Reflexos. (Capítulo 8)

Amores,sorry pela demora,mas eu me dei férias (XD) ,e fui pra um lugar distante e isolado,que,detalhe,não tinha internet.MAS,pra compensar,o capítulo de hoje vai ser gigante :9 Ah,antes que eu esqueça,Feliz Ano Novo (atrasado :P),e que ele traga tudo de bom e muita inspiração :D

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Capítulo 8:Amigos?

Meus pensamentos (e meus hormônios) estavam a mil.Sei lá,talvez eu só estivesse feliz demais pela minha primeira noite sem pesadelos,e a sensação fosse só uma coincidência.Acorda,Alice,o Rodrigo te beija na bochecha há o que,anos?Mas a verdade é que eu achava que aquele beijo foi diferente,tão...sei lá.

De voltá à realidade,ou seja,à frente da escola,com o emblema em cima dos portões duplos e a construção mais antiga que meu tataravô.Aquela visão geralmente me deixava depressiva,porque me lembrava das minhas obrigações,das minhas desilusões, e, mais recentemente, dos meus problemas.As únicas coisas que se salvavam daquele prédio eram minhas amigas.Eu e a Jéssica estudamos juntas desde sempre,a Dani e a Bia se juntaram a nós um pouco depois.

Andei até a sala no "modo automático".Sete horas,o que significa que,provavelmente,ninguém interessante tenha chegado ainda,porque as meninas só chegam depois de sete e dez.Joguei a mochila no lugar de sempre e fui dar uma volta.Bem,você pode se perguntar,qual a graça de se andar pela escola.Nenhuma,eu te digo.Mas a minha escola,apesar de ter a frente igual à de um internato puritano,é legalzinha na ala "nova".Mas,com certeza,a melhor parte dela é a biblioteca,que foi transferida pra uma saletinha que fica meio que na parte de trás,acessível também pelo lado de fora.

Bom vamos até lá.Não estranhem o "vamos",significa que eu tô falando de mim e da minha consciência.Entre os corredores das salas do ensino médio e os do fundamental,tem um galpão gigante,com jardins dos lados,passa-se por ele e chega-se à parte nova o colégio.A bibliotecária é quase tão velha quanto a construção,mas é super gente boa,e já decorou meus gostos de tanto que eu dou as caras por aqui.Ela me mostrou os livros novos que tinham chegado,e eu fiquei,como sempre,tentando me decidir entre as opções.É claro que eu só escolhi quando o sinal tocou.Assinei lá e entrei no colégio.Cheguei na sala um segundo antes do professor.As meninas já estavam lá. E,para minha infelicidade,o pentelho do Henrique tinha,de novo, sentado exatamente do meu lado.Ou era meu carma ou esse menino foi posto no mundo só pra me encher o saco.

Pra minha total surpresa,o dia foi até que bom.Sem pesadelos,sem irritações,sem nada,exceto as 20 questões de Física pra amanhã ¬¬

Como previsto,as questões me levaram a tarde praticamente toda. Quando eu terminei,liguei a TV e fiquei vendo um filme lá até a hora da janta.Que,pra variar,foi feita pela minha pessoa e meu amigo imaginário.Só pra constar,eu não via o meu pai desde o começo da semana,e minha mãe só quando eu fui descer as escadas e a porta do quarto estava aberta,me dizendo que ela tava dormindo.Terminei de comer e subi,fiquei na internet até não sei que horas.

Hora de dormir.Tomei um banho quente e relaxante.A cama parecia chamar meu nome,e o edredom era tão fofinho que apesar da apreensão, mal eu caí na cama,já estava dormindo.

Essa noite,lembrei de todos os meus sonhos,nos mínimos detalhes. Começou comigo num jardim,junto com o Rodrigo.Depois,o Henrique aparecia,ficava conversando com a gente (por mais improvável que isso fosse) e a Jéssica chegava com uma cesta de piquenique.Aí,do nada,todo mundo sumia,eu ficava lá sozinha num campo seco e escuro,mórbido.Mas não era um campo.Era um cemitério.

Eu não sabia o que fazer.O único barulho audível eram os meus pés amassando as folhas secas do chão.Tudo vazio,exceto,claro,pelas lápides e uma construção não identificada no fundo.É claro que eu fui até lá.Era uma igreja,abandonada há una milhares de anos.Os tijolos estavam escuros como a noite,que,por sinal,não tinha estrelas,só uma lua completa e amarelada lá em cima.A porta de madeira tava envergada,descascando e cheia de cupins.Mesmo com essa aparência convidativa (perceba a ironia) eu sentia que precisava entrar lá.

O interior era tão colorido quanto o lado de fora.A igreja deva ter o tamanho do meu quarto.Mas não,não era uma igreja.Não daquele tamanho.Era uma capela,com um ofertório e uma escada,que eu supus que levava até o sino grande e enferrujado.Mas ali dentro,o que me chamou atenção foram os desenhos descascados das paredes. Nelas, dava pra ver um monte de bichos nojentos,tipo não compatíveis com a decoração de uma capela.Ratos,corvos,sapos e,principalmente,cobras. Senti um arrepio.Alguma coisa maldita ainda vivia ali dentro,mesmo naquelas condições.Eu tinha a ligeira impressão de que não precisava nem me virar pra saber o que era.

Sim,eu virei.E tive certeza.A mesma visão dos sonhos anteriores,só que agora mil vezes pior,visto que ela não estava refletida num espelho,e sim na minha frente,ali tipo em carne e osso.Melhor dizendo,só pele e osso.Mesmo naquela situação,eu vi que ainda tinha estado de espírito pra notar aquilo.

Você já assistiu HP,certo?Bem,pensa no Voldemort.Agora,escurece a pele dele e coloca escamas nela,pretas como piche. Adicione umas garras nas mão com seis dedos e presas,que chegavam quase até o queixo,fino e pontiagudo.Os olhos eram fendas,vermelhas como sangue. Isso tudo mais as vestes pretas e rasgadas serviram pra me deixar em pânico.Quando isso virou pra mim,eu pensei que fosse morrer naquele exato segundo.Eu sabia que era um sonho,mas de certa forma eu também sabia que ele estava intimamente ligado à realidade.

Depois que virou,a coisa veio se arrastando até mim.Não percebi se arrastava ou se meio que flutuava,porque meus olhos esquadrinhavam o lugar procurando um jeito de sair dali.Mas eu não precisei.

Acordei empapada de suor.O despertador marcava 04:04.Minha vontade de dormir estava em -100.Me arrastei até o banheiro da suíte da minha mãe,que tava dormindo profundamente.Meu pai não tava com ela.Enchi a banheira com água quente e entrei lá.Mesmo com a luz do banheiro acesa e minha mãe a 5 metros de distância,eu estava em pânico.Passei um tempo na banheira,e quando a água começou a esfriar eu saí.Me troquei e desci as escadas,acendendo imediatamente a luz da sala.Fiquei lá,abraçada nos meus joelhos,vendo o tempo passar.Fui à escola,mas a verdade é que se eu não tivesse ido não teria feito a menor diferença,já que eu estava completamente sem foco e com igual taxa de atenção.A Dani tentou várias vezes me trazer de volta à realidade,sem sucesso.Nem as gozações do Henrique me tiraram do sério.Meu estado zumbi se prolongou até o começo da noite,quando eu estava enfurnada no quarto e o telefone tocou.

-Alice? - soltei completamente o ar preso no meu peito.Estava com medo que fosse a minha avó,não sabia o que dizer se fosse ela.

-Oi,Rodrigo,tudo bom? - minha voz soou quase normal.Quase

-Então,arranjou alguma coisa melhor pra fazer amanhã?

-Não,pode seguir com os planos originais.

-Certo,posso passar aí umas quatro horas?Aí dá tempo de pegar a sessão de quatro e meia.

-Fechado.Beijo.

-Outro pra você.Até amanhã.

Não sabia se tinha feito a coisa certa.Se eu continuasse do mesmo jeito que estava hoje,não fazia sentido nenhum ir ver um filme ou fazer qualquer coisa que fosse.Pensei comigo mesma que NÃO acordaria assim,de jeito nenhum.Depois que eu jantei,me forcei a entrar no msn e conversar com toda e qualquer pessoa que aparecesse pra falar comigo,mesmo que a frase mais brilhante dela fosse "o céu é azul".Não funcionou completamente,mas obrigou meu cérebro a funcionar e sair do estado demente.Fiquei vendo coisas idiotas na net,nem percebi o tempo passar.Quando me dei conta,já eram duas da manhã.Decidi dormir.

Eu não coloco despertador nos fins de semana.Nesse,pensei duas vezes sobre isso,mas decidi deixar desligado.Imagina agora a minha cara de surpresa quando eu acordei às 11,completamente sã e com vestígios de bom humor?Graças aos Céus,sem sonhos essa noite.

Quando eram exatamente quatro horas,meu telefone tocou,avisando que o Rodrigo tava me esperando lá embaixo.Avisei pra Rita que ia no cinema e provavelmente jantaria fora.

Rodrigo me esperava com aquele sorriso que nunca sumia.Eu tava até me sentindo bem,quando chegamos no cinema do shopping.Nossas opções eram comédia romântica,documentário,terror e infantil,não que esse último fosse realmente uma opção.Não suporto comédias românticas, e aquela em especial parecia ser muito melosa.Não éramos loucos pra assistir um documentário sobe o fim do mundo (mais um).A opção foi o filme de terror.

Eu não estava muito animada pra assistir ele,mas me decepcionei completamente.Meus pesadelos ganhavam de 1000 a 0 pra o filme.Até que chegou uma hora que o mocinho idiota era enganado pela vilã,que era uma vampira com sede de sangue que queria matar ele.Até aí tudo bem,até que deram um close nos olhos dela.Vermelhos,com sangue escorrendo.A lembrança veio à tona.Explodi em lágrimas silenciosas, que estavam presas desde não sei quando.Quando o Rodrigo percebeu, me tirou do cinema e me levou pra o lado de fora do shopping,que era tipo um parquezinho.

-Alice,o que foi que aconteceu?Por que você começou a chorar do nada,no meio de um filme que não assusta nem uma criança?

Hesitei.

-Ah,sabe o que é... - eu falava entre lágrimas.

Acabei contando a ele.Tudo,nos mínimos detalhes.Eu sabia que ele não ia caçoar de mim.Claro que não.Em vez disso,me abraçou.E,apesar de tudo,eu me senti segura ali.Não importava o mundo lá fora,ou meus pesadelos,ou nada.Éramos só nós,numa cápsula fechada no meio do parque,isolados de tudo e de todos.

Ele segurou meu rosto entre as mãos.Enxugou as lágrimas que insistiam em não escorrer pela minha bochecha.Parecia, intimamente, estar tomando uma decisão.

Foi aí que,delicadamente,nossos lábios se tocaram.

--------------------------------------------------------------------Continua?

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