Goiabeira voadora.



Margret era uma menina que acabara de completar seus nove aninhos. Era muito sonhadora e aventureira e morava num sítio que ficava situado numa cidade pertencente ao vale do Taquari, interior do Rio Grande do Sul.
No sítio haviam muitas árvores frutíferas. Elas eram a paixão de Margret. Ela passava grande parte do seu tempo livre a admirá-las.
No pomar haviam abacateiros, ameixeiras, pessegueiros, limoeiros, laranjeiras, macieiras, pereiras e as goiabeiras. As goiabeiras eram as árvores preferidas de Margret porque seus troncos eram lisos e seus galhos pendiam longos e suaves para um lado, quase varrendo o solo.
Entre diversas goiabeiras, Margret escolhera a sua predileta e passara a considerá-la sua, do mesmo modo que suas irmãzinhas haviam escolhido as goiabeiras delas.
Todo dia, depois de fazer suas tarefas escolares, subia cuidadosamente pelo tronco da sua goiabeira até atingir os galhos mais fortes e lá ficava a balançar-se ao vento até sua mente criar vôo. Então viajava pelos lugares mais belos e distantes que sua mente podia criar. As aulas de geografia eram de grande serventia e a inspiravam nas suas aventuras.
Muitos lugares do planeta terra já haviam sido visitados por ela. Todos os pássaros já a conheciam e haviam se tornado amigos dela. Muitas vezes viajava com eles e trocava experiências durante as suas viagens.
Numa bela tarde ensolarada, estava ela sob a sua goiabeira a balançar-se suavemente, quando percebeu que ela estava coberta por lindas florzinhas alvas e pequeninas. Era a primeira florada da sua amiga goiabeira. Margret sabia que daquelas flores nasceriam pequenos frutos, que cresceriam até ficarem adultos para então amadurecer e ofertar alimento para sua família. Só de pensar nas goiabas maduras, sua boca salivou.
Ficou eufórica com a nova descoberta, mas à medida que pensava sobre o assunto, sua alegria transformou-se em melancolia. Colheu então uma das delicadas florzinhas e observando-a minuciosamente, descobriu no interior dela, uma minúscula frutinha.
Dois sentimentos opostos invadiram seu coração de menina. Precisava descobrir urgentemente se poderia continuar a balançar-se sobre a sua goiabeira sem prejudicar o desenvolvimento das frutinhas. Foi ter com a mãe, que refletiu com a filha:
A goiabeira é sua minha filha, mas para que os frutos cresçam saudáveis, é preciso que suas flores não caiam antes da época certa. Se você balançar muito os galhos da sua goiabeira, como costuma fazer, as flores cairão e ela não dará frutos.
No dia seguinte, Margret foi até a sua goiabeira amiga. Observou as inúmeras florzinhas que enfeitavam os galhos de sua árvore e decidiu dar-lhe férias até a colheita dos seus frutos. Ficaria muito tempo sem viajar e sua viagem para o outro planeta teria que esperar para depois da colheita das goiabas.
À noite, vendo a filha entristecida e mais calada do que de costume, o pai perguntou-lhe:
- A viagem hoje não acabou bem ou foi menos emocionante?
- Acabaram as viagens papai... – E cobriu o rosto com as mãozinhas, impedindo que as lágrimas descessem pelo rostinho coberto de pintinhas.
Seu Chico, como a vizinhança chamava o pai de Margret, aconselhou a filha dizendo:
- Filha... Sua mãe contou-me sobre a sua goiabeira... Isto faz parte da natureza das plantas e precisa ser respeitada... Porque não escolhe outra árvore amiga? Assim, não precisará interromper suas viagens e terá a chance de fazer uma nova amizade...
Mais animada, Margret sorriu para o pai e cheia de novos planos, foi para o seu quarto. Enquanto o sono não vinha, ficou absorvida, imaginando qual árvore escolheria, para substituir provisoriamente a sua amiga goiabeira.
Naquela noite, ela dormiu feliz e sonhou com a nova viagem que faria no dia seguinte, isto, se o tempo permitisse.
No dia seguinte, andou pelo pomar por longo tempo e concluiu que aquele era um tempo em que diversos tipos de árvores estavam florescendo. Era melhor procurar outra árvore fora do pomar.
Próximo de sua casa havia muitas árvores que faziam sombra, mas não davam frutos. Logo escolheu entre elas, aquela que seria sua amiga. Um lindo pé de Angicos parecia sorrir para ela. Seus galhos desciam como cascatas do alto da árvore e desciam até próximo do solo e ela tinha uma vantagem: seu tronco não era tão liso quanto a goiabeira.
Quando viu, estava novamente feliz a se embalar nos galhos do pé de Anjicos. Voou por lugares antes nunca visitados e encontrou suas amigas andorinhas que migravam para outra região. Ela acompanhou o vôo delas, enquanto trocava informações sobre suas viagens pelo mundo.
Diariamente, antes de subir no seu pé de Anjicos, ela dava uma passadinha na sua amiga goiabeira, para saber como ela estava e assim, acompanhava o desenvolvimento das goiabinhas.
Assim como ela observava o desenvolvimento das goiabinhas, ia despertando o seu interesse pelas demais árvores frutíferas do pomar. Já presenciara a floração das laranjeiras e mexeriqueiras.
Logo outras espécies de árvores iriam florescer, para no futuro próximo dar frutos gostosos e saudáveis para a sua família e vizinhança.
Margret teve a felicidade de crescer em meio à natureza. Pode desfrutar dos benefícios da vida bucólica e mais tarde decidiu estudar agronomia para poder estar sempre em contato com as plantas e a natureza.

Fim

Escrito por Cristawein




 
Cristawein
Enviado por Cristawein em 01/09/2012
Reeditado em 18/08/2015
Código do texto: T3860364
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