Só por hoje - Capítulo 4

No meu suposto dia de folga, acordo mais cedo só por garantia. Sei que devo estar lá as 15:00 e Jordy me passou todas as informações de quem devo procurar, mas vou sair uma hora antes para nada dar errado. São oito horas agora, vou tomar um banho bem relaxante, penso em como será a entrevista e ensaio no chuveiro. Lavo meus cabelos, me depilo –sei que ninguém vai ver, mas isso me faz me sentir mais limpa e confiante comigo mesma- e saio do chuveiro enrolada na toalha. Seco meus cabelos castanhos claro e faço babyliss nas pontas. Escolho alguma roupa e agradeço por ter acordado mais cedo porque tudo parece inapropriado. Por fim, acabo pegando um vestido preto de meia manga e uma sapatilha com saltinho preta. Reviro minha bolsa mais uma vez para me certificar de que coloquei tudo o que eu preciso e não preciso ali dentro. Por fim, vou tomar meu café antes de fazer a maquiagem. Jordyn –prefiro chama-la assim- já foi para o trabalho e deixou o café pronto. Como frutas, pão, tomo suco e algumas torradas caseiras que Jordyn fez com geleia de maçã. Já são onze horas e vou fazer minha maquiagem, nada exagerado, só um corretivo, delineador e rímel. Passo um blush também e um lipbalm rosa só para dar cor ao meu rosto. Fico esperando até dar a hora de sair, enquanto isso, ligo para meus pais para contar as novidades. Meu pai não esconde o entusiasmo, mas minha mãe ainda parece estar muito brava com tudo. Ela se limita a um “hmm, legal. Boa sorte Allie.” Enquanto meu pai quer saber de tudo e mais um pouco. Confiro o relógio e desligo o telefone. São duas e quinze e o uber já está lá em baixo.

...

Chego na empresa, sou atendida pela recepcionista e dou as informações necessárias.

“Allison Alcântara?” ela diz olhando pro computador.

“Sim” digo.

Ela sorri ainda olhando pro computador e diz “Você chegou um pouco cedo.” E olha pra mim.

Coro de vergonha “Pois é.”

“Não tem problema, você pode esperar aqui.” Ela aponta para as cadeira. “O Sr. Michael já deve estar chegando”

Ótimo, cheguei antes do meu futuro chefe, num todo nem é tão ruim assim. Posso parecer desesperada ou pontual, espero que ele pense pontual, por mais que eu esteja desesperada mesmo. Meia hora passa e eu já estou cansada de esperar, já acabei com todas as minha vidas em todos os jogos do meu celular, não aguento mais ouvir música e começo a prestar atenção no ambiente. É calmo, não era o que pensei de bandas correndo de um lado pro outro, contatos famosos chegando e correria. Por mais que seja uma gravadora conhecida, aqui é bem normal. A recepção é grande e o prédio deve ter uns seis andares, não faço ideia do que tenha em cada um deles, mas sei que um andar desses vai ser meu se tudo der certo. Vejo um homem de cabelos brancos entrar pela porta acompanhado de uma mulher. Ela leva pastas e mais pastas nas mãos e ele leva apenas sua mala. Está de terno e eu suponho que pela idade e pela roupa que esse deva ser meu chefe, Sr. Michael.

“Suzana!” ele passa pela recepcionista e acena.

“Como vai Mike?” ela pergunta num tom intímo.

“Vou com as pernas” ele responde rindo, indo em direção ao elevador e Suzana ri junto.

Ninguém parece ter me visto. Olho para Suzana e ela diz. “Bom, agora é só esperar ele chamar.” Estou nervosa pra cacete!

Quinze minutos depois, Suzana fala “Sexto andar, primeira porta a esquerda.”

“Obrigada” digo. E ela diz “Boa sorte.”

Caminho em direção ao elevador, dou uma profunda respirada e entro apertando o número 6. A moça que estava com o Michael está na porta.

“Entre, querida!” Ela diz abrindo a porta e estendendo a mão para dentro. O homem de cabelo branco não está na sala.

“Allison, né?” Ela pergunta.

“Sim, pode chamar de Allie.” Forço um sorriso de nervoso e passo a mão pelo meu vestido e me sento em frente a ela.

“Bom Allie, sou Marta e vou entrevistar você hoje. O Michael é um homem muito ocupado e enrolado, então está resolvendo os problemas diários daqui e pediu para eu atende-la. Coisa normal.” Ela ri carinhosamente

Lembro da Jordyn falando a respeito de quem eu iria trabalhar era uma pessoa desorganizada. Com certeza era do Michael que ela estava falando. O coitado não está dando conta, sobrecarregando a secretária e está recrutando uma assistente para a secretaria ou para ele. Aqui deve ter tanto trabalho...”De onde você é Allie?” Marta interrompe meus pensamentos.

“Sou de São Paulo. Vim estudar artes aqui no Rio”

“Ah, que legal! Bom, pelo que andei lendo, você já trabalhou como assistente antes não é?”

“Sim, em um escritório numa empresa de engenharia onde meu pai trabalhava.”

“Então é boa com números?” ela pergunta com a sobrancelha erguida.

“Sim senhora” respondo e ela faz um risco na folha.

“Jordyn me mandou seu currículo e fez ótimas recomendações de você. Gostei de seu currículo, parece encaixar com o que estamos precisando. Informática, word, inglês...” ela vai lendo meu currículo. “Acho perfeito.” Ela olha para mim e ri sem mostrar os dentes. “Acho que na situação que estamos, uma pessoa como você parece ser perfeita.”

“Situação?” pergunto.

“Ah, sim. É que ele é uma pessoa muito exigente. Você é a quinta pessoa que entrevisto. Espero que dê certo e você não abandone o emprego com em semana.” Ela diz e eu estou com os olhos arregalados, boca aberta e as mãos estão apertando a barra do vestido. “Oh, não! Eu te assustei né? Não se assuste querida! Ele só tem um gênio forte. Mas é uma boa pessoa, basta alguém ter o dobro de paciência. De qualquer forma, vamos te dar alguns dias de experiência e você vê o que acontece.”

Ela olha pra mim esperando resposta.

“Você ainda quer não é?” Isso parece uma súplica e não uma entrevista de emprego.

Solto o ar num susto e digo “Ah, sim, sim! Claro. Não pode ser tão ruim.” Forço sorriso.

“Certo! Você acerta seus benefícios lá em baixo com a Suzana e pode começar depois de amanhã porque vamos ter uma festa de confraternização aqui na empresa. Todo ano fazemos. A principio, está convidada! É bom que você já vai conhecendo seus colegas de trabalho.”

É muita informação pra um dia só. Acabo de descobrir que Michael é um doido de pedra esquentadinho e tenho uma festa para ir no qual não conheço ninguém.

“Ótimo. Obrigada Marta. Não vou decepcionar.”

“Eu sei que não” ela sorri.” Você está liberada.” Agradeço mais uma vez e saio da sala. Paro no corredor e olho em direção a ultima sala de vidro no fundo do corredor. Vejo Michael em pé, apesar da idade e ele não parece ser isso tudo que acabei de escutar. Lembro dele sendo simpático com Suzana na recepção e não faz sentido. Talvez ele só seja assim com novatas para testar se conseguimos aguentar a pressão de um lugar cheio de trabalho. Mando mensagem para Jordyn perguntando onde ela está. Quarto andar sala cinco. ela responde.

Vou para a sala cinco e vejo Jordyn sozinha na mesa com um monte de papeis na mesa.

“Hmm, um lugar só seu é?” digo

“Pois é, eles me amam.” Ela ri “E ai? Como foi?”

“Descobri que vou trabalhar para um “demitidor de pessoas em potencial” “

Jordyn ri e diz “Eu avisei, boa sorte.”

“Mas no geral, foi até tranquilo. Marta falou mais do que eu.” Eu digo e ela ri de novo.

“Marta e sua língua.”

“A propósito, ela me chamou para a festa que vai ter na empresa amanhã. Não sei se devo ir... você vai?” pergunto tímida

“Claro que vou. E nem pensar que você não vai. Te apresento para o pessoal para você não se sentir a alien no dia seguinte.” Ela ri com o trocadilho péssimo com o meu nome e eu acabo rindo junto

“Sabe que isso foi horrível né?”

“Eu sei!” ela limpa as lágrimas de tanto rir no rosto.

“Você vai pra casa hoje?”

“Adivinha quem vai ficar a semana toda em casa?” ela aponta pra ela

“Sério?” fico animada.

“É, minha turma vai fazer uma viagem pra um seminário. Só que não posso ir por causa do trabalho. Então, vou te perturbar até o fim da semana”

“Ah, então vamos ter tempo de fazer muitas limpezas e coisas de organizações e talz” provoco Jordyn com sua mania de limpeza e ela revira os olhos rindo.

“Claro que vamos.” E no fundo, eu realmente sei que vamos ter tempo para isso.