Capítulo 33 – Escrito nas estrelas


Alguns dias depois...
 
Ander chegou no prédio em que Lana morava no início da noite. Passou pela portaria e um belo buquê de rosas vermelhas e azuis no balcão chamou a sua atenção. O porteiro deu um sorriso de admiração para ele.

- O senhor tem muito bom gosto! – Ander franziu o cenho, sem entender, mas depois resolveu entrar na história. Queria informações.

- Ah, claro! Pedi para entregarem para a Lana, mas já que estou aqui, eu mesmo levo.

- Ela chegou faz pouco tempo.

- Obrigado por informar! - Lana não sabia da visita de Ander. Ele pegou o buquê e seguiu em direção ao elevador. Encontrou um pequeno bilhete colado na embalagem da floricultura.


 

“Querida Lana,
Estou ansioso para te encontrar hoje à noite. Espero que esse buquê lhe traga um sorriso tão belo quanto você.

Lucas de Sá”


 
Ander deu uma risadinha sarcástica ao ler o nome de seu próprio médico. Chegou no andar de Lana e caminhou despreocupadamente até a porta. Apesar de estar com sua chave, encontrou a porta do apartamento aberta. Entrou e viu a TV ligada, porém, não tinha ninguém por ali.

- Ander? – A voz feminina vinha do quarto.

- “Querida Lana. – Ele se encostou na porta, fazendo o coração de Lana disparar. – Estou ansioso para te encontrar hoje à noite. Espero que esse buquê lhe traga um sorriso tão belo quanto você. Assinado: Lucas de Sá.”

Lana tomou o buquê dele com agressividade. De costas para sua visita, cheirou as rosas e sorriu. Depois de conviver com a nova personalidade de Ander, a gentileza de Lucas a fez se emocionar mais que o normal.

- Sério mesmo que você vai ter a coragem de sair com o cara que é meu médico? – Ander sentou na cama. - Esse bilhete brega não te diz nada?

- Sim, vou! Inclusive, ele vem me buscar daqui a pouco. E o bilhete é fofo.

- Você está carente? – Lana voltou para o seu guarda-roupa, ignorando a provocação.

- Não que eu te deva explicações, mas vou sair com ele apenas para conversarmos e tomarmos um bom vinho. – Lana arqueou a sobrancelha. – Dinorá está dormindo. Vai lá acordá-la para brincarem, vai! – Ela fez um gesto com a mão, o expulsando do ambiente.  

Desgostoso, o rapaz foi para a sala e trocou o canal da tv, com raiva do que acontecia naquele apartamento. Olhou para a porta e sua mente trabalhou muito rápido. Precisava impedir aquilo.

“Eu não acredito que vou fazer isso.” – Ele parou em frente a porta e tirou a chave de Lana, a escondendo dentro de seu tênis. “Dane-se.”

Cerca de uma hora depois, sentiu o cheiro do perfume de Lana no ar. Ander inocentemente brincava com Dinorá no tapete da sala, quando a viu parar na sua frente.  

- E como estou?

Ela usava um conjunto de saia lápis na cor azul e uma blusa branca de botões, finalizando com uma sandália preta de salto alto. Os longos cabelos cor de chocolate, totalmente soltos, se destacavam com a maquiagem leve e o brilho dos olhos verdes.

"Bonita e sensual sem fazer esforço algum, do jeito que o diabo gosta." - Pensou Ander, tentando evitar um suspiro apaixonado.

- Está bonita demais para sair com um cara brega. - Respondeu seco e depois mudou o canal da televisão.

- Você é insuportável, sabia? - Exclamou, voltando para o quarto para pegar sua bolsa. Quando não encontrou a chave na bolsa, parou no meio do corredor. – Ué, cadê a minha chave?

- Sei lá. – Lana foi até a porta e se desesperou ao não ver a chave no lugar de sempre. – E olha só, eu nem trouxe a minha.

Ela parou na frente de Ander com os braços cruzados e desconfiada com as coincidências, resolveu sentar ao lado dele. Dinorá pulou para o sofá vazio.

- Você não trouxe a sua chave? – Perguntou, diminuindo o espaço entre eles. Ander respondeu um não com a cabeça. – E como entrou no apartamento sem chave?

- Você deixou a porta aberta.

- Não deixei não.

- Deixou sim!

- Não deixei!

- Você deixou sim. Eu que fico sem memória e você que esquece das coisas?

Os olhos verdes de Lana o intimidaram a ponto de Ander desviar sua visão para Dinorá, mas a gata não o ajudou em nada ao sair da sala.

- Você está mentindo.

- Ficou maluca?

- Não estou maluca! Eu sei muito bem quando você mente! – O silêncio o entregou. – Me dá a minha chave!

- Não estou com a sua chave!

- Ander! – O interfone do apartamento tocou. Lana sabia que era Lucas que tinha chegado. – VAI!

- Não sei do que está falando... – Ele tentou se levantar, mas Lana o impediu, o empurrando contra o chão e o dominando em seguida. – SAI FORA GAROTA!

- ME DÁ A CHAVE! – As mãos dela tateavam seu corpo. – PARA DE RIR, ESTUPIDO! – Ander se desviava dos tapas dela, sem conseguir segurar a vontade de rir. – ANDER! – A cada toque do interfone, a raiva e o desespero aumentavam. – É SÉRIO, ME DÁ A CHAVE!

- NÃO!

Lana resolveu tentar uma nova tática para vencer o homem que amava. Ela deu um beijo em seu pescoço, marcando com batom vermelho e trilhando até seus lábios. Primeiro ele relutou, tentando afastá-la, mas no fim se entregou ao desejo.

- Sai, Lana!

Os dedos de Ander entrando em seus cabelos fizeram com que Lana quase esquecesse o real motivo de tê-lo beijado.

- Ander, não... – Pediu, em meio ao beijo possessivo dele.

O celular da garota de olhos verdes tocava incessantemente.


Lana recebeu um tapa no bumbum que a fez reagir a ele mais do que gostaria de mostrar. Os dois continuavam aos beijos no chão, apaixonados e totalmente presos ao calor do momento. Quando trocaram de posição, o salto de Lana enganchou no cadarço do tênis dele, fazendo com que saísse do pé dele. Os dois pararam e se olharam quando ouviram o barulho de chave caindo.

- NÃO!

Ander não teve tempo de segurar Lana. Mesmo com um salto alto, pegou a chave, seu salto do chão, a bolsa do sofá e correu rapidamente em direção a porta, mas antes, mandou um beijo no ar para ele.

- LANA, VOLTA AQUI!
 
(...)
 
Ao saber que Lana continuava saindo com Lucas, Ander resolveu investir numa nova forma de afastá-los. Era uma sexta-feira de uma noite de céu estrelado e tempo quente. “Ótimo para atrapalhar um encontro” – Pensou, terminando de se arrumar. Segundo as informações de Alexia, os dois iam para um restaurante italiano na região da Zona Sul. Ander obrigou a prima a ligar – de um número falso conseguido através da internet - para o hospital em que Lucas trabalhava. Como um bom médico, não negaria o chamado para ajudar um paciente. O rapaz foi embora pedindo desculpas repetidamente para sua convidada, mas recebeu um compreensivo “tudo bem”, como resposta. E afinal, Lana tinha outra escolha?

- Poxa... – De costas, Lana revirou os olhos ao ouvir a voz de Ander se aproximando. Ele se sentou confortavelmente ao lado dela e apoiou o cotovelo na mesa, encarando seus adoráveis e irritados olhos verdes. – Me parece que seu namorado teve que ir embora. Problemas no reino encantado? – A pergunta cheia de ironia fez Lana dar um sorriso duro ao rapaz.

- O Lucas acabou de receber uma ligação do hospital e você está aqui. Isso é só uma coincidência, certo?

- Será que é? – Ele perguntou no ouvido dela. Graças a toalha da mesa ser um tanto grande, a mão dele livremente passou por sua perna. – Vai dizer que não está feliz em me ver?

- Não estou. – Lana tentou afastá-lo discretamente, para não chamar a atenção dos garçons que passavam equilibrando pratos e copos. – Para com isso.

- Com o que? – Perguntou, com a voz cheia de cinismo ao levantar a saia dela.

- Por que está aqui? E não me dê suas respostas engraçadinhas, por favor! - Lana tentou fechar as pernas, mas recebeu um beliscão. Em seguida, colocou a perna dela por cima da sua. – Para. – Pediu, entredentes. Ander respondeu um não com a cabeça e sorriu diábolico.

Foram suaves toques de vai-e-vem no meio de suas pernas, depois, o dedo indicador passou a tocá-la circularmente. A umidade fez Lana corar, por esse motivo, disfarçadamente começou a olhar o cardápio.

- Relaxa... – Ander avisou quando o garçom vinha na direção deles. – E aí, meu amigo!

- Boa noite! Vi que o senhor chegou faz pouco tempo. Deseja alguma coisa?

Lana lutou para se manter quieta ao sentir dois dedos entrando e saindo dela lentamente. Seu coração batia tão alto que teve medo do garçom ouvir. Ela mordeu o lábio e baixou a cabeça.

- Ah, eu aceito um vinho igual ao dela. – E olhou para Lana. – E você, amor? Quer mais alguma coisa?

Ela se limitou a balançar a cabeça em um “não”. O garçom saiu sem notar o que acontecia debaixo da mesa.

- Sabe, Lana... – Ander deu um beijo na orelha dela, que não conseguia emitir uma palavra. - No pensé que su relación con mi médico me molestaría, pero me molesta. Cómo podemos solucionar esto?

Espantada, Lana arregalou os olhos ao ouvir Ander falar espanhol fluentemente. Sabia que o pai dele era espanhol, mas nunca o ouvira falar.  

- No tenemos nada que resolver. Estás con Gabriela. – Ander arranhou as coxas dela suavemente. Tinha adorado saber que Lana falava espanhol. – Por favor, para com isso, as pessoas vão notar.

- É, você está certa, estou com a Gabriela, mas não consigo me livrar dessa dependência de você.

Foi difícil para Lana pensar numa resposta quando os dedos de Ander aumentaram o ritmo das investidas.

- Você está vermelha. – Ele sussurrou no ouvido de Lana e deu um sorriso canalha.

- Eu... Odeio...

- Odeia...?

Ela tirou a mão de Ander do meio de suas pernas e deu um tapa no ombro dele.

- Odeio você!

O garçom entregou o vinho de Ander e saiu rapidamente.

- Ah, odeia sim.

- Fique com a Gabriela. – Pediu Lana, tentando se recompor.

- Por que está me pedindo isso?

- É o melhor para você.

- Agora você sabe o que é melhor para mim?

- Eu sei que o melhor é a gente se afastar de uma vez. Você não lembra de mim, talvez nunca lembre. Não posso esperar um belo dia você acordar e lembrar de tudo. – Disse, mas sem olhá-lo. Ander segurou o rosto dela, para que o olhasse. – Não faz isso!

- No puedo alejarme de ti.

A garota se perguntou se Ander falando espanhol tão espontaneamente era um indicativo de melhora. Torcia para que sim. Ela baixou a cabeça mais uma vez, os olhos já cheio de lágrimas. Gabriela tinha razão, Lana era egoísta. O próprio Ander já tinha lhe dito isso várias vezes.

Normalmente, suas emoções a fariam continuar com aquilo. Mas dessa vez era diferente, não podia continuar deixando seu coração falar mais alto que sua razão.

-  Necesitarás aprender. – Respondeu, deixando uma nota de R$ 50,00 na mesa. Ela se levantou e saiu, sem olhar para trás.
 
(...)
 

- Eu praticamente me declarei pra você e é isso que você me diz? – Lana escondeu a mão no rosto quando viu Ander entrar no apartamento, afoito. – Qual é o teu problema?

- Por favor, vai embora.

- Não, Lana! – Ander gritou, sentando-se ao lado dela. – Por que você quer que eu fique com a Gabriela?

- Porque é isso que você quer, não? Você foi praticamente embora do apartamento duas vezes e por causa dela. Eu não sei qual é o motivo de você estar assim com o que te pedi.

Ander se ajoelhou na frente dela, apoiando as mãos em seus joelhos. Ela não conseguia olhá-lo nos olhos.

- Você sabe sim. – E segurou o rosto dela, para que o olhasse. – Por favor, Lana. Eu tento fugir do que sinto por você, mas não dá, não consigo. Se estou com a Gabriela, quero estar aqui. E se estou aqui, me desespero, porque não consigo compreender como é possível sentir tanto por alguém que não me lembro.

- Eu não posso, Ander. Não posso mais deixar a emoção te prender a mim. Você nunca mereceu isso, mas precisei te perder para ver o quão longe o meu egoísmo nos fez chegar.

- Você não me perdeu, Lana.

- Perdi. De certa forma, perdi sim. E todo dia eu me arrependo das minhas escolhas do passado. – Ela tentou se levantar, mas Ander a impediu. 

Lana se levantou, rumo ao quarto, deixando Ander sozinho na sala. Ele respirou fundo, tentando segurar a vontade de chorar. Fazia sentido que Lana não quisesse ficar com ele naquela situação.

“Você não passa de um desmemoriado imbecil e idiota, lógico que ela não vai querer ficar contigo.” – Disse a si mesmo, e depois deitou-se no sofá, exausto. Dinorá surgiu na sala, miando para anunciar a sua chegada.

- E o que eu faço com o que sinto por ela, Dinorá? – A gata pulou no colo dele, se ajeitando em suas pernas. – O que eu faço?
 
Era madrugada quando Lana se levantou e foi até a cozinha beber água. Não tinha dormido bem por conta de toda a conversa com Ander. Como ele dormiu na sala, ela saiu na ponta dos pés, para não acordá-lo. Não que tenha adiantado alguma coisa, já que Ander parou atrás dela, tocando sua barriga suavemente. Com a outra mão, tirou o copo dela e colocou em cima da pia.

- Ander, não... – Ele deixou um beijo na bochecha dela e a abraçou, delicadamente. A mão dele subiu pela lateral de seu pescoço, fazendo com que Lana o olhasse. O beijo aconteceu naturalmente, como sempre fora entre eles. Desde a primeira vez que se viram, todo o processo de amor entre eles fora orgânico, necessário e intenso. Era um amor que tinha de acontecer, estava escrito.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 21/02/2021
Reeditado em 20/01/2024
Código do texto: T7189992
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