A minhoca e a cobra

O dia amanhecera. O sol aquecia a vegetação, depois de uma noite fria e úmida. Perto do lago, as minhocas saíam, de suas casas, felizes e certas de que naqueles dias frios não estariam correndo perigo algum de acabarem como iscas em alguma pescaria.

Cecília, uma jovem minhoca, era a mais voluntariosa do grupo. Como já estava com idade para casar, o pai lhe preparara, para aquela noite, uma festa em que ela pudesse escolher o candidato preferido. Como todas as minhocas haviam sido convidadas, mais que nos outros dias da mesma estação, havia um agito muito grande.

Finalmente chegara o início da noite. Na casa do papai minhoca, havia muita comida e música da melhor qualidade. Todos dançavam e comiam; entretanto, Cecília estava bastante apreensiva, pois não sabia quem seriam os seus pretendentes.

Perto das nove horas, o pai pediu a atenção de todos e anunciou os candidatos. Havia dois apenas. Um era o jovem Ambrósio, pobrezinho, tão desajeitado, possuía falar manso e caipira. O outro era uma galante cobra-cega que todas as minhocas acreditavam ser uma minhoca esquisita e que aparecera por lá, vindo não se sabe de onde, instalando-se na casa de Dona Generosa que se afeiçoou ao moço, pois não tinha filhos. Todas as minhocas da cidade dos buracos chamavam-no minhoco por desconhecerem seu nome.

Como desafio, os dois, cada qual na sua vez, deveriam proferir um discurso em homenagem à Cecília. O primeiro foi Ambrósio:

- Moça Cecília, num sou um sujeito de falar bunito nem de floreio. Mais se ocê quiser casar mais eu, será a minhoca mais feliz desse mundão!

A jovem minhoca torceu o nariz e baixou os olhos, suspirando como quem não estivesse nada feliz em ter que desposar um jovem tão desengonçado. Assim que sentou novamente, foi surpreendida pelo som de êxtase das minhocas que ali estavam. Entrou o seu segundo pretendente. O estranho apareceu muito bem trajado; trazia flores e apressou-se em entregá-las à jovem. Em seguida, começou o seu discurso:

- Minha amada Cecília, precisaríamos de mais estrelas no céu e muitas outras luas para poder comparar a beleza da noite à sua. Outros tantos sóis seriam necessários para que a luz do dia pudesse ser comparada à sua. Sua doce voz soa como música e sua meiguice transforma-me em escravo dos seus desejos. Aceite o meu mais humilde pedido de namoro, jovem donzela, e sejamos felizes para todo o sempre.

Cecília não teve dúvidas, assentiu com a cabeça em resposta afirmativa ao pedido do segundo rapaz. Passaram o resto da noite conversando (Tocar e cantar a música da minhoca). E a conversa seguiu animada até que todos os convidados foram saindo. Já passava da meia noite quando a cobra-cega percebeu que precisaria ir também. Estava faminta. Não se alimentava há dias. Cecília, como era o costume das minhocas, acompanhou o noivo até a porta do buraco. Quando a cobra-cega se viu a sós com a jovem minhoca, aproveitou-se da falta de testemunhas e com seus dentes, que mais pareciam presas, capturou Cecília e a devorou rapidamente.

Moral: O essencial é invisível aos olhos e inaudível aos ouvidos.

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Sol Galeano
Enviado por Sol Galeano em 25/07/2016
Código do texto: T5708778
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