Se eu não jogar, eu avacalho

Para mim, o melhor momento do Joaquim Jacuba foi quando o vi, impassível, cioso de seu dever, carregar nos braços o assombrado Dinho da Tó, que havia caído do pé de manga pequi, e deitá-lo sobre balcão de seu armazém, à espera do socorro.

O da Tó dera sorte. Despencara duns dez metros de altura, caindo de costas justamente entre dois moirões que se espaçavam em menos de dois metros. E só tivera um braço quebrado. Bem que podia ainda levar uma tunda corretiva do austero pai, o Antõe Baiano, para deixar de ser arteiro. E passar mais dias sem avacalhar as peladas de rua que fazíamos no chão poeirento do nosso Beco-sem-Saída. Só se escalado é que ele deixava de cumprir a ameaça.

Não muito tempo decorrido do acidente, Quim largou armazém singelo, passando tudo a um tal Tide, com suas conchas de zinco com que ensacava os gêneros alimentícios, e o chifre preto e recurvado com que tratava o sal, e partiu para outros feitos maiormente nobres, como o casamento com a cativante morena Adelorme, funcionária do SAPS, que viraria COBAL, e assumir a gerência do posto de gasolina mais central da Velha Serrana.

Teve a felicidade tripla de ver suas graciosas e talentosas meninas nascerem uma atrás da outra tornarem-se mocinhas, e de adquirir a casa própria no Beco dos Canudos, paralelo ao nosso até então Sem-Saída.

E se foi prematuramente o alemoado Quim, filho primogênito do Waldemar da Jacuba, antes de completar cinco décadas de existência. Mas deixou indelével sua marca de cidadão probo, trabalhador e, pro da Tó, herói e salvador.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/01/2017
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