O MENINO DA PORTELA E A ILHA DO FOGO DE CABO VERDE

Dia 23 de novembro de 2014. Pizindim, menino bom e cabo-verdiano da Praia, subiu no telhado da casa. Havia muita fumaça e muita poluição no ar. Os estouros aconteciam a cada três minutos! Que fazer? Lá, é o trecho em que a Ilha do Fogo denomina-se “Chã das Caldeiras”, o que não falta é gente preocupada. O pai do Pinzindim produz vinhos, com as videiras plantadas há quase um século, nas escarpas do vulcão semiadormecido. A casa do Pizindim fica ao lado da Cooperativa de Viticultores de Chã das Caldeiras, onde estão estocados mais de 200 mil litros de vinho da colheita de 2014, além de centenas de litros da colheita de 2013 e anos anteriores.

Pinzindim é aluno da Escola da Portela, onde convive com dezenas de outros garotos da Ilha do Fogo. A escola da Portela está agora servindo de base para o contingente de segurança da Proteção Civil, Cruz Vermelha e da Polícia de Cabo Verde. Lá de cima do telhado, Pizindim avistava a estrada, agora com amontoados de uma massa escura, resultante da lava incandescente que o vulcão expeliu e que se solidificou em meio à estrada. Observou também que o local onde estavam algumas das cisternas da cooperativa, também estavam cobertas pela massa provinda do vulcão. Viu passar gente correndo com crianças ao colo e malas. Pelo jeito estavam fugindo e aí o Pinzindim raciocinou que ele também poderia estar a perigo e tivesse que sair da casa. Naquele momento ele estava só: sua mãe e irmão mais novo estavam na cidade de Praia e o pai havia sido convocado para uma reunião e não tinha retornado ainda. Ele então pegou uma mochila e colocou algumas roupas dele, os cadernos, um par de sapatos e um casaco, embora o dia estivesse muito quente. Fechou a casa com o cadeado e saiu, rumando na direção da Escola da Portela. Durante o trajeto foi que ele pode avaliar o evento: havia muita gente chorando, correndo, rezando e resmungando pelos campos, uma vez que as estradas estavam intransitáveis pelas pedras e por estas estarem ainda muito quentes. Notou que, nas proximidades, duas casas de apoio aos agricultores estavam incendiadas; currais estavam destruídos, o perímetro agrícola também havia sido destruído pela lava. Ao chegar à Escola da Portela, viu seu pai completamente comprometido em dar apoio aos moradores. Ao ver o filho, pediu-lhe que contornasse as lavas solidificadas e tomasse o caminhão da Proteção Civil (INPCB), que o levaria até o porto, para leva-los à cidade da Praia. Disse ao filho que em Praia tinha casa de apoio e que ele se encontraria lá com ele e o restante da família, tão logo pudesse. Através do pai ficou sabendo que o fogo do vulcão e suas lavas já haviam destruído 15 casas, 14 cisternas (essencial para sobrevivência na ilha), além de 15 currais. Disse ao filho que a Escola da Portela também estava no caminho das lavas e não ficaria surpreso se o vulcão a atingisse também. As lavas do vulcão, disse seu pai, caminham com velocidade de três metros por hora. Pinzindim percorreu os dois quilômetros a pé; viu os trechos em que a estrada foi engolida pelas lavas.

Pinzindim chegou a salvo na cidade de Praia. No dia seguinte, sua mãe e irmão menor, foram encontrá-lo. O pai chegou durante a sexta feira. Agora, aguardam o momento em que o vulcão se acalme, para ver o que se pode fazer. O pai de Pinzindim acredita que a Cooperativa e a pequena Vila de Chã das Caldeiras talvez tenham que ser refeitas longe do local onde estavam, assim como a Escola da Portela. O Pinzindim, nesse momento em que escrevo ainda está lá, sem ainda ter uma solução para família e para si. Podemos, ao menos, rezar por eles!

-Concordam?

Tio Babá
Enviado por Tio Babá em 27/11/2014
Reeditado em 28/11/2014
Código do texto: T5050640
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