[Original] Ela me faz - Capítulo 21

Capítulo 21 – Reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz

Dia seguinte

- Vamos, Lucas!!! – Gabriel gritou, já da porta de cozinha. Eu como sempre estava atrasado pro trabalho. – Parece mulherzinha se arrumando, meu!

- Cala a boca! – Desci as escadas correndo e passei em sua frente. – Esse negócio de beber em plena quarta-feira é só pros fortes, porque na boa, to quebrado.

- Nem me fale. Estou com uma dor de cabeça terrível... E se eu contar pra Nina que bebi nós vamos brigar. Ela não gosta de bebida.

- Imagino. – Sorri de canto. – E como é que anda o “relacionamento” de vocês? - Fiz aspas na palavra. Ele me deu um soquinho no ombro.

- Ah, mais ou menos né. Eu meio que estou tendo alguma coisa com ela, mas a Ingrid continua em cima de mim. Mulheres... – Ele meneou a cabeça. – Não resistem ao meu charme.

- Claro. Claro.

Caminhamos até a porta da casa, e quando passo pra rua, vejo uma figura conhecida correndo desesperada. Os cabelos cacheados voando com o vento. Era a Iasmin. Eu li em sua expressão chorosa que era alguma coisa com Rafaela e por isso corri em sua direção também. Nossos corpos se chocaram e eu a segurei pelos ombros.

- A RAFAELA.... – Ela gritou com a voz trêmula, e puxou o ar para conseguir falar. – SUMIU...

- Como ela sumiu? Eu liguei pra ela ontem à noite!

- Foi de madrugada! Ela não estava bem, disse que ia sair para andar um pouco, até deixou o celular em casa... E não voltou até agora. O chefe dela ligou em casa perguntando se ela estava doente, pois nunca falta no serviço e eu não soube o que responder. Estou desesperada...

- Tu ligaste para os pais dela? – Perguntei.

- Sim, liguei, tentei não transparecer nada a Sílvia. Ela não está lá.

Gabriel se aproximou de nós e me olhando sugestivamente e eu logo entendi o seu olhar. Ele suspeitava de Conrado.

- Tu achas que ele teria coragem? – Eu perguntei para ele. Iasmin nos olhou, confusa.

- Acho que sim. E também acho que a Raquel está envolvida nisso. As fotos dela vazam na internet. Ela já foi amante do Conrado. Odeia a Rafaela. É só você juntar uma coisa com a outra, Lucas.

Eu me afastei, ficando de costas para os dois. Meu celular tocou, mas eu não conseguia atender pois precisava raciocinar sobre esse sequestro. Tirei o aparelho do bolso e entreguei para Iasmin atender. E assim ela fez.

- Oi Olívia. Não, o Lucas não pode falar nesse momen... O que? – Automaticamente eu fitei Iasmin e sua expressão congelada. – Mas você viu ele falando isso? Entendi! A Rafaela está sumida desde a madrugada. Tá, eu aviso você. Obrigada de verdade, Olívia.

Eu esperei ela me devolver o celular.

- O que foi? - Eu perguntei a Iasmin.

- Olívia disse que viu o Conrado falando que ia armar algo pra cima da Rafaela! - Respondeu ela, fechando os punhos.

- Vamos na casa do Conrado. – Murmurei, forçando uma tranquilidade que não era minha. – Eu já estava mesmo precisando conversar com aquele guri.

- Vamos. – Respondeu Gabriel. – Só vou avisar pro meu pai do acontecido.

Gabriel ao ligar para o pai, aproveitou e pegou o carro dele emprestado. Iasmin e eu nos sentamos no banco de trás. Durante a viagem eu fui engolido por uma nostalgia de lembranças sobre Rafaela. Desde o primeiro beijo até a última briga. De como um suposto ódio virou um sentimento tão grande que nos separou de forma tão terrível. De como a menina que me atraia, virou a mulher da minha vida.

Eu nem senti quando Iasmin deitou a cabeça em meu ombro e segurou a minha mão. Ela rezava baixinho para que Rafaela estivesse bem. Eu pedia a Deus que me controlasse a fúria ao chegar na casa de Conrado.

Continuei me alimentando das lembranças de Rafaela de uma forma que a manteria sempre viva dentro de mim. Mesmo que de alguma forma, os nossos caminhos tivessem se distanciado. O amor as vezes é como numa corrida: Alguém ganha, alguém perde e muita gente desiste.

No meu caso Rafaela passou na minha frente e eu não fui capaz de para-la, nem de me manter na mesma frequência que ela. O que é exatamente quando um relacionamento dá certo.

- Mais umas duas travessas e chegaremos – Iasmin falou a Gabriel, e também me trazendo a realidade. – Você está bem, Lucas?

- Estou bem. Apenas lembrando de tudo o que vivi com Rafaela.

- Ela ama você.

- Eu sei. E pena que isso não bastou para ficarmos juntos.

- Lucas...

Eu suspirei com um profundo pesar.

- Depois que a tirarmos de seja lá onde ela está, eu vou voltar pra casa...

- A nossa casa?

- Não, a minha casa no Rio Grande do Sul.

- Não, Lucas! – Iasmin me abraçou. – Não fala isso.

Gabriel parou o carro e me olhou também.

- Cara, você acha que ir embora vai mudar alguma coisa?

- Vai sim. Rafaela precisa que eu fique longe e eu vou ficar longe. – Meu tom de voz foi firme, o que fez os dois não me perguntarem mais nada. – Vamos logo. Eu estou doido para ter uma amigável conversa com o Conrado.

(...)

Quando finalmente chegamos a casa do maldito, tivemos a sorte de encontra-lo entrando em casa. Eu e Iasmin o rondamos na frente do portão para não dar chances de escapatória. Gabriel o dominou com uma chave de pescoço quando ele tentou me chutar. Sua cara delatava culpa. É a famosa história do "quem não deve não teme”. E ele deve, por isso teme.

- Eu vou perguntar a ti somente uma vez. – Murmurei, sorrindo de canto. – Cadê a Rafaela?

- Deve estar no inferno, que é o lugar daquela cadela desprezível.

Eu fechei o punho para soca-lo, mas Iasmin tomou a frente o acertando bem no queixo.

- Bela direita, Ias. – Elogiei, e ela sorriu agradecida. – Conrado. Eu posso ficar aqui por horas te socando até te fazer falar onde está Rafaela, mas...

- Eu não sei!!

- Tudo bem. – Foi a minha vez de acerta-lo na barriga. – Tu acha mesmo que essa é a atitude de um homem? Sequestrar a ex-namorada só para se vingar?

- Droga, eu não a sequestrei!

- E quem foi?

Gabriel apertou um pouco mais a chave de pescoço. Conrado começou a ofegar.

- Raquel.

- Tu vais conosco até o lugar onde ela está. E pelo seu próprio bem, torça para a guria não estar machucada, pois se eu encontrar um arranhão naquele corpo perfeito tu vai apanhar o dobro.

Ele foi levado para dentro do carro e dessa vez Iasmin passou pro banco da frente, eu dirigindo e Gabriel atrás com Conrado.

Seguindo as informações dele, Raquel a levou para uma fábrica abandonada que fica na zona oeste, num bairro meio barra pesada. Como o trânsito felizmente estava a nosso favor, não demoramos a chegar muito lá.

Gabriel fez Conrado confessar como ajudou a professora sequestrar Rafaela. E o imbecil disse que não era sério, mas só para assusta-la. Com isso ele ganhou um soco no canto da boca e quase ficou inconsciente.

Raquel não a levaria para tão longe apenas para “assusta-la”. Ninguém sequestra outra pessoa apenas para isso.

É verdade que homem não deve bater em mulher, mas Iasmin está aqui para resolver esse pequeno impasse.

- Gabriel, tu seguras esse lixo aqui no carro. Eu e Iasmin vamos entrar lá. Qualquer coisa eu te chamo. – Falei, quando o carro estacionou em frente ao lugar. A fábrica me dava a impressão que a qualquer momento cairia sob nossas cabeças.

Nós descemos e caminhamos até a entrada. Uma placa de metal na porta indicava que ali já foi uma fábrica de roupas feminina. Era bastante escuro, mas a iluminação vinda do sol nos ajudou a andar sem precisar tatear as coisas. Ao entrarmos, fui invadido por um desespero descomunal em imaginar como Rafaela poderia estar ali dentro. Gritei por seu nome uma vez e não ouve respostas. Na segunda vez que Iasmin gritou, foi recebida com uma cabeçada tão forte que a fez cair no chão.

Era a Raquel.

- Eu já sei que foi você que divulgou minhas fotos, sua vadiazinha imunda!

- Você não gostou, Raquel? – Ouvi Iasmin perguntar, maldosamente. Eu a olhei perguntando se eu podia ir e ela balançou a cabeça discretamente num sim. Segui por um corredor escuro e muito grande com várias salas com portas abertas. Todas cheias de cadeiras quebradas, copos de vidros, colchões imundos. Não era um bom lugar para se estar, mas perfeito para esconder alguém.

- Rafaela! – Chamei por seu nome mais uma vez.

- Lucas...

Sua voz quase inaudível vinha da última sala, a única com a porta fechada. Dei um chute com a perna esquerda e a porta caiu com facilidade. Eu travei quando encontrei Rafaela amarrada a parede na mesma posição que Jesus Cristo na cruz. A cabeça tombada pra frente, com os cabelos criando uma cortina. Que tipo de louca é essa Raquel?

A cena era de chocar qualquer um.

- Rafaela! – Quando ergui sua cabeça vi que ela tinha os cantos da boca sangrando, o lábio inchado. E um corte de faca na cintura. Desamarrei suas mãos do prego que a prendia a parede, depois fiz o mesmo com os pés. O corpo dela caiu em cima de mim com uma pena. – Fala comigo Rafaela, pelo o amor de Deus!

- Lucas...

Ela forçava para abrir os olhos, mas não conseguia, estava quase inconsciente. Eu a segurei em meus braços e corri pelos corredores. Iasmin e Raquel ainda brigavam, e apesar de sua aparente fragilidade, ela conseguiu derrubar a outra no chão.

- Isso aqui é pela minha amiga! – Iasmin gritou, chutando as costelas dela, que urrou de dor. Ao me ver, sua expressão automaticamente tornou-se horrorizada. – MEU DEUS, RAFAELA!

- Vamos embora, ela precisa de um médico.

Gabriel se manteve do lado de fora do carro com um pedaço de madeira grossa na mão, ameaçando Conrado. E quando seu olhar encontrou o meu, ele a jogou longe e abriu a porta do carro para eu entrar. Essa foi a deixa para Conrado fugir. Eu já não me importava mais com ele.

Tentei não me desesperar, já que a minha calma era essencial até chegarmos ao hospital.

Iasmin ligou para o médico que me atendeu quando Rafaela me intoxicou meses atrás e ele concordou em atende-la. Eu a segurei em meus braços ignorando o medo profundo de perde-la que me invadia de forma incalculável. A última vez que senti algo assim foi quando minha mãe morreu e eu soube que dali pra frente eu só tinha o Lennon para cuidar de mim. Naquele tempo eu não tinha noção do que era amar alguém. E nem tinha ideia de que um dia amaria desse jeito.

Gabriel estacionou o carro em uma vaga de deficiente e nós descemos. Vi que o mesmo médico que me atendeu nos esperava na porta com duas enfermeiras e uma maca. E as coisas aconteceram como um filme em meus olhos. Iasmin abraçada comigo e chorando desconsolada, Gabriel do meu lado, me dando força. Eu olhei para Rafaela pela última vez e prendi o ar, depois o soltei por um bom tempo.

Quem dera se fosse assim também com os nossos sentimentos ou então com as más fases da vida.

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Capítulo 22 finaliza a narração do Lucas e inicia mais dois capítulos com a narração de Rafaela para então o grand-finale da história.

Me aguardem!!!!!!!!!!

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 30/06/2014
Reeditado em 06/12/2020
Código do texto: T4863709
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