Dizem que o arco-íris tem o poder de transformar as pessoas: homem em mulher, crianças em velhos e velhos em meninos... Mas não foi assim com Emília! O arco-íris, simplesmente, a levou para o mundo encantado das formigas, mantendo sua meninice, para que pudesse viver as fantasias que povoam a imaginação das crianças... Enquanto viajava no arco-íris, ela viu nuvens passarem apressadas, muito apressadas. Ora elas tapavam o sol, ora o sol aparecia...ora fazia sol, ora chovia e o arco-íris desenhava uma enorme aliança colorida no céu.  a viajante do anel de sete cores, aterrissou em terra firme, na outra ponta do arco-íris. Mesmo depois da  aterrissagem, a ainda dormia pesadamente, e, quando acordou, em sua volta, formigas trabalhavam para abastecer o celeiro. Ela observava atentamente aquele vai e vem: umas formigas se abraçavam, outras se cheiravam e tomavam direção. Atrás de si deixavam um rastro, um caminho bem estreito  como  uma estradinha em miniatura.
Mais adiante, uma operária cansada, talvez ferida ou doente,  era levada por um operário robusto, por longo percurso no caminho das formigas, que, para a menina, era apenas um mover de dedos. Em certo ponto, a formiga-operária parou, levantou as patinhas, esfregou os olhos e viu a menina como obstáculo, quase intransponível, um gigante, que mais parecia  uma montanha, uma montanha de carne, que poderia servir-lhe de alimento. Alimento! Nem pensar! Protestou Eco, uma formiga inteligente: “Comer a  viajante das estrelas seria declarar guerra aos humanos...” “Tem lógica”, concordou Logia. Emília entendeu e afastou-se um pouco. A formiga passou e entrou no formigueiro. Minutos depois, um exército de formigas surgiu na porta do palácio real e anunciou a festa de recepção ao filhote de homem.  Bethowver , a formiga cantora, entoou uma música mágica, e a partir de então, toda a comunidade se comunicou com a visitante em linguagem universal. Terminada a festa, Emília pediu para entrar no palácio, conhecer a rainha e os outros membros que fazem a segurança da colônia. 
— Impossível,  protestou o cerimonial. A rainha não se afasta do trono, nem o visitante pode passar pelo portão real. O portão é pequeno demais para ele... Foi quando o mágico do palácio  prometeu desenvolver uma poção que pudesse tornar a menina do tamanho de uma formiga e, no dia seguinte, Maria Emília conversava amistosamente com a rainha, dentro dos domínios de sua alteza, a rainha MIRM.
 
Passaram-se vinte anos no calendário das formigas e a menina manifestou o desejo de voltar à casa dos pais, afinal, no calendário dos homens, ele estava desaparecido há mais de duas horas. Durante este tempo, Emília  fez amizade com libélulas, borboletas e minúsculos animais que habitam o bosque, sem contar, é claro, com as formigas que lhe prometeram um presente, como sinal de eterna amizade. E o melhor, o visitante escolheria o que ganhar.
 
Emília escolheu como presente voltar para seu mundo nas asas de uma libélula, fazer acrobacia nos lagos de água fria, beijar a correnteza dos rios, e pousar no quintal de casa. Enfim, beber a poção mágica, ser criança outra vez. Crescer, de acordo com os costumes de sua espécie. E assim foi feito: a menina cresceu, tornou-se cientista e estudou as formigas. Jamais se esqueceu de : Mirm, Eco e Logia. E deu a essa ciência o nome de mirmecologia, em homenagem àquelas três amigas.
Foi assim, portanto, que  há muitos anos, muitos anos atrás, num bosque encantado, longe de qualquer civilização humana, morou um menino que conversava com as formigas.
Texto: Adalberto Lima
Imagem: Internet