Os Cavaleiros - parte 13

Levantei de sobressalto e olhei ao redor. Eu ainda estava na casa de libra?

Tudo parecia ser tão diferente... Passei as mãos pelos olhos e falei baixo:

- Meus anjos! Onde é que eu estou agora?– pensei ter me teleportado inconscientemente de uma casa ara outra.

Uma voz penetrante feriu silêncio:

- Você está na casa de Escorpião. - quem falava era um rapaz altivo, de voz controlada e quente.

Olhei na direção do som. As cores azuladas do local onde eu estava combinavam com os olhos de meu anfitrião.

Ali estava um homem de músculos discretos e bem desenhados que marcavam a túnica azul que vestia.

Fiquei fitando seu rosto. Algo nele não me era estranho, procurei-o em minha mente pois tinha certeza que já o vira antes.

Um lampejo iluminou a minha escuridão mental.

Coloquei a mão na boca meio aberta quando lembrei de onde o tinha visto.

- Foi você quem olhou para trás e me encarou quando eu estava no salão para conversar com Saga!! – sacudi as mãos nervosamente – Você era um dos homens presentes naquela reunião a qual eu me intrometi....– respirei mais pausadamente

Senti o suor brotar pelo meu rosto enquanto a enxurrada de informações passavam em minha cabeça.

Os olhos do rapaz estavam cerrados como quem estava a procurar em sua cabeça todas as informações que eu citava.

- Sim. Acho que era eu em tudo isso que você disse. – sorriu coçando o queixo em deboche.

Continuei a falar sabendo que ele prestava atenção:

- Também te vi com um grupo de outras pessoas em um bar nesses dias à noite... outra coisa: havia lhe visto de relance quando eu estava sentada nas pedras do santuário...Não foi?

Ele riu com meu desespero em falar rapidamente tudo aquilo que me lembrava.

- Não sabia que você podia ser tão atrevida ao ponto de entrar nas 12 casas, e ainda encarar um cavaleiro de ouro. Tenho que parabenizar você por isso.

Apoiei os meus braços nas laterais do local em que estava deitada. Parecia um divã. Senti o escorregar de um tecido por cima de mim, estava coberta por uma espécie de manto de seda.

Ele fez um gesto com as mãos, apontado para si mesmo

- Sou Miro. Acho que você já sabe de qual signo sou guardião.

O manto que me cobria se descolou e eu percebi que estava de lingerie. Olhei para baixo. O rubro subiu ao meu rosto. E gritei:

- O que é isso?? – Fiquei de pé ao mesmo tempo em que me enrolava na capa sedosa que caira ao chão.

Vi um sorriso irônico de canto de lábio de meu companheiro de conversa.

- Você suava demais quando estava deitada na casa de libra.... Dohko pediu para que eu a trouxesse para cá. – o jovem de cabelos azuis e olhos penetrantes apontava para sua casa.

Naquele momento segui o gesto de mãos que ele fez e reparei que sua armadura estava montada no canto do cômodo onde estávamos.

Milo permaneceu mudo me olhando.

Observei ele se levantar vagarosamente de onde estava, pegar algumas toalhas em um armário e levar consigo. Senti um aroma de ervas, perfumes e óleos junto com um vapor morno que vinha de um canto de sua casa.

- Um banho. – sussurrei comigo mesma e senti o olhar de Milo pesar em cima de mim.

Aqueles olhos me perfuravam a alma, nada ali me fazia agir de forma convencional.

- Nisa, - olhei para ele ao ouvir meu nome - seu banho esta pronto. - Ele olhou de rabo e olho para mim e apontou para a porta lateral do local onde estava.

Tocou levemente meu braço e me guiou para a casa de banhos luxuosamente adornada que existia ali.

Parei com as costas no batente da porta, ainda incrédula com aquela cena.

Olhei para mão que tocava meu braço. Ao mesmo tempo que eu estava nervosa e irritada, eu estava fascinada.

O que esse homem tem que me fascinou tanto? A capa que me cobria as costas caiu ao chão como uma asa.

- É, de fato preciso de um banho..... – sorri disfarçando o nervoso que sentia - Mas,-olhei ao redor e completei com ironia - posso ficar sozinha para isso?

Ele soltou o sorriso enigmático de novo.

“Maldição!!” gemi para mim mesma.

- Sim, é claro. Não pretendia... – ele falava sorrindo enquanto tocava o batente da porta e fazia menção em ficar parado.

Bati a porta em seu nariz antes que ele terminasse de falar.

Aquele jeito de falar e me olhar me deixou furiosa.

Ao entrar na banheira fechei os olhos e senti o vapor ao meu redor. Um ardor me fez passar a mão em minhas costas, ali havia um imenso arranhão.

Onde eu teria me machucado?

Era como se meu corpo soltasse todo o estresse daquele dia. Quantas pessoas eu havia conhecido?

Permaneci com os olhos fechados e revi todos os rostos, todas as vozes que ouvi e as experiências de cada um que eu havia sentido.

Por que justo aquele homem ali fora estava me inquietando a alma?

Abracei minhas pernas envoltas nas águas quentes da banheira de pedra polida e sorri. Um pensamento agradável passou pela minha mente.

- Milo!!! – aumentei o volume da voz chamando-o

-Sim? - Ouvi sua voz abafada pela porta do lado de fora

- Vem aqui, por favor. – permaneci entorpecida pelo calor do banho.

E ele veio com as toalhas em mãos e olhos fechados.

“Que gracinha...” Ri comigo. “Agora não precisa fechar os olhos” pensei.

Enrolei-me nos tecidos macios que ele me trouxe e vesti o roupão. E ele abriu os olhos assim que eu terminei.

Fomos para a sala onde ele se sentou ao meu lado.

Esperei que ele começasse a conversa:

- Você é a única mulher que já visitou todas essas casas zodiacais, sabia? – ele tocou meu ombro levemente com o dedo indicador.

Foi quando vi sua unha. Automaticamente levei uma de minhas mãos as costas, onde existia um arranhão. Me voltei para ele de frente, com meu nariz quase colado em sua face.

- Por quê? – Sorri com ironia- é proibido uma mulher subir essa favelinha de peixinhos dourados??

Senti ele ficar vermelho com minha fala. Aos poucos ele restabeleceu a calma e falou:

- No santuário costumava ser proibido o trânsito de mulheres. – respondeu junto com um aceno positivo de cabeça - Existe uma ala separada para vocês.

Recuei com raiva daquilo.

- “Vocês”? Eu não sou amazona para ficar “reservada em uma ala” !! – falei indignada

- Então, como você teve autorização para andar aqui? – ele mudou de tom significativamente

Parei e pensei para responder, encostei a cabeça no apoio do sofá e fiquei olhando o teto.

- Bem, acho que não tive uma autorização de verdade... mas isso não me impediu de ver o mestre desse lugar, que por sua vez, não me impediu de sair da casa dele e ver as outras casas zodiacais. Acho que não sou algo tão maligno assim para ser proibida de andar solta. – soltei de uma vez a frase sem respirar

Senti as duas mãos dele tocando meu rosto.

- Não diria a palavra “maligna” para você. – olhou-me de cabo a rabo- Diria “perigosa”.

Soltei suas mãos de meu rosto com um movimento brusco.

- Sai dessa Milo!! – fiz menção de que fosse levantar, mas as sensações que me passaram na cabeça me impediram, junto com uma vertigem.

Sentei-me novamente no sofá macio e olhei em seus olhos.

- Mudou de idéia? – ele sorriu

- Me conta o que diabos aconteceu aqui. – senti a duvida me corroer por dentro

- Nada que não tenha visto em sua subconsciência, pequena. O que houve foi um tipo de atração talvez...

Dei um salto do sofá e gritei:

- Não brinca com esse papo de atração! Por que.... – senti um puxão em meu braço e a boca dele encostou furiosamente na minha.

Seus braços começaram a me apertar, nessa hora eu já não me pertencia mais.

Como ele pode ser sagrado? Pensei com minhas rendas enquanto o beijava furiosamente.

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Sair daquela casa zodiacal foi o a tarefa mais difícil de toda caminhada. O céu rajava um dourado maravilhoso quando olhei para a janela.

Milo me acompanhou lado a lado até a entrada da casa de Sagitário. Seguimos as escadarias com ele me falando das técnicas do signo de escorpião, e eu fui odiando aquilo de tal forma que comecei a detestar esse papo de ser cavaleiro.

Se eu me desvencilhei de sua presença, só o tempo pode me dizer isso. Acho que fui envenenada pela tal agulha escarlate da atração exercida pelo signo de escorpião.