O Parque de Diversão de um Brinquedo Só

Sobre o sofá em trapos e de frente para a TV cheia de chiados e chuviscos, a pequena Emília se distraia assistindo desenhos animados quando no intervalo comercial uma propaganda local anunciava que um parque de diversão se instalara na cidade para uma tradicional festa, cujo início seria naquele mesmo dia. Sem desgrudar os olhos, a pequena garotinha fitava empolgada com os brinquedos na tela: carrossel, tromba-tromba, roda gigante, e entre outros, o pula-pula, brinquedo que mais tinha gostado.

Dotada de esperanças, a menina acreditava firmemente que a mãe poderia levá-la ao parque, e ao fazer o pedido insistente e o mesmo não ser correspondido, dolorosamente a garotinha aprendia o significado do querer não ser poder. No inconsciente do cérebro ainda em formação, Emília sentia na prática não possuir as mesmas condições como outros, de tal modo que ainda incapaz de aceitar o pedido negado e entender a realidade que vivia, a menina saiu correndo rumo ao quarto da mãe e se jogou na cama de molas, mergulhando em suas próprias lágrimas. Mas justamente entre choros e soluços e com o balançar da cama que Emília teve uma ideia. Depois do pranto enxugou o rosto, se pôs de pé sobre a cama e impulsionou num só pulo o corpo para cima e voltou para baixo. A garotinha percebeu que se repetisse os movimentos, os saltos poderiam lançá-la cada vez mais para o alto. Sem querer, Emília havia descoberto que seu mais novo brinquedo favorito esteve ali o tempo todo, só bastava ela enxergar.

A cama da mãe se tornou um formidável pula-pula, da penteadeira de espelho trincado virou uma tenda de vendas de roupas e bijuterias, e de cada divisão das portas do guarda-roupa fez uma praça de alimentação. Assim, toda vez que a mãe ia preparar o almoço ou conversar com a vizinha, sorrateiramente a pequena Emília deixava a TV ligada para ela pensar que estava vendo desenhos animados e logo se trancava no quarto para saltar sem parar no seu pula-pula particular.

A garotinha ainda não sabia, mas ali tomava conhecimentos de que não era preciso muito para se divertir e ser feliz. A propósito, quando existe imaginação, pode existir também o que quiser, até mesmo um parque de diversão de um brinquedo só.

Dia das Crianças

Para Emily: quando criança, nos parques de diversões poderia desfrutar dos brinquedos de visuais e mecânicas mais impactantes como a maioria das outras crianças da mesma idade fazia, mas sempre preferia o mais simples e não menos divertido pula-pula.

Dan Will
Enviado por Dan Will em 12/10/2017
Reeditado em 14/10/2020
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