Reflexos. (Capítulo 17)
n/a:
1:Esse capítulo é narrado do ponto de vista de três personagens diferentes.Um é a Alice,óbvio.Os outros dois são segredo por enquanto. Se ajudar,toda vez que tiver uma divisão tipo assim (---x-----x----) é porque houve troca de personagem tá?
2:era pra ter saído ontem,mas eu tava escrevendo de madrugada e cochilei :) Vou tentar postar outro hoje de noite.
3:criei um blog pra essa história e uma possivel proxima,com tudo que se eu fosse colocar aqui não ia dar muito certo.Pra quem interessar,o endereço é reflexoseocm.blogspot.com
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Capítulo 17:A chegada.
Ela caminhava pela rua.Passos regulares,seguros.Sabia a sensação que causava quando passava.As pessoas se viravam para olhar,os homens mostravam um desejo,as mulheres inveja.Ela riu.Um riso sarcástico,com escárnio.Sabia que estava muito acima de todos aqueles humanos idiotas.Eles nunca chegariam nem mesmo aos pés dela.
Não que não fosse bonita.Muito pelo contrário,fora especialmente moldada para causar esse tipo de sensação.Era um prazer,isso de ver os outros desejando,invejosos,irados.Fazia ela se sentir bem.Ela respirava isso,comia isso,vivia disso.Era sua essência.
Claro que poderia mudar quando quisesse.Só de pensar.Mas ainda achava que essa era uma das melhores mudanças que já tinha feito.Aparentava seu uma adolescente,quase adulta,na faixa de 17 a 20 anos.A pele macia,pálida.Os cabelos perfeitamente sedosos caindo pesados, cobrindo suas costas e acentuando suas curvas perfeitas.Os lábios grossos,olhos grandes,tudo perfeitamente centrado no rosto.
Mesmo olhando muito,não percebia-se um defeito naquela criatura.Ela própria via isso refletido nos pensamentos das pessoas ao seu redor.Sentia-se tentada a parar,mexer as pecinhas para causar ao menos uma pequena confusão.Uma briga de rua,quem sabe um atropelamento ou uma batida de carros.
Não,disse a si mesma.Foco.Precisava achar uma pessoa.Para isso fora mandada.Era só levá-la,e ser liberta de sua sentença.Deliciou-se com esse pensamento.Ainda achava injusto uma pena de quinhentos anos por um erro no ensino médio.Essa era sua chance.Talvez a unica.Não iria desperdiçá-la,de jeito nenhum.
Virou-se e entrou num beco.O cheiro de lixo,coisas podres e gás sulfúrico deixou-a instantaneamente relaxada.Pôs os pensamentos em ordem.Foi vagando pela mente de pessoas,até se concentrar em uma.Sim,era ela.Inconfundível.Blergh,como era insuportavelmente boa.
Concentrou-se mais.Foi absorvendo as informações,mas lhe faltava uma,a mais crucial de todas.Vasculhou mais fundo,mais e mais. Finalmente,um sorriso se abriu em seu rosto.
-Alice.
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Senti uma pontada na cabeça.Forte.Até parecia uma das que eu tinha quando estava com crise de sinusite.Coisa que eu não tinha naquele momento.Senti,de novo,minhas pernas bambearem.Tentei me concentrar no pátio à minha frente,em uma pessoa em particular.
Ele me esperava na frente dos portões,uma expressão preocupada no rosto.Quando me viu,abriu um sorriso,que se desfez ao ver quem me ajudava a chegar até o carro sem cair.
-Alice!Que aconteceu,por que você tá mole desse jeito?
-Ela desmaiou de novo,duas vezes. - o olhar do Henrique era desafiador.
-Ah,esqueci que seu nome agora é Alice também.Prazer,Rodrigo. - a ironia estava mais marcante do que nunca.
-Henrique.
Senti a tensão no ar.
-Então,vamos?
-Claro.Quer ajuda pra subir?
-Não,não precisa,dá pra ir sozinha.Pelo amor de Deus,até parece que eu tenho osteoporose ou algo do tipo.
-Muito engraçado,nem sonha com um negocio desses.
Henrique me fitava com um olhar vazio.
-Uhn,érm,brigada.
-Nada.Precisando,só chamar. - ele bateu continência enquanto dizia isso.
Não pude deixar de rir.
Rodrigo ligou o carro,fomos embora.Mesmo assim,sentia que um par de olhos ainda estava pousado sobre mim,e permaneceu assim até o carro virar a esquina.
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O dia tinha sido bom.Calmo,tranquilo,nada que eu pudesse chamar de pelo menos pouco normal.Mesmo assim,um sentimento perturbador permanecia comigo.Mesmo no meio de toda essa paz,havia uma ilha de pânico,de perigo,de ódio.Alguma coisa estava errada.MUITO errada.
Quando eu cheguei em casa,minha avó exibia o mesmo ar de preocupação. Olhou pra mim como se estivesse agradecendo por eu ter chegado viva e sã em casa.Pela minha expressão,acho que ela também notou que eu sentira alguma coisa ruim.
Custamos a pegar no sono.Pela primeira vez,eu tinha praticamente certeza que teria um pesadelo.Também pela primeira vez,acertei.
Foi o meu pesadelo mais confuso.Nos outros,as coisas estavam nítidas e tinham formas definidas,eu diria até que eram lineares.Nesse,tudo não passava de borrões.Rostos e mais rostos sem focos,perdidos numa imensidão preto-acinzentada.Era como uma sequência de fotos de um filme,colocadas na ordem errada.Apareciam muitas pessoas conhecidas, desde meus amigos até o padeiro da esquina.Mas sempre,em todas as cenas,estava presente a mesma sombra,o mesmo vulto negro,que em cada uma tomava proporções diferentes.
Acordei de súbito.Sem gritos.Como a maioria das pessoas acorda da maioria dos pesadelos.Depois,continuei seguindo a maioria e fiz o que praticamente todo mundo faz quando acorda no meio da madrugada: puxei o cobertor,virei pra o lado e dormi de novo.
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Ela queria acabar logo com tudo aquilo.Odiava estar no meio mortal,e odiava mais ainda por não poder causar problemas."Por enquanto', pensou consigo mesma."Vai ser muito fácil levar essa garota agora".
Absorvida nesses pensamentos,ela não tinha notado que estava sendo seguida.Mas depois,quando inspirou bem fundo,sentiu um cheiro estranho.Enjoativamente doce.Mesmo estando a uma certa distância de todas as poucas pessoas que passavam pela rua àquela hora da madrugada,o cheiro tomou conta dela.Virou-se para todos os lados, procurando de onde poderia estar vindo.
Nesse instante,uma coisa se desmaterializou.Milésimos de segundo antes de ela olhar exatamente pra o lugar onde o cheiro (e o corpo que o carregava ) estavam.
Não sentiu mais cheiro nenhum,e continuou seu caminho.
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Chegou à frente da casa.Olhou pra ela,observou todos os seus mínimos detalhes.Após o jardim,primeiro andar,na segunda janela à esquerda, localizou a garota.Dormia feito um anjo.No mesmo quarto,notou alguém dormindo com ela.A avó,possivelmente.A janela estava trancada.
Não que uma janela fosse realmente um problema para seres como ela.Talvez fosse um golpe de sorte ela não ser tão velha nem tão poderosa,mas com certeza ela estava irada.Via nessa uma oportunidade que não pretendia deixar escapar.
E sim,isso era um problema.