[Original] The Simple Plan - Capítulo 38

Capítulo 38 - Quarta-feira / Ironia - Abençoada seja

Sabe aqueles dias em que você esta insuportável? (sei que pra alguns é todo dia), que qualquer coisa te irrita (e não, você não precisa estar de TPM pra estar assim, qualé)? Pois bem, eu acordei assim na quarta-feira, que por sinal estava com o clima parecido com o meu humor. O que significa, resumidamente falando que... Eu estava o bicho.

Sai de casa às 6h55. Eu cheguei à escola me arrastando, até aí normal, eu sempre me arrasto pra ir a escola. Eu e metade da classe estudantil do Brasil.

Bem, antes de falar como foi a minha ida a escola, vou contar meu visual. Eu estava com um coque – eu só uso coque quando estou impaciente pra arrumar cabelo – aqueles bem mal feitos. Afinal, é só um cabelo, quando eu morrer a terra vai come-lo mesmo, não é? E eu estava com uma camiseta escrita FOREVER ALONE que eu ganhei do Diego (ele é um amor de pessoa, tão... Eu não tenho palavras pra descrever o que sinto por esse garoto) e uma calça moletom preta (por favor, calça moletom é algo que acaba com a pessoa, do tipo de roupa é a que eu considero depre total) e um all star preto, comum mesmo, e ah, no rosto eu carregava a cara de puro tédio.

Eu sou mesmo insuportável, tem dia que até eu me odeio.

Quando pisei na escola eu respirei fundo, bem fundo mesmo. o dia estava cinzento, eu estava péssima, seria obrigada a conviver com pessoas que mentiram pra mim. Qual é Deus? Eu atirei pedra na sua cruz?

A inspetora da escola me olhou com sua habitual cara de sapo gordo, mas eu a ignorei, eu não estava a fim de discutir com ela. Segui pra minha sala, estava tendo apresentação da matéria da professora de sociologia, sim, eu sei que essa é a matéria mais insignificante da escola, mas ela faz parte da grade escolar de matérias não? Então, se a porra do governo de SÃO PAULO manda que nós alunos estudemos isso nós temos que estudar, não é?

– Licença professora. – Pedi, dando duas batidas na porta. Quem estava apresentando era... Ah meu Deus... Tiago, Breno e Eric. (Sim, eles voltaram a se falar, são todos filhos da puta).

– Entre Paolla. – Fui pra uma carteira vazia, bem longe da dos meninos.

Breno ficou me olhando com cara de tristeza. Tiago suspirou e Eric não olhou pra mim.

– Professora, que trabalho é esse? – Perguntei, ignorando alguns olhares que me eram direcionados.

– Uma apresentação sobre o que é sociologia, você faltou. – a Professora respondeu. Até que ela é simpática, mas não consigo gostar da matéria dela.

– Ah, desculpe... Eu até tinha amigos que poderiam me avisar, mas sabe como é né professora? – Eu tinha que segurar minha língua, mas eu não conseguia, eu não podia.

– Se você quiser pode fazer com a gente. – Sugeriu Tiago. Eu ri enquanto tirava meu caderno da bolsa.

– Não, porque eu entraria num trabalho com três garotos que eu não dou mais confiança? – Os três ficaram branco. A professora ficou séria.

– Você que sabe. – Tiago disse. Eu assenti, cruzando as pernas, e colocando a mão no joelho, e claro, fingindo estar interessadíssima no que eles iriam falar.

– A Sociologia é uma das ciências humanas que estuda as unidades que formam a sociedade, ou seja, estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela psicologia, a Sociologia tem uma base teórico-metodológica, que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando explicá-los, analisando os homens em suas relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da sociologia. – Breno leu seu resumo mecanicamente. Ele sempre lê assim em trabalhos. Eu retruquei com um resmungo pouco audível.

A professora me olhou.

– Paolla, alguma objeção sobre a explicação dos seus colegas?

– Nada... – Vi Eric apertar com força a folha de almaço que continha sua explicação sobre a matéria. – Ctrl v + Ctrl C na página do Wikipédia vale?

– Se você sabe explicar melhor porque não vem aqui? – Desafiou Eric. Ah, ele ficou irritadinho.

– Você é tão incapaz de fazer algo produtivo pela sociedade Eric, sua existência e nada são a mesma coisa. – Os olhares das pessoas iam de mim para ele e vice-versa.

– E a sua existência é muito benéfica a humanidade né? Você só sabe reclamar de como a vida é injusta, de como tudo pra você só dá errado. – O tom de voz dele aumentou. – Entenda uma coisa: A VIDA É INJUSTA.

– Acalme-se Eric. – A professora disse. Por mais dura que fossem suas palavras eu tinha que segurar as pontas.

– É porque estou realmente cansada de tudo, de todos. Sua falsidade me dá nojo Eric, você é hipócrita e cretino. E seu irmão é igual a você.

– É? E me diz uma coisa garota, isso mudou o que sente por ele? Você é tão cega de amor pelo meu irmão que não consegue aceitar isso! Sabe qual é seu mal Paolla Santana? Você é rancorosa, você não consegue perdoar.

Trinquei os dentes.

– Perdoar não é esquecer.

– E errar é humano. – Tiago disse. Lancei um olhar feroz pra ele.

A sala já estava em pleno silêncio, até a professora se via interessada pela discussão.

– Cale-se você. – Fitei-o com ódio.

– Paolla, quando você vai entender que a porra do mundo não gira ao seu redor? – Breno disse. Eu já podia sentir meus olhos brilharem. – Caralho mano, entenda, a gente fez isso pensando em vocês, ok, mentimos, mas ao menos tentamos! Pense nisso também... E por favor, para de infantilidade, a vida não tá fácil pra ninguém!

Eu segurei até onde pude a vontade de chorar.

– Eu não quero mais olhar na cara de vocês, e dessa vez eu não estou brincando. – Declarei, antes de me levantar e sair da sala. Foi só eu sair porta a fora que as lágrimas saíram descontroladas. Eu não me importei, chorei mesmo, chorei por mim, chorei por Eduardo, chorei pela minha situação, e por infelizmente concordar com Eric sobre isso, não adiantaria eu me comportar como a mais fodida do mundo (mesmo que eu fosse), ninguém ia ficar me adulando ou me implorando perdão. Eu teria que seguir.

Encostei na parede e tentei ignorar o nó que se formava firme em minha garganta.

“Ah querido, vamos lá na sala busca-la! Acredito que a Sonia não se importará.” – Ao reconhecer a voz da professora de teatro eu bati a mão na testa. Eu ainda não me livrei da maldita aula de teatro. – Oh! – Ao me verem ali parada, sorriram. (sim, o querido era para o digníssimo Eduardo Mendes, com toda ironia da palavra, é claro) Eu tive vontade de socar o maldito.

– Paolla, a professora estava me contando que estava com saudades da gente. – Ele disse como se nada tivesse acontecido. Eu quis matá-lo, mas entrei em seu jogo. O que era da nossa intimidade não tinha nada a ver com ela ou com as aulas de teatro. Parece frio né? Eu fazer aulas de teatro com meu ex-namorado quando na verdade eu só quero distancia dele. Parece uma ironia do destino “você não se livrar dele tão cedo”. Algo assim, sei lá.

– Sério? – Ainda bem que eu limpei meu rosto... Não queria a lunática perguntando qual é meu problema e nem dizendo que eu estava com meu inferno astral em alta. – Eu também queria poder dizer que estava com saudades das aulas, mas sabe como é né... Mentir é feio.

– O que disse querida? – Perguntou à surda. Eduardo suspirou.

– Ela disse que também estava professora, vamos pra aula?

Eduardo Mendes

Mesmo sabendo que eu merecia que Paolla acabasse comigo eu não resistia à ideia de provocá-la. A cada provocação ou sorriso forçado dela eu sentia que ainda havia esperanças pra nós dois. Enquanto houvesse esperanças eu não deixaria de lutar.

Quando entramos na conhecidíssima sala de teatro, eu franzi o cenho ao ver que ela estava vazia.

– Professora, cadê o resto do pessoal? – Paolla foi mais rápido e perguntou.

– Hoje iremos encenar o primeiro beijo de Eduardo & Monica, os outros não serão necessário nessa cena.

Eu não consegui conter meu sorriso. Já Paolla soltou um muxoxo alto e fez aquela cara de “E o que mais de ruim me falta acontecer?”.

Paolla Santana

– Professora, não é questão de estar discordando do que a senhora esta falando, eu só não acho certo a Monica ser mais maliciosa que o Eduardo. – Eu argumentei, parando a cena em que a Monica se comportava como uma vadia.

– Querida, a Monica estava alcoolizada! – Ela contra argumentou.

– ELA PODIA ESTAR DROGADA, ESTUPR... – Eu ia dizer poucas e boas pra aquela mulher, mas Eduardo me impediu ao tapar minha boca e me lançar um olhar do tipo: Poupe a sua vida, cale-se. E assim eu fiz.

A professora franziu o cenho, mas não disse nada.

– Professora eu vou levar a Paolla pra beber água, já volto. – E com a boca tapada, Eduardo me arrastou até o corredor onde tinha um bebedouro. Eu mordi a mão dele, que tirou da minha boca e bufou.

– Porque fez isso? – Perguntei.

– Controle-se, por favor.

– Ta me chamando de descontrolada??????? – Eu estava mesmo descontrolada, mas não queria que ele dissesse isso. Never.

– Não. Paolla, sério, vamos tentar fazer isso em paz.

– Aham.

– Depois que aprendeu a ser monossilábica ta ficando abusada...

Eu mostrei o dedo do meio pra ele, finalizando assunto.

Voltamos para a sala e ensaiamos a cena onde Monica tentava por na cabeça de Eduardo que ela não era o certo pra ele. Foi uma cena muito dramática, mas de certa forma interessante. Eu estava meio chocada com a seriedade dele em cena. Talvez Eduardo fosse ator, porque eu sinceramente não podia acreditar que ele tinha toda essa técnica assim... Tão recente.

Mas com certeza a pior cena foi quando tivemos que dançar. Eu podia estar encenando, ok, mas eu ainda tinha um coração batendo dentro do peito, e eu estava dançando com o cara que eu sou completamente apaixonada... Puta que pariu, eu não sou tão assim... Fria.

Eduardo ainda fazia questão de tirar uma casquinha do momento. Por exemplo, quando tivemos que dançar, ele apertava minha cintura, sussurrava no meu ouvido coisas do tipo: “Ah, eu adoro teatro” ou “Você continua sendo tão minha quanto antes”. Eu podia não responder, mas me entregava ao ficar arrepiada pelo toque.

Final da aula de teatro eu fui pra janela tomar um ar, sabe como é né? Eduardo ficou me olhando de longe.

– Você esta legal?

– Pareço não estar?

– Só retardados respondem uma pergunta com outra.

Eu mordi o lábio segurando um palavrão.

– Eu vou embora.

– Espere. – Ele se aproximou. – Vamos ter que ensaiar mais, você esta gaguejando muito.

– Gaguejando... – Repeti, vagamente. Balancei a cabeça, não acreditando no que ele tinha me dito. E o pior de tudo era ver a cara dele, tão cínico, tão... que garoto desprezível.

– É normal Paolla... – Eu assenti.

– Normal...

– Paolla, é sério.

– Não vi ninguém aqui brincando, claro, a não ser você, porque você só pode estar de patifaria com a minha cara não é? – Eduardo franziu o cenho. – NÃO PRECISA ME HUMILHAR, EU SEI QUE VOCÊ É MELHOR ATOR QUE EU, E... – Eu desembestei a falar, e quando eu falo, eu falo demais, como sempre. Acho que eu estava estressada por saber que estava ficando ainda mais velha que Eduardo, só podia ser isso.

Enquanto eu falava, eu ia apontando o dedo na cara dele, que estava ficando bem irritadinho também. Falar cansa, fato, e falar como eu falo, cansa mais ainda.

– Terminou? – Ele perguntou, debochado. Eu tentei respirar, porque estava mesmo sem ar.

– Sim.

E ele me beijou. Não há novidade nisso. Eu xingo, ele beija, eu amoleço, ele vence.

Sem comentários, é.

No caminho pra casa, eu voltei sozinha, sim, meus amigos ou ex-amigos não estavam nem ai pra mim e eu também não estou a fim de falar com ninguém. É o meu lado anti-social se manifestando.

Cheguei em casa e dei de cara com os irmãos de Diego, ambos brincando e se divertindo, eu os invejei, quando somos criança tudo é tão fácil. Baixei a cabeça e segui para o caminho da porta, depois abri, entrei, tropiquei no tapete da sala e depois me sentei no sofá.

– Olá. – Diego entrou na sala com um balde de pipoca.

– Oi. – respondi, seca.

– Mal dia? – Perguntou, agora me analisando da cabeça aos pés e parando o olhar bem no meu cabelo. Ah, droga.

– Sim.

– Quer conversar? – Diego agora olhou em meus olhos, eu suspirei. Que olho lindo poxa...

– Não, dispenso. – Às vezes é melhor evitar tudo, até mesmo uma conversa que me poderia ser boa.

– A aula foi boa? – Eu senti uma ponta de... De... Bem, não é ponta que eu queria realmente dizer, mas sabe quando você sente que a pessoa esta com ciúmes de você? Não, tipo... Ah, eu não sei explicar.

– Não.

– Ba, tu esta muito monossil... – Eu tapei os ouvidos pra não ouvir aquela maldita palavra. Diego se assustou. – O que tu tem?

– ÓDIO! – Eu estava com o ouvido tapado, mas ainda conseguia ouvir, tipo, sou demais.

– E onde eu entro nisso? Porque né, tu ta começando a fazer algo que eu odeio! – Diego já estava ficando alteradinho.

– DANE-SE, EU NÃO QUERO SABER, EU NÃO TO NEM AI PRA NADA!

– Dá pra tu parar de gritar comigo? Acha que ta falando com o teu namoradinho? – Fitei Diego com desdém.

– Eu falo do jeito que eu quiser!!!! E que "namoradinho"? Eu não estou mais com Eduardo, eu não tenho mais ninguém em quem confiar!

– Boa guria! Boa! Agora porque tu ta fodida no amor resolveu se revoltar contra mim?

– EU TO REVOLTADA?

Eu sabia que não era certo estar descontando a minha raiva em Diego pelas provocações de Eduardo na maldita aula de teatro, mas eu não conseguia me controlar, eu estava irada, numa fase de cão.

– Não? Imagine se estivesse hein!

– Ah, que tal você ir para o inferno?

– Te acalma guria.

– NÃO QUERO, ESTOU CHEIA DE TUDO!!!!!!!!!! - Diego olhou pra qualquer canto que não fosse meu rosto, isso me deixou ainda mais irritada, então, como sempre fazendo besteiras, eu resolvi apelar. – E VOCÊ TAMBÉM, SE QUISER DESISTIR DE ME AJUDAR EU DESISTO, POSSO SER IDIOTA, MAS SEI QUAL É A TUA REAL INTENÇÃO.

– Ah, sabe... E qual é?

– SÓ ESTA ME AJUDANDO SÓ PORQUE PENSA QUE IREI TRANSAR COM VOCÊ. – Ele ficou surpreso, o que eu não entendi, porque eu desde o começo imaginava isso dele. Diego não pode ter mudado em tão pouco tempo, isso é tipo... Impossível.

– É. Tu esta errada, mas isso foi bom, eu realmente sei o que pensa de mim.

Eu havia conseguido magoar Diego. Boa, muito bem, Paolla. O que mais falta me acontecer?

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 06/05/2011
Reeditado em 14/07/2014
Código do texto: T2952202
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.