorriu com seus pensamentos. Ela viu a Gabriela perto do armário e acenou, sendo retribuída com um aceno e sorriso. Continuo até seu armário, onde pegaria o livro sobre Direitos Humanos para a primeira aula. Mas Erva não teria uma primeira aula.

"A tarja vermelhaaaaa"

"A tarja vermelhaaaaa"

"A tarja saiu!!!"

Erva olhava fixamente para uma tarja vermelha dentro do seu armário com o logo do F4.

"A tarja vermelha saiu para a Erva Dana do quarto ano de Direito".

Eles não desculparam.

A sirene do inferno tocou.