Reflexos. (Capítulo 7)

Capítulo 7:A volta.

Nessa hora,fiquei em dúvida se devia dizer,se na verdade tudo aquilo não passara só de uma confusão na minha cabeça.Mas eu já estava lá,então não custava nada.

Soltei tudo de uma vez,pensando que talvez fosse me sentir melhor assim:

-Sabeoqueévóéqueontemehojeeutiveunssonhosesquisitostipo

-Não tô entendendo nada,Alice.Para,respira e começa de novo.

-Ontem e hoje eu tive uns sonhos parecidos e esquisitos,eu simplesmente estava nuns lugares diferentes,aí eu parava na frente de um espelho que surgia do nada,e aparecia uma coisa estranha que me fazia entrar em pânico.

-Que coisa,exatamente?

-Não deu pra ver direito,mas esse troço aparecia atrás de mim toda vez que eu olhava no espelho,eu só lembro que tinha uma pele escamosa e o olho bem preto.Mas só com isso eu fiquei com medo.Sei lá,parecia que a coisa emanava uma aura maligna.Ah, - lembrei - e no primeiro sonho tinha alguém gritando o meu nome,mas parecia a minha voz.

-Estranho,isso apareceu nos dois sonhos?

-Aham. - era reconfortante ela não achar que eu estava ficando louca

-Bem,pra te falar a verdade eu não sei o que isso significa,embora eu ache pouco provável que os dois sonhos tenham sido coincidência.

-Hum,aí eu faço o que?

-Bem,vou fazer um banho de lavanda pra você,lavanda é relaxante e talvez você fique melhor.Mas é bom você dormir aqui hoje,e amanhã eu te levo pra escola de manhã.

-Certo - só de conversar com ela eu me sentia mais aliviada,por isso que eu amo a minha avó

Ficamos lá,conversando besteiras e rindo,quando eu olhei pro céu e vi que já tava quase escuro.Cara,o tempo ali passava muito rápido.Quase que adivinhando meus pensamentos,minha avó disse pra entrarmos.

Enquanto ela fazia a janta,coloquei o uniforme na máquina de lavar e fui tomar banho.Meu cabelo tava todo sujo,mas isso não era problema. Tirando o sonho,aquele dia tinha sido até bem legal,sem preocupações.

Eu já disse que amo a comida da minha avó?Sério,é verdade.Se eu morasse com ela,provavelmente seria uma baleia.Quando a gente acabou de jantar,alguém bateu na porta,minha avó foi abrir enquanto eu estava lavando os pratos.

-Oi,vó - por que todo mundo chama a MINHA AVÓ de vó?

Aquela voz...parecia conhecida.Aquela voz grave,clara.Soltei os pratos na pia e fui até a sala,eu tinha que ter certeza.

Cara,era ele mesmo.Meu melhor amigo,tipo,de volta.Quando ele me viu,piscou,perguntou:

-Alice?

-Meu amorzinho! - fui abraçá-lo.Fazia uns três anos que eu não via ele, mas foi só naquela hora que eu vi quanto tinha sentido falta dele.

Disfarçadamente (ou não) minha avó foi até a cozinha,deixando-nos na sala.Parei,olhei pra ele de cima a baixo.Meu Deus, o que era aquilo?

Rodrigo era meu amigo de infância.Era três anos mais velho que eu,mas me adorava.Ele era tipo meu irmão mais velho,meu anjinho protetor.Ele morava num sítio perto do da minha avó,e sempre brincava comigo e cuidava de mim quando eu era menor e vinha pra cá.Eu me lembrava nitidamente dele,o sorriso,as covinhas,os olhos pretos sem fim.Mas esses olhos não me lembravam aqueles outros,porque esses sorriam pra mim.Ele tinha o cabelo muito preto e muito liso,que agora estava cortado bem curto.Mas não era mais aquele garoto magrelo.Tinha encorpado,e muito,nesse tempinho.Eu gostava muito dele,mas muito mesmo.Toda essa análise não levou mais que dois segundos.

-Olha que quem é vivo sempre aparece,né Rodrigo?

-Não reclama,Alice,porque toda vez que vinha visitar sua avó você nunca tava aqui. - ele disse,rindo - Mas então,quais as novidades?

A gente começou a conversar,e tudo fluía assim tão fácil.Eu disse a ele até mesmo minha não tão recente mas ainda dolorida decepção amorosa,mas tive o cuidado de fazer isso num tom de brincadeira.Ele me disse que ele e os pais tinham voltado,e que dessa vez pra ficar.Me contou também que ia começar a faculdade de Direito,que eu sabia que tinha sido sempre o sonho dele.

-Ei,tu vai pro colégio amanhã?

-Bem que eu não queria,mas tenho que ir.

-Que horas começa?

-Sete e quinze,por quê?

-Quer ir comigo?Seja consciente,economize a gasolina da sua avó.

-Ahn...é,pode ser - eu disse entre risos.

-Fique pronta,vinte pras sete eu passo aqui,fechado?

-Fechadíssimo.

Avisei à minha avó,que me respondeu com um sorriso.Sem nada pra fazer,peguei um livro da estante e fui ler.Eu já tinha lido quase todos os livros da minha avó,mas aquele eu nunca vira. Era um romance policial,e eu simplesmente AMO livros assim.O problema (nem sei se é problema na verdade) é que eu leio muito rápido.Tava na metade do livro,minha avó disse que ia dormir.Ela sempre dormia às nove.Como eu não sentia a mínima vontade de ficar acordada e sozinha,fui me deitar também.Mas a verdade é que eu tinha medo de sonhar com aquilo de novo. Era como se eu sentisse que os sonhos eram um tipo de presságio.

Mas,por incrível que pareça,não tive sonho nenhum.Nenhunzinho.Minha avó me acordou seis horas.Tomei banho,vesti o uniforme e fui tomar café com ela.Quando estava pegando a mochila,ouvi uma buzina.

-O Rodrigo chegou,Alice.

-Certo,tô saindo - dei um beijo nela e me encaminhei à porta.

-E,Alice,qualquer coisa que acontecer,qualquer coisa mesmo,me ligue, certo?

-Certo.

Rodrigo me esperava num jipe pequenininho.

-Mesmo lugar?

-Aham.

Fomos escutando música até a cidade,fazendo coro com a melodia.Não éramos muito afinados, e nossas risadas não ajudavam em nada.Nem percebi que já estava na frente da escola.

-Boa aula - ele me disse,com um sorriso.

-Ahn, brigada.

-Ei,você não quer ir no cinema comigo sábado?

-Pode ser.

-Certo,eu te ligo sexta pra confirmar.

Quando eu ia me virar pra sair do carro,ele me deu um beijo na bochecha. Não sei o que aconteceu,mas eu senti um tremor.Um calafrio,enquanto eu sentia que estava corando.

Estranho.Muito estranho.

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Continua?

MLTG
Enviado por MLTG em 19/12/2010
Reeditado em 19/02/2011
Código do texto: T2681176