[Original] Ela me faz - Capítulo 16
Capítulo 16 – Pamela
Na segunda, depois de uma manhã de trabalho intenso eu voltei para casa com tranquilidade que não durou por muito tempo graças a uma sms de Iasmin que dizia o seguinte:
“Oi, Rafa! Vem pra casa o mais rápido que puder... E preparada, sério”.
Eu cheguei em casa ofegante, pois nunca se sabe o que essas palavras podem significar. Para o meu total espanto quando cheguei em casa encontrei Lucas e uma garota conversando no sofá. E pela troca de olhares eles se conheciam de longas datas. Iasmin estava na porta da cozinha os observando também e parecia tão confusa quanto eu.
Lucas me olhou e sorriu, levantando-se para apresentar a garota. Fixei meu olhar no dele, que pareceu ter entendido minha confusão.
- Rafaela, Iasmin... Essa é a Pamela. Minha amiga desde... Sei lá, desde que eu me conheço por gente.
E eles trocaram aquele olhar cumplice de quem se conhecia demais. E sim, o ciúme ardeu em mim de uma forma quase irrefreável. Tá, tá, eu sei que ele tem uma história, uma vida antes de mim, mas a forma com que ela o olhou havia algo a mais.
Iasmin foi a primeira a trocar um cumprimento gentil com Pamela. Depois ela veio em minha direção e eu tentei ser no mínimo educada, mas sou clara demais pra isso. Chega a ser vergonhoso.
- Oi, prazer! Desculpa invadir a casa de vocês assim.
- Sem problemas. – Iasmin falou, tentando, como eu, agir naturalmente. – Fique à vontade.
Lancei um sorriso a garota e outro para Iasmin. Ela apontou pra escada e então subimos para o meu quarto.
- Eu estou tão surpresa quanto você. – Eu a ouvi dizer, mas não sabia bem o que responder diante de uma situação dessas. – Lucas não passaria o nosso endereço pra ela sem nos avisar.
- Acho que não.
- Ou passaria?
- Não sei. Sinceramente não sei...
A tensão em meu rosto não passou despercebida por Iasmin.
- Vocês conversaram?
- Sim, conversamos.
- E aí?
- Nos acertamos.
- Sério? – Iasmin segurou a minha mão. – Que notícia maravilhosa.
Assenti apenas, pois no momento em que ia dizer algo uma nova voz soou na sala. Era Olívia. Voltamos pra sala no mesmo instante. A expressão dela ao me ver não podia ser de maior desprezo.
- Hoje as coisas por aqui estão bastante animadas. – Olívia murmurou, e apesar de todo o veneno de sua voz, ela estava acabada. Pálida, o cabelo colorido preso num coque severo. Os olhos inchados de quem chorou por muitas horas. – Eu preciso conversar com você, Lucas.
- Bah, claro. – Respondeu ele e então nos olhou. – Hã...
- Ah, vamos subir... Você vem, Pamela? – Iasmin perguntou, mas não era bem um convite já que ela segurou a mão da visita e a guiou para o andar de cima.
- Quem é a guria? – Ela perguntou, quando já estávamos novamente no quarto.
- Namorada do Lucas. – Respondeu Iasmin. E enquanto elas conversavam, pude observar o quanto Pamela era bonita. Bonita de um jeito convencional, mas tinha uma simpatia que a fazia ser diferente. Cabelos na altura do ombro e bastante escuro. Olhos penetrantes e castanhos. É magra e tem um rosto redondo, mas suave. E aquilo foi um soco no meu estômago ao constatar que ela era apaixonada por Lucas. É óbvio. Por mais amigos que eles possam ser, ninguém sairia do Rio Grande do Sul para vir a São Paulo (de surpresa, pelo menos eu espero que tenha sido assim) se não for por um motivo muito forte. E não que eu sempre pense o pior das coisas, mas amor é um motivo bastante forte, não é?
- O magrelo como sempre arrasando corações. – Ela murmurou, risonha. – Eu tive que vir de surpresa, mas bem que tentei avisar... Lucas não atende esse celular de forma alguma.
- Você sabia o endereço daqui?
- Bah, eu pedi pro Lennon.
Eu e Iasmin trocamos um rápido olhar, mas não dissemos nada. Pamela que falou por nós. Contou sobre sua amizade com Lucas, e de como se conheceram, da infância/adolescência no Sul e de como sofreu com a partida dele. Eu observei cada expressão sua e me vi tentada a perguntar sobre seus verdadeiros sentimentos por ele.
- E é só amizade da sua parte? – Eu perguntei, cortando seu relato de como chorou com a vinda dele pra São Paulo.
- Ah... – Ela sorriu, tímida. – Da parte dele sim. Da minha, infelizmente não. Lucas sempre disse que jamais estragaria a nossa amizade. E ele tem se mantido fiel nisso.
- Lucas desde sempre uma grande pessoa. – Comentei, irônica. Pamela assentiu, como um cachorrinho obediente.
Claro que ela não entendeu, mas Iasmin sim.
Uma hora depois, Lucas entrou no quarto com a expressão séria. E me olhou fixamente.
- O pai de Olívia faleceu nesse final de semana.
- Nossa. – Exclamou Iasmin, tapando a boca.
- Nossa, sinto muito. – Pamela murmurou, sem perceber que o aviso era só pra mim.
Ele não terminou com ela. Lucas não teria coragem diante de uma situação dessas.
- Meus sentimentos a Olívia. – Eu falei, sincera. – Se me dão licença... Preciso tomar banho.
E foi desse jeito que eu pude sair de toda aquela cena e respirar, gritar e xingar. Entrei no banheiro e comecei a tirar a roupa com raiva. O que mais falta acontecer?
(...)
A noite, quando eu e Iasmin já estávamos no Amália (Lucas não foi para a aula, pois tinha que dar atenção a visita) pude reclamar, xingar e gritar toda a minha ira com a minha atual situação.
- Não gostei muito da animação do Emerson com a chegada da Pamela. – Iasmin disse, pensativa. – E tenho a leve impressão de que ele sabia da chegada dela.
Pior disso tudo foi ver Lucas, Pamela e Emerson combinando de fazer um tour por São Paulo.
- Você acha? Bem, o Lennon não gosta de São Paulo, mas será que mandaria a amiga do irmão vir pra cá agindo com maldade?
- Será que com isso, quer tentar fazer o Lucas voltar pro Sul?
- Precisamos ligar para Isabel. – Eu comentei, me levantando. – Vou ao banheiro.
Eu mal saí da sala e me arrependi de minha decisão ao ver Conrado vindo na minha direção. Ainda tentei voltar pra trás, mas ele me segurou pelo pulso e me forçou a andar com ele.
- Vou ser breve. – Avisou, a voz fria como um cubo de gelo. – Quero saber se as coisas que eu te disse entraram na sua cabeça.
- Sim, entraram. – Ele aguardou eu continuar. Sorri, maldosamente. – E tanto que eu me declarei pro Lucas.
- Aquele cara que mora com você?
- Sim.
Furioso, Conrado me empurrou contra a parede, seu olhar era de mágoa com um misto de ódio.
- E o que ele tem que te deixou assim desse jeito?
- Eu poderia te dar uma lista, porém...
- Você acha que eu vou te deixar em paz?
- Acho que deveria. Eu posso ferrar contigo, Conrado.
- Ah é? – Ele riu, era uma troca de ameaças em tom baixo. – E você por acaso acha que eu vou deixar as coisas que aconteceu de lado?
- Ah, Conrado! Me poupe! Você dá uma de traído, magoado e sei lá mais o que só pra ver se eu me arrependo. Pois te digo sem a menor sombra de dúvidas... – Deixei nossos rostos bem próximos. – Não me arrependo.
E como se a cena se repetisse, Conrado ergueu a mão pra mim, eu fechei meus olhos já esperando apanhar. E dessa vez eu não teria ninguém pra me salvar.
- EI! – A mão dele parou no ar. Ao ver Olívia vindo em nossa direção eu franzi o cenho. Não é possível que ela venha até aqui pra me ver apanhando do meu ex-namorado. É capaz que ela o apoie. – Qual é o teu problema?
- Garota, você não se...
- Você não vai bater nela! – Olívia, certamente possuída de algum demônio defensor dos fracos e oprimidos empurrou Conrado e se colocou em minha frente. Será que ela é feminista? – Você tá bem, Marchiori? – Perguntou, me olhando rapidamente.
- Hã, sim. – Respondi.
Conrado me olhou por um longo tempo até sair pelo corredor em passos lentos. Olívia esperou ele sumir de nossas vistas para então me fitar. Agora esse é o momento em que eu devo alguma coisa pra ela e o pagamento é ficar longe do Lucas.
- Quem era ele? – Perguntou ela. E sim, ela realmente parecia preocupada. E sim, eu estou chocada.
- Meu ex-namorado.
- Ele ia te bater, Marchiori, você tem noção disso? – Agora a pergunta dela fez eu me sentir um tanto ordinária. Meu Deus. A Olívia me defendeu. O que mais tá faltando pro dia de hoje? Ela pedir pra que eu fique com o Lucas?
- Tenho, Olívia. – Respondi, assentindo. Suspirei alto. – Ele é uma pedra no meu sapato.
- Eu notei... Tome cuidado.
Um silêncio invadiu o nosso espaço, até que Olívia me deu um leve sorriso e saiu na mesma direção que Conrado.
- Olívia, espera.
Ela parou.
- Olha, eu sei que temos as nossas diferenças, mas... Obrigada.
- Eu acho que invejo você, Marchiori. – Falou ela, baixando a cabeça por alguns segundos. Dando início a declarações que eu não esperava, mas como ela ter me defendido já superou tudo, acho que isso é até “normal”. – Eu queria que o Lucas olhasse pra mim como olha pra você. Ou até mesmo que os olhos dele brilhassem como brilham quando menciona o seu nome. E eu sei que você gosta dele. É óbvio demais.
Eu assenti e isso não a surpreendeu. Olívia segurou a minha mão e me olhou. E foi então que ela disse as palavras que eu jamais me esqueceria.
- Eu vou terminar com o Lucas. E eu espero do fundo do meu coração que você o faça feliz. Ele merece ser feliz... Muito feliz.
Olívia soltou as minhas mãos e antes que eu pudesse respondê-la, ela sumiu entre os corredores do Amália. Eu voltei pra sala de aula com o coração disparado e as mãos trêmulas. Iasmin precisa saber disso. Mas, ao abrir a porta, o meu horror foi tão grande que eu travei no meio do caminho. Meus lábios secaram e a respiração descompassou.
- Então meninos... Eu vou substituir a professora de inglês que agora está de férias!
Era Raquel, a culpada pelo fim do meu relacionamento com Conrado.
O silêncio reinou na sala com a minha entrada.
“Não, isso não pode estar acontecendo comigo.”
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Notinhas da autora ;-) (Antes eu fazia a bananada de postar aviso, agora usarei o fim do post pras N/A)
Olá!!
Antes de postar esses dois capítulos eu estava dando uma checada em meus textos aqui e devo dizer que de todos os sites que participei, o RL foi que mais viu minha evolução como pessoa. Estou aqui desde 2009 e caracas!!! De lá pra cá foram várias histórias, várias fases e eu simplesmente não me canso daqui (já fui do Nyah e me cansei, já participei de uns sites, já quase tive blog pra fanfic, já quase postei em tumblr, etc). Eu me sinto em casa. Me sinto bem postando minhas histórias aqui. O Recanto é um site que une todas as tribos uahauheuhuahauhaa mas acho que uma reforma aqui não seria de todo mal não <3
E sobre "EMF"... Bem, a chegada de Pamela (que vai ser mais uma pedrinha no sapato de Lucas) e a volta de Raquel significam mais um loopzinho no relacionamento de Lucas e Rafaela, mas também trará personagens de outras histórias. E a reta final tá chegando... Pois é!! Darei sossego aos meus personagens gaúchos. Desapegar também é bom auhauhaua
Eu tenho outra história em mente, mas vou precisar de um tempo longe pra poder escrever com calma. Já tenho até o nome dos protagonistas <3
Até breve <3
Uma prévia do capítulo 17 -
"- Caramba! Como você demorou! – O rapaz exclamou, irritado. – Eu já estava indo embora.
- O trânsito dessa cidade é terrível, até parece que você não sabe. – A mulher respondeu, colocando sua bolsa sob o colo. Os dois sentaram-se sob a mesa.
- Sei sim.
- Então, desde que eu te fiz terminar com a sua namoradinha você não me ligou mais... Estou surpresa com a ligação. – Raquel mordeu o lábio, lembrando-se dos momentos vividos com Conrado.
- Eu preciso da sua ajuda para ferrar a Rafaela."