SONHO DA BICICLETA

Essa é mais uma história que aconteceu comigo quando ainda era menino,( será que vou pegar o costume da mamãe e virar escritor?) Pois bem, estava se aproximando o Natal, e é claro quando se é criança, essa é uma data de se ganhar presente. Somente quando viramos adulto é que invertemos os papéis, falamos do nascimento de Jesus, mas continuamos pedindo condições de dar presentes para os anjos  pequenos... vai entender...
Para todas as crianças, eu digo todas sem medo de errar, o melhor presente "era" a bicicleta. Eram como duas rodas mágicas,  o começo da liberdade dos filhos ... primeiro os pais ensinavam a pedalar próximos deles, até aprender sem cair, depois o próximo passo ir até a esquina mas diante da visão deles, como se eles pudessem nos segurar com os olhos se por um acaso caíssemos... pois bem, a tal liberdade começava bem ali quando conseguiamos virar a esquina e dar a volta no quarteirão. Emancipação!
A partir dali, sabem os filhos que a liberdade está proxima, os olhos dos pais não nos alcançam nunca mais.
Mas continuando a tal história, papai se levantou cedo deixou o carro a alcool ligado enquanto se preparava para sair. Acho que é por isso que ainda hoje, mesmo o carro sendo a gasolina, ele fica lá na frente de casa com o carro ligado esperando um a um de nós sairmos. É claro que a última sempre é a mamãe, que vem reclamando de fechar a casa toda sozinha.
Mas dessa vez, o papai saiu sem nós. Ele tinha um compromisso três dias antes do Natal. Pelo visto estava tudo planejado, pois nem bem o despertador tocou, e lá estava ele de pé. Nem ouvi o barulho do carro buzinando pra mamãe. Preferiu sair sozinho, não entendi nada quando perguntei por ele em pleno sábado de manhã. Mamãe, cúmplice ou não, fez de conta que de nada sabia.
Acordei mais tarde com a campainha, o bom de ser criança é que não nos deixam atender nem a campainha nem o telefone, isso em casa é tarefa dos adultos. Então continuei brincando no computador. Como será que as crianças da época do papai conseguiam se divertir sem o video game? incognita...
Pois bem, lá pelas tantas (como dizia minha vó) o teefone tocou varias vezes até minha mãe gritar do quarto: atende ai Renan. Com certeza essa era o momento em que ela estava no banheiro, aliás, acho que depois que Deus fez a mulher, fez imediatamente o espelho, não é possível!
Nem bem falei alô, uma voz rouca do outro lado sussurrou:
_ho, ho, ho, aqui é o Papai Noel, diretamente do Polo Norte. Estou ligando pra perguntar de que cor você pediu sua bicicleta. ho, ho, ho...
Imediatamente reconheci voz de meu pai e falei:
- Para com isso pai. e desliguei o telefone. Já não acreditava em Papai Noel.
Se minha mãe tivesse ido junto, não teria havido esse problema, pois meu pai é daltonico, ou seja, não reconhece bem  a diferença de algumas cores. De qualquer forma, pela lógica, ele deveria saber que meninas gostam de rosa e os meninos de azul. Mas hoje já adulto concluo que não se fazem mais crianças como antigamente... hoje temos muito mais ruas, avenidas com asfalto, caminhos a descobrir e no entanto as crianças estão presas dentro dos carros com o nariz na janela. Muitas delas não sonham em ser livres como eu e andar nas muralhas da China de bicicleta.

 

Railda
Enviado por Railda em 09/09/2012
Código do texto: T3873349
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