Fan Fic Percy Jackson >> Decisões. (Capítulo 7)

Capítulo 7 : Sou encarado pela poeira.

Resumo de estado físico:

1.cãibras nas pernas dobradas há muito tempo

2.olhos querendo fechar

3.cabeça rodando de tanta informação processada (e aposto que vou esquecer metade amanhã de manhã)

4.total falta de sensibilidade nos dedos da mão (que já lixaram e poliram e mexeram em tantas pecinhas minúsculas que provavelmente já afinaram)

Fora o pequeno detalhe que eu estou morrendo de sono,provavelmente porque já são quase duas da madrugada.Qual é,filhos de Hades dormem no horário normal,beleza?

Bem,não é minha culpa se little Annie insiste em só ir dormir quando estiver tudo montado.Nosso amigo novato já rumou pro chalé 7 faz tempo.Até Quíron já tinha nos mandado parar e terminar amanhã,mas só o que ela fez foi sair da área aberta e me arrastar até as portas do meu chalé,cujo lado de fora,a essa altura,estava iluminado pela luz esverdeada do fogo grego.

Pelo menos,a coisa estranha (que eu passarei a chamar de MH) já parece estar quase pronta.Já faz um bom tempo que meu único trabalho é passar ferramentas ou juntar duas peças para Anne parafusar. Não que eu esteja realmente ligando pra isso.Minha cabeça com DDA já se perdeu nessas peças e engrenagens minúsculas há muito tempo atrás.

-Acabei! - o sussurro empolgado de Anne me tirou dos meus pensamentos. Bom,tomara que dê certo.

-Ahn,é,vai dar.

O aparelho,se é que se pode chamar assim,ficou com uns 30 centímetros e uma forma cilíndrica.De um lado,uma bainha de couro pra segurar.Do outro,dois fios de cobre com bolinhas na ponta.Debaixo,uma camada de espuma acolchoada,e depois uma bolinha e uma placa metálicas,com mais alguns fios.Se não me falhe a memória,a bolinha ia bater na lâmina,o som ia ficar na câmara por causa da espuma e ia ser processado pra ter a frequência abaixada.Claro,tudo isso não era NADA COMPLEXO.

-Bom,posso ir dormir agora?

-Pode,Jamie.Boa noite.

Eu me levantara de uma salto,quase me esquecendo das pernas dormentes, até que senti uma dor nelas,e,a contragosto,esperei alguns segundos a circulação voltar ao normal. -Boa noite,Anne - e fechei a porta atrás de mim assim que a sombra pareceu ter chegado ao chalé 6. E, mal entrei no cubículo escuro onde Sam e Adam roncavam, me joguei na cama, e , se fosse possível,teria dormido antes mesmo de fechar os olhos.

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Bom,estou tenso.Provavelmente posso dizer que Anne também está. Praticamente acabamos de tomar café da manhã,e,como dito noite passada,é hora de testar nossas invenções (na falta de um nome melhor).Como a proporção nº de campistas/nºde invenções era 2/1,e pra não ficar injusto,tivemos nossos nomes colocados num saquinho de linho marrom.À medida que fosse necessário,os nomes seriam puxados dali.À essa altura,todos já estavam fazendo preces (silenciosas ou não) para não serem os "sortudos" a testar o equipamento de Sam e Paul. Devido às "boas energias" da dupla,provavelmente,ele explodira pelo menos três vezes ontem,a última até com umas faíscas legais. Estava quase fazendo uma prece silenciosa a Hades,mas não foi necessário: meu lindo nome foi o primeiro a sair do saquinho.

Bom,posso até dizer que tive sorte,já que fui ser cobaia da invenção de dois dos filhos de Hermes.No começo,juro,senti nojo.Dentro do plástico tinha uma gosma nojenta verde-musgo. Provavelmente não-programada, ou assim me pareceu. Cruzei os dedos nas costas, enquanto o garoto louro apertava um botão. Esperei. E esperei.

-Afinal de contas,é pra hoje?Quero sair daqui antes do fim do ano,obrigado - bom,a paciência não está no topo da minha (grande) lista de virtudes.

Alguma coisa estava errada,e eu não fui o único a notar.Quando um burburinho começou,Quíron disse educadamente aos dois garotos para se afastarem do local de testes,ao mesmo tempo em que um deles pressionava de novo o botão (dessa vez com um pouco de força demais). O que aconteceu em seguida não foi lá muito legal.

De alguma maneira que não consigo imaginar,o plástico se rompeu.E quando eu digo se rompeu,quero dizer,tipo assim,do nada.A gosma escura dentro pareceu dizer algo como "puxa vida,estou livre!",na fração de segundo antes de ser esguichada com força uns três metros acima,e depois cair exatamente no mesmo lugar.Obviamente lambuzando os dois garotos com alguma coisa desconhecida,o que foi a parte nojenta.

Claro que todas as pessoas próximas tinham corrido loucamente e o mais rápido possível pra longe daquele ponto,de modo que ninguém mais foi atingido pela SVNI (substância voadora não-identificada).

Depois,tudo prosseguiu normalmente,como se explosões de gosma fossem a coisa mais frequente num lugar como o acampamento.Por algum motivo não revelado(embora,claro, todo mundo já soubesse) Quíron disse discretamente que era melhor Sam e Paul NÃO TESTAREM o invento.Enquanto falou isso,deu uma rápida olhada para o grupo, como se fosse a última vez que nos veria naquele estado.

Por uma ironia do destino,Paul foi o escolhido pra testar nosso MH. Annie deu alguns passos à frente.Obviamente ela ia fazer o teste nele, porque,se fosse eu,alguém provavelmente ia acabar ficando muito irritado, juro que não sei o motivo.Assim que ficou cara a cara com ele, Anne apertou um botão,e,a alguns passos de distância,pude sentir uma fraca onda de energia passar pelos fios de cobre.

Por uma fração de segundo,pensei em como seria engraçado se não desse certo e o negócio simplesmente explodisse na cara de Paul.Mas, meia fração de segundo depois,meus braços começaram a pesar assim que meu cérebro pensou que provavelmente,seríamos o chalé "sorteado" para a limpeza na cozinha.Nessa hora,pedi que tudo corresse bem,e funcionasse perfeitamente.

Por alguns poucos angustiantes segundos,nada aconteceu.Depois,pude ver uma pequena mudança na expressão de Paul.Como sempre acontecia quando ficava nervoso,estava muito mais ligado nos detalhes (muito mais que o normal),então deu pra notar a que Paul estava com uma cara de idiota mais pronunciada (também muito mais que o normal).

-Paul,onde você está? - Anne perguntou-lhe,a voz suave.Direta e clara,mas suave.

-No acampamento meio-sangue - ele demorou um pouco pra responder - Em Long Island,New York.

-Não,Paul - na sua voz,havia um tom sutil de repreeensão,e ela apertou mais uma vez o botão - Não existe acampamento meio-sangue. - pausa,como se ele tivesse que absorver a informação - Não existem deuses.Certo,Paul?

Ele parecia muito preocupado com a resposta,até que por fim concordou - É.Não existem deuses.

Anne estalou os dedos,e Paul abanou a cabeça,confuso.Funcionava! Quíron bateu palmas,seguido pelos outros campistas.Nós coramos.

Mesmo assim,percebi que ele olhava de um jeito meio...diferente,sabe pra Anne.Como se,em seus milhares de anos de existência,ali estivesse uma coisa que ele ainda não vira.

Obviamente,depois disso tudo,ganhamos uma semana sem atividades como prêmio.Semana essa que,por sinal,passou bem rápido.Talvez porque a única aula de arco-e-flecha que eu tinha foi subitamente cancelada (descobri depois que um calouro,no horário anterior,sem querer atingira o professor com uma flecha bem no ombro,e Quíron mandou-lhe que repousasse.Bem,ainda há alguém nesse mundo que consegue a proeza de atirar pior que eu).

Bom,e com essa notícia,mal notei quando mais uma semana chegou ao fim.O fim do verão se aproximava cada vez mais,e,como sempre,já sentia uma coisa pesada por antecipação,por ter que deixar aquilo tudo e só voltar nas próximas férias.

Mas,como sempre tem que ter alguma coisa pra estragar quando tudo corre perfeitamente,na sexta fomos avisados de que faríamos uma limpeza completa em TODO O ACAMPAMENTO no fim de semana.Os murmúrios de protesto começaram instantaneamente:

-Mas isso é muito grande...

-E as harpias de limpeza...

-Devíamos estar treinando...

Mas Quíron não cedeu.Faríamos a limpeza.Depois,correu o boato que as harpias estavam ocupadas com alguma coisa no Olimpo (não dei muito crédito a isso,mas...).Mesmo ninguém sendo a favor,teríamos que limpar nossos chalés,a casa grande,os estábulos,enfim,tudo,tudinho mesmo.

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Sábado de manhã.Mal olhei para Sam e Adam,notei as caras de enterro deles.Sabia que a minha devia estar mais ou menos assim também. Levantamos das camas praticamente à força,e rumamos para o pavilhão do refeitório.Lá,Quíron nos deu algumas "instruções" e nos disse que todo o equipamento que precisássemos já estava na área aberta entre os chalés.Também ressaltou que devíamos limpar cada mínima fresta,cada espaço dos chalés,bem como o exterior e os telhados.

Mal voltamos pro nosso chalé,Sam começou a dar as ordens:

-Adam,você limpa o lado de fora.Não esquece de usar luvas de asbesto quando for limpar alguma coisa perto do fogo grego.James, você fica com o telhado.

-Mas por que eu?

-Prefere limpar aqui dentro? - ela sorriu com escárnio.

Olhei rapidamente o interior do chalé.Não somos as pessoas mais organizadas desse mundo (bem,talvez porque não somos filhos de Afrodite),então,toda vez que havia inspeção,simplesmente enfiávamos e escondíamos as coisas no primeiro lugar que coubesse,e muitas vezes esquecíamos de tirá-las de lá depois.

-Não,obrigada.Já comentei que amo limpar telhados? - todo o sarcasmo inerente à minha pessoa estava naquela frase.

-Hahaha.Engraçadinho.Agora,vamos logo.E assim que acabarem, venham ajudar aqui,ENTENDERAM?

Saí do chalé pra procurar uma escada fingindo que não tinha escutado a última frase.

Pra falar a verdade,o telhado não estava assim tãããão ruim.Algumas folhas e galhos secos presos entre as telhas. Mas não foi a oitava maravilha do mundo,já que parece que nosso telhado tem cara de vaso sanitário pra todo os passarinhos de toda Nova York (ok,exagerei legal).Sério,é péssimo ter que raspar com uma espátula excrementos secos de pombos.Ainda poli o elmo e a placa de latão com o número "13" abaixo dele, ambos para identificação do chalé.Depois,muita água, sabão,e taraaam: aí temos um telhado novo em folha.

Como eu sou um irmão muito do bem,assim que terminei desci pra ajudar a arrumar dentro do chalé.Quase não acreditei quando vi as pilhas de coisas que Sam achara escondidas (inclusive minha bainha preferida para espadas).Ainda ficamos um bom tempo lá.

Era já noitinha quando finalmente acabamos.Saímos,trôpegos,para o ar frio e refrescante da noite.Adam acabava de preencher a última luminária com fogo grego (com todo o cuidado do mundo,já que fogo grego é altamente explosivo e perigoso,ele secara todas as luminárias e limpara,e agora estava enchendo-as de novo).

Com tudo terminado,paramos alguns segundos para observar o chalé de frente.Ele realmente parecia outra coisa.O mármore negro e a obsidiana reluziam com a luz da lua.As luz bruxuleante verde parecia mais viva e ao mesmo tempo mais enigmática.O elmo tinha um brilho meio fosco (é,contraditório assim mesmo),e parecia que era perpassado por sombras toda vez que olhávamos.

Nossa maior vontade era nos jogar na cama e dormir.Estávamos quebrados, devido a todo o abaixa-levanta vai-pra-lá-e-volta.Mesmo assim,fomos para o banheiro,rezando para que ainda tivesse água quente.Alguns chalés ainda estavam sendo arrumados,o que prova que não somo tão bagunceiros assim(pelo menos,não mais bagunceiros que o chalé de Hermes,que mesmo sem todos os antigos indeterminados,era uma zona).

Banho,jantar e cama.E só.

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Domingo.Segundo e último dia da grande limpeza.Eu,Kay,Anne e o novato, o tal do Louis,ficamos encarregados de limpar o sótão.Sério,só podia ser brincadeira.Depois do telhado ontem,me mandarem pra um lugar tão cheio de poeira assim,até parece que nunca foi limpo na vida. Obviamente,Kay quase enfartou ao ver um lugar tão podre e cheio de poeira,e a primeira coisa que fez foi escancarar as janelas,e a luz ofuscante do sol entrou com tudo no aposento,fazendo-nos ver os grãos de poeira flutuando até o chão.Agradeci por não ter rinite,alegia a pó ou algo do tipo.

Ali,o trabalho era chato.Chato mesmo,porque todos os heróis usavam o sótão como "depósito de souvenires de batalha".Chifre de minotauro,um dente de lestrigão,escamas de dragão,tudo lá,nas redomas,misturado, alguns até virados,vidro quebrado pelo chão.Era pra tirar toda a poeira, limpar a redoma e lustrar a plaquinha com o nome do herói e a identificação embaixo. Um saco. E pior,o sol parecia me perseguir. Ahn? você pergunta.Simples:sou fotofóbico.Sam e Adam também.É como se fôssemos mais sensíveis à luz e à claridade,e mais adaptados ao escuro. O porquê é mais do que óbvio.E,como se só pra me irritar,o sol parecia querer brilhar com muita força,sempre contra meus olhos. Apolo provavelmente estava muito feliz hoje. Não comentei nada,afinal,era o único ali que parecia não gostar daquela claridade horrível.Sendo filho de Apolo,Louis adorava o sol.Kay e Anne também.A luz parecia deixá-los mais animados,por assim dizer.Refletia-se nos cabelos das garotas: os de Kay literalmente faiscavam,assumindo um tom de vermelho-alaranjado natural incrível.Os de Anne brilhavam em um milhão de cachos dourados.Os olhos azuis e verdes ficavam translúcidos. Estavam tão animadas que nem parecia que estávamos limpando o sótão.

-Gente,o que é isso? - Louis mexia num grande sarcófago de madeira entalhada,provavelmente mais sujo do que tudo ali.

-Não mexe nisso! -gritou Kay.

Tarde demais.

O sarcófago caiu com tudo no chão,fazendo um barulho surdo muito estranho.E ainda jogando em toda a sala uma poeira densa e marrom, fazendo-nos tossir loucamente.

E,no meio daquilo tudo,aconteceu uma coisa mais do que muito estranha. Tentei abrir os olhos,pra ver se o pó já tinha abaixado,só pra ficar com a visão enevoada com a poeira que insistia em fica pelo ar. E, no meio dela,havia olhos me fitando.Sim,olhos.Grandes olhos verdes curiosos,amendoados,olhando diretamente pra mim.Pisquei, atordoado. Eles sumiram,ao mesmo tempo em que a poeira baixava.

-E como eu estava dizendo antes de ser tão bruscamente interrompida - continuou Kay,limpando a garganta como se nada tivesse acontecido - Esse é o sarcófago do antigo Oráculo de Delfos,o que sofreu a maldição de Hades.