Reflexos. (Capítulo 22)
Esse capítulo é dedicado à Lívia,que fez aniversário ontem \o/ e que é a pessoa mais chata e idiota que eu já conheci EVER *brinks* -ounão.
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Capítulo 22:Manipular.
Me peguei pensando se eu não tava ficando louca.Tipo,dizer uma coisa tipo aquela exatamente a ele? Pros meus padrões normais,isso seria no mínimo muito esquisito.
Mesmo com medo,eu me sentia mais leve,parecia que tinha tirado uma tonelada das minhas costas só o fato de eu ter contado pra uma pessoa cuja existência fosse cientificamente comprovada.
Mas o que mais me intrigava era o fato de que sim,ele tinha acreditado em cada uma das minhas palavras,sem precisar de duas explicações nem de qualquer outra coisa do gênero. ”Bem,melhor do que se ele tivesse pensado em me internar num hospício,não é mesmo?”
Gabe tinha só passado por aqui hoje.Disse que eu tinha que descansar, porque dava pra sentir minha vulnerabilidade de longe.Mas mesmo dormindo horas e horas,nunca me sentia completamente descansada. Sempre havia alguma coisa com que me preocupar.Além disso,meus pesadelos haviam se tornado muito mais frequentes,pra não dizer constantes.Não havia uma noite que eu não tivesse pelo menos três.E o que mais me irritava é que eu não conseguia compreender o significado de nenhum,e me esquecia da maior parte dos detalhes quando acordava.Era como se eles ficassem guardados em alguma parte do meu cérebro onde eu sabia que eles estavam lá,mas não podia acessá-los.Como um bloqueio,me impedindo de contá-los a quem quer que fosse.
Mas uma coisa todos os pesadelos tinham em comum,não posso negar:eram desastres,coisas ruins que aconteciam comigo,com as pessoas próximas e,vez por outra,até mesmo com gente que eu nunca tinha visto na vida.Mesmo nos que tinham relação comigo,era como se eu os assistisse de cima.Eu me via e via aos outros,sem poder de interferência.Não que eu tivesse tentado,mas todas as vezes eu me sentia como se estivesse presa numa bolha transparente. Podia me mexer,e sabia o que a outra Alice lá embaixo pensava e sentia.Eu a via e a sentia.Não posso dizer que ela fazia o mesmo.
Várias e várias vezes acordava gritando,chorando ou empapada de suor,tal era o quanto eu me mexia.Muitas vezes,travesseiros e cobertores eram violentamente empurrados para o chão, e eu nem seuqer notava.Não conseguia ter mais que duas horas de sono ininterruptas.E sempre que acordava,custava um pouco a pegar no sono.Dependia muito de qual tivesse sido o pesadelo anterior.Depois de alguns dias,isso foi me deixando com olheiras,que começaram a ficar cada vez mais fundas e arroxeadas.Pra completar,toda vez meu cabelo amanhecia cheio de nós,até mesmo quando eu tentei predê-lo antes de dormir.Não funcionou.Uma vez,acordei com um arranhão grande e avermelhado contrastando com a pele pálida do meu braço,como se tivessem passado uma unha lá extamente com esse fim. Provavelmente, a unha podia até ser minha.Mas como diabos uma pessoa se auto-arranha durante a noite?Não,eu decididamente não era masoquista a ponto de fazer um negócio desses.
Os dias eram uma sucessão interminável de minutos,que se convertiam em horas,em nenhuma das quais eu relaxava.Mesmo assim,eram preferíveis se comparados às noites. Resumindo:se eu tivesse algum instinto suicida,por menor que fosse,provavelmente já teria dado um jeito de me matar,tal era a situação presente.Minha vida social estava ficando praticamente nula,propositalmente,o que,por outro lado,me deixava cada vez mais e mais triste.Aos poucos,fui deixando de sair de casa,já que toda vez que eu entrava num lugar cheio de gente,minha cabeça ficava prestes a explodir por causa do fluxo contínuo de emoções, sentimentos e dores pertencentes a pessoas que eu sequer sabia da existência.Me sentia como se estivesse invadindo a privacidade delas e me odiava por isso,mas não havia nada que pudesse fazer.Não falava mais com quase ninguém,não entrava no MSN,não dava sinais de vida.6 da noite,era quase certeza:minha cabeça doía de um jeito tão forte que eu sentia como se estivessem enfiando múltiplas facas com dentes pontiagudos em cada mínimo espaço possível,depois girando-as até que meu cérebro saísse pelos buraquinhos.Nas primeiras vezes,tomei aspirinas,mesmo sabendo que não funcionaria.Depois,desisti.Nessas horas,eu me trancava no quarto,com Gabe me olhando:frequentemente entrava em transe,minha voz saía embargada e dizendo coisas sem nexo.Quando passava,não me lembrava de absolutamente nada.
Fora esses PEQUENOS DETALHES,minha vida continuava normal como sempre fora.Ou nem tanto assim,já que,agora,certas pessoas (leia-se Henrique) ficavam olhando pra mim de um jeito estranho,me seguindo de vez em quando (leia-se sempre),como se com medo de que eu fosse desmaiar.Apesar de todos os problemas,sentia que ao menos tivera um pequeno progresso nessa parte,porque eu meio que tinha pressentimentos de quando alguma coisa estranha ia acontecer comigo.Na maior parte das vezes,eles me davam um ou dois minutos. Não era muito tempo,mas era o suficiente pra dar uma desculpa e sair da sala ou ir pra um lugar sem ninguém.
Resumo dos oito parágrafos anteriores:sou uma pessoa problemática, que está ficando cada vez pior.
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Eu meio que já sabia.Claro,estava mesmo muito óbvio.Eu via,mas fazia força pra não enxergar.
Era inevitável que aquela conversa fosse acontecer.Que aquele assunto fosse posto em pauta.Estava protelando.
Não sentia o mesmo que antes.Não era aquela coisa especial e irreprimível que criava borboletas no meu estômago.Era,pode-se dizer,confortável.Não que não fosse bom,muito pelo contrário.Fazia eu me sentir bem.
Tudo começou com um SMS:
“Alice,preciso falar com você.Urgente.Daqui a pouco eu chego aí.”
Você pode dizer:normal.
Mas,lá no fundo,eu sabia que essa mensagem ia desencadear coisas que eu sinceramente queria que permanecessem guardadas.
-Não dá mais.
-O quê?
-Você ouviu.Não dá mais pra aguentar o que você tá fazendo comigo.
-Mas...pode dizer o que EXATAMENTE eu tô fazendo?Não dá pra entender,tipo do nada você...
-AH,NÃO DÁ PRA ENTENDER?TALVEZ PORQUE VOCÊ TENHA ESQUECIDO QUE TEM UM NAMORADO,E QUE AGORA PASSA DIAS E DIAS JUNTO DE UM CARA QUE VOCÊ DISSE QUE ODIAVA,E QUE TÁ CADA VEZ MAIS E MAIS FRIA COMIGO.E EU ACHANDO QUE ERA CULPA MINHA,QUE EU QUE NÃO TINHA TEMPO,QUE EU NÃO LIGAVA.MAS NÃO,VOCÊ SÓ LIGAVA PRA MIM QUANDO PECISAVA.QUER SABER,CANSEI.NÃO DÁ MAIS.
Reação:zero.Nadica de nada.Eu só fiquei ali parada feito uma tonta,enquanto ele se virava e batia a porta do carro.
Senti as lágrimas começarem a escorrer pela bochecha.”Parabéns,você conseguiu”, pensei.Finalmente conseguiu afastar todo mundo que gosta de você.
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Enquanto isso,uma sombra observava tudo,encoberta pela sombra das árvores.
“É tudo TÃÃÃÃO fácil.Nem acredito,como ele foi fácil de manipular!”