O Dia Em Que Hannah Me Deixou (Me Encontrou)

Cambaleando de sono, Müller começa a perder a concentração na aula do professor de estatística. A matéria se apresenta de forma complicada, não que seja difícil para ele, pois o garoto consegue se dar bem nos cálculos, mas que necessite um pouco mais de dedicação de sua parte, com a mesma intensidade que dividia com Hannah, sua ex-namorada.

A melatonina (substância do sono) começa a se concentrar no corpo do jovem, torna-se impossível se manter acordado na sala. Müller decide se levantar e ir ao banheiro lavar o rosto. Ao ver sua imagem refletida no espelho, enxerga uma pessoa cansada, um rosto fadigado da rotina, suas olheiras parecem transmitir um olhar profundo, um olhar que não carrega nenhum sentimento ou emoção. Müller transmite um olhar que já não mais se compõe do brilho refletido dos olhos de Hannah.

"Por que me deixaste aqui sozinho, Hannah?". O jovem pensa consigo mesmo. Desde que Hannah o deixou, ele não consegue mais se dedicar totalmente a faculdade, sua atenção sempre é interrompida por lembranças de seu namoro, ainda não conseguiu superar a ausência de sua amada.

Seria menos doloroso se ela o deixasse de uma forma mais fria, que terminasse o relacionamento por algum motivo de insatisfação, algo que a deixasse chateada ou descontente, atitudes oriundas de Müller que a desgastasse. Mas não. Hannah o deixou de uma forma muito mais trágica, de forma mais dolosa, a ponto de fazer com que Müller se sentisse mais culpado que o sentiria se ela rompesse por conta de seu comportamento.

O garoto interrompe seus devaneios e limpa as lágrimas que se formam em seus olhos. Em seguida, parte em direção a sala, aproveita o bebedouro no corredor e ingere um pouco de água para reanimar suas células a trabalharem. Esta noite, Müller tenta de todos os artifícios para conseguir se manter concentrado na aula, pois hoje é uma data difícil.

Chegando na sala, Müller se sente muito mais disposto a se entregar ao estudo, mas no fundo sente que essa disposição vai durar pouco tempo, no fundo ele sabe que não pode mais se entregar por inteiro a algo, tem consciência de que tudo que fará deixará de ser ideal, pois sua essência deixou de ser completa há algum tempo, desde que Hannah se foi, para ser exato. Sua essência sofre ausência de um composto ideal para uma vida de dedicação total, a ausência do Amor. A chama desse sentimento era que o incentivava para concentrar suas forças para sua vivência.

Müller perde o sono. Agora não consegue mais tirar Hannah da cabeça. Por onde quer que vá, aquela Universidade o faz lembrar de Hannah, afinal, além de ex-namorada, ela também era ex aluna dali. Como eu disse, querido leitor, essa é uma noite difícil para o jovem. Passa a pensar no que poderia ter feito para evitar o destino, mas tem consciência que este possui uma força que não respeita as leis da Física, muito menos seus desejos individuais.

- Hoje não é o seu dia, não é, cara? - Ariel percebe a distância do Eu de Müller e tenta mostrar-se junto ao amigo.

Ariel era um garoto bondoso, prestativo e companheiro de Müller. O conheceu no lanche no refeitório da Universidade. Müller tinha deixado cair um pouco de comida de seu prato, havia perdido a noção da linha paralela da sustentação enquanto observava uma garota ensaiar com as outras líderes de torcida. Seus cabelos dourados esvoaçavam no ar enquanto realizava seus graciosos movimentos da dança. A garota executava cada passo com um olhar determinado, de quem tem o controle da situação. Hannah percebeu o olhar fixo do garoto, o achou engraçado. Simplesmente sorriu. Aquele sorriso mudaria a vida de Müller.

- Hey, cara! Sua comida... - Ariel chegou junto a Müller e o fez voltar para si, o avisando da queda de sua comida no chão. - Não vai conseguir conquista-la assim... - Müller começou a limpar o chão com a ajuda de Ariel.

- Agora sei por que ela sorriu... - Müller desabafava com o garoto.

- O nome dela é Hannah. Está no segundo ano de publicidade, já namorou um cara de atuariais mas se decepcionou.

- Você é da sala dela? - perguntou Müller.

- Eu sou da sua sala, cara! - Ariel sente um leve desprezo pelo colega de classe nunca o ter visto.

- Owh! Me perdoe.

- Não se preocupe. Eu nunca fui de ser notado.

- Depois da aula preciso falar com ela.

- Booooa sorte, cara! - Ariel se despede do colega e se dirige ao campo gramado logo a frente do prédio do refeitório.

Müller termina de recolher o resto de comida do chão e o despeja no cesto de recolhimento orgânico. Apesar de ter se tornado o centro das atenções por alguns minutos, não se importou com os olhares e pegou um novo lanche, se dirigiu a praça de alimentação maquinando em sua cabeça o que dizer a linda dançarina de cabelos dourados.

Depois da aula, Müller esperou a saída dos alunos de publicidade, e em meio a um grupo de garotas, lá estava ela. A garota loira dos cabelos esvoaçantes, vinha sorrindo de uma forma encantadora em que Müller não pode deixar de reparar. Aguarda Hannah se despedir das amigas e segue em sua direção:

- Olá! - diz Müller meio envergonhado.

- Olá, Müller! - Hannah surpreende o garoto.

- Pelo visto andou sabendo mais sobre mim do que eu sobre você... Hannah! - A pausa que Müller fez para falar o nome da garota, o igualou ao desejo de surpreender.

- Hahaha! Poderia ter segurado o prato mais firme, sabia? - A garota o provoca.

- Culpe o meu físico. - Müller demonstra seu corpo a garota. O físico magrelinho a faz rir.

- Se eu fosse julgar um culpado, teriam de haver duas condenações, e essas seriam impostas aos teus olhos.

Müller e Hannah começaram a conversar com mais frequência depois daquele dia. O garoto sentia mais vontade de a ver e conhecer melhor seu tipo de pessoa...

...Müller retoma de seus pensamentos e responde o amigo:

- Pelo que vê, hoje não é um dia muito legal pra ninguém, Ariel. Mas eu sinto muito mais, é claro. Afinal, tudo foi minha culpa.

- Qualquer namorado que se preze teria feito o mesmo, não se martirize. - Ariel tentava consolar o amigo.

Desde o dia em que Müller conheceu Ariel, estes dois vem alimentando uma amizade produtiva e recíproca, que como Müller sempre dizia: "reciprocidade é um sentimento, o sentimento construtivo da felicidade". Ariel procura estar sempre ao lado do amigo, ainda mais depois da ausência de Hannah. Alguns diziam que eles eram irmãos, pois viviam juntos, além de o físico deles serem muito parecidos. Dois magrelinhos, rosto fino e nariz afunilado. Olhos castanhos claros e cabelos pretos. O penteado de Müller era um cabelo revoltado, formando uma espécie de topete. Já Ariel era mais clássico, penteava todo o cabelo para o lado esquerdo. A diferença mais gritante entre estes eram seus tamanhos. Enquanto Müller chegava a 1,76cm, Ariel não passava de 1,68cm. Sempre dizia que iria ser o maior, que cresceria até os 21, ainda restaria um ano.

Ariel presenciou o primeiro beijo do amigo com Hannah. Estavam no gramado próximo ao refeitório, quando Hannah se jogou no chão e disse:

- Vocês já tiveram vontade de voar? Ir para o céu e observar as coisas lá do alto e ver a beleza que este lugar exibe? - diz Hannah viajando em sua imaginação.

- Já faz algum tempo que venho querendo isso também. - responde Müller. - Mas se for para chegar lá, quero que seja com você, pra olharmos e planejarmos um lugar melhor. Mas enquanto não podemos voar, me contento com um céu menor, mas contendo tudo o que eu preciso. - Müller, também deitado, sobrepõe seu rosto ao da garota e lhe beija. Foi assim que foi invadido por uma grande intensidade lírica amorosa. Assim como a gravidade separa o céu do mar, uma força manteve seus lábios em contato por um momento sem nenhum movimento, apenas por impulso do sentimento.

... - Todos entendidos? Muito bem, prova semana que vem pessoal. Venham preparados. Será permitido apenas a consulta em sua calculadora. Tenham uma boa noite! - O professor finaliza a última aula da noite.

- Vou precisar estudar esse final de semana. - Müller comenta com Ariel.

- Vamos precisar. - Acrescenta o amigo.

Müller é um dos últimos a se dirigir a saída da sala, se prepara emocionalmente para o que vai ver novamente do lado de fora. Antes que fosse embora, o professor Marc o puxa pelo braço de um jeito amigável e fala:

- Eu sei que não deve estar sendo fácil pra você, Müller. Mas tente se manter firme, só lhe resta mais um ano para formar-se. Mantenha o foco por você e por ela, era o que ela queria. Com certeza ficará orgulhosa, onde quer que esteja.

Müller não suporta suas emoções, desaba frente a seu professor. Este de maneira adepta, o oferece um abraço. Müller chora feito criança no ombro de Sr. Marc.

- Eu te acompanho até o estacionamento. - diz o professor.

Toda a preparação emocional que Müller planejou para esta noite foi por água abaixo. No corredor vê o que te atormentou durante a noite. Mesmo mudando seu período de estudo para não possibilitar ver o céu azul, metáfora amorosa sua e de Hannah, não houve saída para esta noite.

...04/12/2004. Data em que Hannah e Müller completavam um ano de namoro. Ela não quer comemorar fora, prefere o mais simples, porém o mais afetivo: passar o dia inteiro juntos, um ao lado outro assistindo algum filme, conversando, relembrando seus 365 dias passados juntos, qualquer coisa que não envolvesse nada mais além de suas almas, somente elas.

- Amor, não seria muito mais proveitoso se a gente fosse assistir algum filme no cinema, conversar em uma praça. Sei lá, sair um pouco, sabe? - Müller tenta convencer a namorada a mudar de ideia.

- Ah, Müller. Eu queria algo mais só nosso, sabe? Sem mais ninguém. Apenas nós dois curtindo um ao outro.

- Poderíamos passear no Parque, pelo menos? - insiste Müller na tentativa de, no mínimo, levar a namorada ao Parque Central da Cidade.

- Tudo bem então. Mas vamos voltar logo, quero aproveitar o maior tempo possível a sós contigo! - Hannah demonstrava paixão em suas palavras.

Depois de se arrumarem, Hannah dá um beijo em Müller na porta da sala e saem em direção ao carro.

- Hannah. - Müller encara a namorada com uma cara desconcertante e engraçada. - Esqueci a chave do carro.

- Eu não vou voltar! - A garota já se sobressai sobre a possibilidade de ter que ir pegar a chave.

- Preguiçosa. Vou gritar para o meu irmão jogar da porta. - Müller brinca sorrindo para a garota. - Ooo Thomas! - O irmão surge na porta e já apresenta um aspecto contrariado, de quem já sabe que vai ter que fazer algo. - Para de fazer careta e joga a chave do carro aí pra mim. - Müller brinca com sua autoridade.

- Folgado! - Thomas faz o pedido contrariado.

- Obrigado irmãozinho!

Müller encena uma coreografia monárquica e abre a porta para Hannah se sentar. Ela, entendendo o momento, faz papel de princesa e se adere a postura real.

- Tenha uma boa viagem, minha princesa.

- Ande logo! - Hannah agora faz o papel da superior arrogante.

Müller a encara desconcertado e ri, pois não esperava tal resposta.

- Pra uma princesa real, você tá mais pra falsificada. - Os dos riem.

Começam a seguir caminho em direção ao Parque Central, vão levando uma conversa sadia.

- Hannah, o que você espera de nós daqui pra frente? - Müller assume um tom de seriedade.

- Müller, eu não espero nada da gente daqui para frente. - O garoto assume uma postura enrijecida, espantada. - Lembra quando me disse que enquanto não podemos voar se contentaria com um céu menor? Então, hoje eu vejo que não precisamos voar pra enxergarmos a vida de uma outra maneira, que o tamanho real do nosso pequeno céu não é o essencial. Essencial é sabermos voar sem asas, é ir ao céu sem tirar os pés do chão. O tamanho do nosso céu não é relacionado a sua dimensão, é composto pela sua plenitude sensorial, sensitiva e emocional. Nós sabemos que os sentimentos que nos une é imensurável a qualquer ocupação, que não importa onde estamos nosso sentimento sempre vai se adequar às nossas vontades. Eu faria de tudo pra te ver feliz, gosto de você como pessoa e como meu amado, e isso é a força que me move. Novamente eu repito, eu não espero nada do nosso futuro, nosso futuro que nos espera!

Müller se sentiu maravilhado, Hannah sempre o deixava assim, se sentindo nas nuvens. Porém, a verdadeira queda estava prestes a vir. Abre o cruzamento para Müller, assim que ele acelera para seguir caminho, surge um carro desgovernado em sua direita que os atinge em cheio! Müller já não está mais consciente...

Pi...pi...pi... Esse é o barulho que Müller reconhece ao acordar.

- Müller, meu filho! - Sua mãe se emociona ao vê-lo acordado, o abraça mesmo estando todo debilitado.

- Mãe?! O que aconteceu? Por que estou no hospital? Cadê a Hannah? - Müller se sente deslocado, ainda desorientado.

- Se acalme, querido. Se lembra que estava indo para o Parque com a Hannah? Pois bem, meu filho. Enquanto você atravessava o cruzamento, um carro sem controle vinha em alta velocidade e atingiu o carro em que vocês estavam. Quando a ambulância chegou vocês já estavam inconscientes e com vários sangramentos. - Müller percebe que está com a perna engessada. - Vocês acabaram batendo a cabeça na hora do impacto. Estão há 13 horas em coma, e você só acordou agora, 03:26hrs da manhã. Acabou quebrando três costelas e a tíbia direita, provavelmente durante capotavam para a outra pista. O laudo de seu cérebro e órgãos está positivo, tudo em ordem. O médico disse que sua memória vai voltar, é questão de repouso.

Müller não absorveu muito bem todas as informações, e estava muito zonzo e enjoado.

A única coisa que sentia era culpa. Eles só saíram de casa pela sua insistência, teria sido tudo diferente se tivesse escutado Hannah, nada disso teria acontecido.

- Cadê a Hannah? - Pergunta aflito.

- Filho, o quadro dela é grave. Ela ainda está em coma. Pela pancada ter sido em seu lado, ela acabou sofrendo muitas contusões e fraturas, sofreu algumas lesões no cérebro... - Dona Rangel começou a chorar e falar com muita dor. - Ela corre risco, filho! - Müller não suporta e se entrega aos prantos também. - Ela está a espera de uma doação de rim, filho. Foi retirada do carro com algumas perfurações causadas pelas ferragens.

Müller não suporta a dor que está sentindo, começa a chorar como se fosse as últimas lágrimas que sairiam de seus canais lacrimais. Não consegue tirar da cabeça que tudo isso é culpa sua. Repentinamente ele cessa o choro e manda a mãe chamar o médico responsável.

- Vocês já encontraram o doador para Hannah Oliver?

- Ainda não. Mas estamos checando todas as listas e... - o doutor Brown é interrompido por Müller.

- Eu quero ser o doador. Estou com meus órgãos saudáveis. Quero doar um rim para Hannah, o mais rápido.

O doutor encara o garoto, olha a cara de espanto da mãe, percebe a determinação e o medo daqueles dois se mostrarem intensos. A dona Rangel o encara e acolhe com a cabeça.

- Vou verificar os documentos. - o médico sai rapidamente da sala.

Müller é conduzido para a sala de cirurgias. A mãe o transmite forças:

- Meu filho, pense bem. Eles podem encontrar algum transplante disponível, você ainda está mal.

- Se eu estou melhor do que Hannah, isso já o suficiente para ajudá-la. É o mínimo o que posso fazer por ela. Não se preocupe, mamãe. - Müller a olha com um brilho intenso, carregado de emoções.

- Caso nem tudo ocorra como planejou, saiba que o que está fazendo é lindo, e que não será culpa sua. - Müller vira o rosto e deixa a lágrima escorrer pela sua face.

O processo de transplante foi delicado. Os dois se encontravam em uma situação frágil, qualquer deslize milimétrico poderia ser fatal, pois algumas regiões já estavam bastante deterioradas. O processo levou aproximadamente 9 horas. Os médicos cuidaram disso durante toda a madrugada. Agora resta saber como os dois vão reagir.

Após 5 longas horas de sono após o término do transplante, Müller acorda atordoado:

- Aiaiai! - Reclama das dores.

O garoto se vê sozinho no quarto. Sua mãe não estava ali, muito menos Hannah. Estava ansioso para ver como ela estava, se tinha melhorado seu estado e saído do risco. Mas o que Müller vê não o anima muito. Na poltrona ao lado onde estava sentada sua mãe, ele enxerga uma foto sua e de Hannah tirada na praia. A garota usava um biquíni azul e ele um shorts preto. Os dois estavam inclinados na foto, como se câmera fosse algo intrigante. Ao lado, se encontrava a bolsa de sua mãe, estava com alguns lenços umedecidos transbordando para fora. Eram sinais ruins. Ele só quis pensar que sua mãe estava triste por tudo aquilo.

Porém, tudo se confirma ao ver sua mãe entrando com a Senhora Marjorie, mãe de Hannah. Ambas se mostram debilitadas. Totalmente desacreditadas. Ao ver o filho acordado, Dona Rangel se emociona e o abraça.

- Meu filho! Que bom que acordou!

- Cadê a Hannah, mãe? Onde está Hannah, tia Marjorie? - O garoto já demonstra súplica em suas palavras, não aguenta a emoção.

Dona Rangel e Senhora Marjorie se entreolham, esta vem rapidamente em direção ao garoto e o abraça forte. Müller não liga mais para suas dores. Acaba de ter certeza que não deixou de ter somente um rim, deixou de ser completo por essência também. Müller nunca mais será inteiro, pensava ele. Os três se juntam em um clima de choro e consolo.

A garoto não demonstrou muitas forças durante o transplante, suas forças eram mínimas. Uma possível rejeição ao rim do namorado pode ter agravado o estado e a levado a óbito, duas horas antes de Müller acordar.

... Acompanhado do professor Marc, Müller vê os cartazes de homenagem a Hannah que alguns alunos fizeram. A escola também não esqueceu da grande líder que perderam naquele dia 04. Alguns dizem que "será lembrada para sempre", outros "nunca te esqueceremos", mas nenhum se iguala a dor que Müller sentiu e sente até hoje.

Caminhar por entre esses corredores é como se fosse ter que lembrar todo o sofrimento que passou. O garoto apressa o passo para não ver os cartazes mais elaborados com fotos e declarações a garota.

Chegando no estacionamento, o professor Marc transmite forças para Müller e o deixa ir embora.

- Não se esqueça que por mais que ela já tenha ido embora, você ainda está aqui e precisa fazer um bom papel! Boa noite, senhor Rangel. - o professor se despede e vai embora.

Müller continua ali, encostado em seu carro por mais alguns minutos, ainda remoendo pensamentos que este dia o faz lembrar. Enxuga as lágrimas e entra no carro.

- Era pra você estar aqui do meu lado, Hannah. Era pra você estar aqui. - diz o garoto consigo mesmo.

- Mas eu estou aqui, meu Amor. Eu estou aqui! - diz Hannah. - E estarei aqui enquanto for possível.

Müller se levanta assustado.

- Hey! Calma, dorminhoco! Agora sei porque escolheu vir aqui, é um bom lugar pra se dormir. E você aproveitou essa tranquilidade e somou com a sua folga e dormiu no meu colo até agora, né? - Hannah Aperta as bochechas do namorado.

Müller se sente maravilhado ao perceber que tudo não passou de um sonho. Saber que Hannah ainda está ali, ao seu lado, é a melhor sensação que se pode sentir quando se acreditava que estava no fim do poço.

- Hannah, acho que nossas vidas se encaixam de uma forma tão harmônica que não pode ser melhor. Ver seu sorriso é a melhor imagem para levantar meu astral. Sua alegria, sua energia me contagia. E quando tudo isso parece ser um sonho de tão ideal, eu percebo que um sonho não pode ser, pois até os sonhos não se encaixam como nossas almas. Entretanto, são com eles que nós vemos até onde iríamos para salvar algo que amamos, para fazer algo que gostamos, são os sonhos que nos mostram nossas reais expectativas e são com eles que aprendemos a valorizar a realidade.

Hannah se encanta pelas palavras de Müller. Este, antes mesmo de receber uma resposta, encara o brilho reluzente dos olhos da garota, segura seu queixo levemente de forma apaixonada, e lhe difere um beijo. Assim como aquele do gramado, um beijo que fazem dos dois o mais novos seres humanos a viajar pelo espaço, este que pertencente ao Universo que só os apaixonados tem conhecimento, pois só estes têm o poder de viver e sentir seu poder.

Esse é o Universo denominado Amor.