DESAMOR
Tenho alguns amigos que compartilham comigo o interesse pela literatura e, como eu, escrevem poesia e/ou prosa.
Outro dia, conversando com um deles, me contava que tem um filho usuário de drogas. Eu sei que a família nessas condições sofre muito. No seu caso, vive só com o filho viciado que não trabalha nem estuda. Leva uma vida completamente improdutiva e sem sentido. Sofrem pai e filho. Um por não conseguir se libertar do vício e o outro por não ver solução para a nefasta realidade.
Tentativas fracassadas de resgate para o filho foram muitas, em clínicas especializadas e em entidades religiosas. Algumas vezes o rapaz fugiu e em outras não se obteve o resultado esperado.
Essa conversa que tivemos foi logo após o Natal e meu amigo me contava que comprara uma boneca grande e bonita para a neta, filha desse moço, que mora atualmente com a mãe porquê o casal se separou por causa do vício.
O pai ia de ônibus para casa quando encontrou, no coletivo, o filho que lhe disse estar indo visitar a menina. O avô entregou-lhe a boneca para que a levasse à neta como presente de Natal. Sabia que o filho vendia objetos de casa e lhe surrupiava dinheiro para alimentar o vício mas não acreditou que fosse capaz de privar a própria filha do brinquedo.
Não sabia o avô que nem o filho nem a boneca chegaria ao seu destino. O pai desceu logo do ônibus e o filho continuou, deixando o coletivo mais adiante. Imediatamente, procurou uma boca de fumo e trocou a linda boneca por crack. A fissura pela droga era tanta que o subjugou e superou o amor paterno.
Lágrimas escorriam pelo rosto do avô ao terminar de falar. Me disse que a neta, de apenas 5 anos, não recebeu nenhum presente de Natal e nem a visita do pai.
Algo insuperável para uma criança que ainda não tem discernimento para compreender a realidade e, muito menos, o porquê da falta de amor.