O PÁSSARO NEGRO

O PÁSSARO NEGRO (19 OUT 11)

(Folclore nordestino, recolhido por Sílvio Romero,

recontado por William Lagos.)

O PÁSSARO NEGRO I

No tempo em que existia a escravidão,

um fazendeiro escolheu um garotinho

na sua senzala e o trouxe para casa.

Sua mulher o tratava com carinho

e só fazia o que ela lhe mandava,

não precisando trabalhar na plantação.

Ele brincava com os filhos do casal

e dormia numa cama com lençol

e as mucamas lhe davam comidinhas,

só levantava já no alto do sol,

dava recados para umas vizinhas

e passava bem melhor do que o normal.

E assim se acostumou a desprezar

os escravos que moravam na senzala,

como se fosse até o dono da casa.

Com a patroa sentava-se na sala,

os berços embalava e não cansava

e as frutas do pomar ele ia buscar.

O PÁSSARO NEGRO II

Mas a maior parte do tempo ele passava

sem fazer nada, ou antes, a brincar,

na companhia dos filhos do patrão.

Chegou assim até a se acostumar.

Julgando ser melhor que os próprios pais,

fingia não vê-los e até os desprezava.

Com o tempo, foi ficando prepotente,

fazia travessuras e culpava

os próprios filhos da dona da casa!

Mas sua palavra a patroa acreditava

e repreendia os filhos de imediato,

o negrinho a fazer cara de inocente!

Mas o patrão começou a desconfiar

e interrogava os filhos com cuidado,

até que comprovou, com segurança,

que ele acusara de doces ter pegado

a sua filhinha, que passeava junto dele,

decidindo de imediato o castigar!...

O PÁSSARO NEGRO III

A sua esposa ficou muito arrependida,

pois tratara os próprios filhos com injustiça.

Mas mesmo assim, pediu a seu marido

que perdoasse a figurinha assustadiça,

então tremendo de medo do castigo,

por seus malfeitos e acusação fingida.

O fazendeiro concordou, mas doravante

o garotinho começou a trabalhar.

Só não estava ao eito acostumado

e os demais não paravam de zombar.

E foi pedir, de joelhos e chorando,

que a patroa o ajudasse nesse instante.

E tendo ela um coração bondoso,

ou por ser meio boba, simplesmente,

foi pedir ao marido que o perdoasse

e que o deixasse em casa, novamente.

O fazendeiro concordou, mas só vigiado,

sem roupas finas e sem descanso ou gozo!

O PÁSSARO NEGRO IV

Com seus filhos não iria mais brincar,

mesmo que algum para isso o convidasse.

Iria tirar pó, lavar o chão

e outros serviços que lhe determinasse,

continuamente sob as vistas das mucamas,

sem roubar doces e sem nada quebrar!...

E o menino retomou a vida assim,

descascando batatas na cozinha,

buscando água e indo cortar lenha.

A cozinheira estima não lhe tinha

e não havendo qualquer outro serviço,

o mandava arrancar ervas no jardim.

Depois de umas semanas, o patrão

determinou que limpasse suas gaiolas,

em que tinha passarinhos coloridos,

com plumas longas e com vermelhas golas,

os melhores cantores da fazenda,

todos guardados com grande estimação...

O PÁSSARO NEGRO V

Mas dentre todas as aves que possuía

era uma a de maior aceitação:

pássaro negro, que nunca cantava,

mas que mostrava o dom da imitação.

Bastava que ouvisse uma só vez

e as frases que escutava, repetia.

E reiterou-lhe a recomendação

de que nunca o deixasse se escapar,

pois muito grande seria o seu castigo.

E o negrinho com cuidado ia limpar

as cacacas do piso da gaiola,

mesmo que a ave lhe bicasse a mão!

Mas um dia, acabou se distraindo

e o pássaro da gaiola se escapou!

Ficou o garoto no maior dos sustos...

Por toda a sala o pássaro tentou

levar de volta para sua prisão,

mas a ave continuava escapulindo!

O PÁSSARO NEGRO VI

E quando uma vassoura foi buscar,

viu, de repente, o pássaro crescer

e facilmente levantou-o com as garras

e antes que o pudesse compreender,

abriu com o bico a janela e então saiu,

alçando voo e levando-o pelo ar!...

Por longo tempo o pássaro voou,

até chegar a um magnífico castelo

e colocou-o no alto de uma torre.

Transformou-se em um negro muito belo,

um homem alto, forte e musculoso

e o garotinho, só de assombro, desmaiou!

Ao despertar, deitado numa cama,

viu o homem, vestindo um trajo fino,

a lhe passar um pano úmido na testa,

preocupado com a vertigem do menino...

Mas assim que acordou, mandou se erguesse,

sem se portar do jeito de uma dama!...

O PÁSSARO NEGRO VII

Levou-o então até a porta do banheiro

e lhe ordenou que se lavasse muito bem,

com água corrente e muito sabonete.

Deu-lhe boas roupas para vestir também

e lhe disse: "Você me libertou,

mas este foi o seu malfeito derradeiro!..."

"O benefício que me fez, que eu agradeço,

não fez por mim, foi só por distração,

apenas outra de suas muitas diabruras!

Pois agora conseguiu novo patrão!...

Vai cozinhar e limpar o meu castelo

e obedecer-me em tudo o que lhe peço!"

"Mas se for para mim um bom criado,

se cuidar de minhas roupas e mansão,

tomarei conta de todo o seu futuro

e lhe darei a melhor educação.

Terá de trabalhar, sem ter preguiça,

porém no fim será bem recompensado!"

O PÁSSARO NEGRO VIII

"Eu vou chamá-lo pelo nome 'Zeferino'

e você me tratará por seu Padrinho.

Veja bem que não tenho nenhum filho.

Se demonstrar-se meu bom criadinho,

terá um futuro brilhante pela frente,

irá viver melhor que um branco fino!..."

A partir daí, Zeferino se esforçou,

fazendo tudo que o Padrinho lhe mandava.

Frequentemente, quando caía a noite,

de novo em ave ele se transformava

e saía voando pelos ares,

para destinos que nunca revelou!...

Havia muito trabalho no castelo,

que estava sujo de tão abandonado,

mas Zeferino executava suas tarefas

e, pouco a pouco, deixou tudo arrumado,

à exceção de sete quartos grandes,

que eram trancados com cuidadoso zelo.

O PÁSSARO NEGRO IX

Mas depois de quatro meses já passados,

disse o Padrinho que ia viajar

e lhe daria a primeira recompensa.

"Nesse quarto você pode penetrar,"

ele falou, ao lhe entregar a chave,

"mas sem deixar seus deveres descuidados."

Depois disso, alçou voo pelos ares

e Zeferino ficou sozinho no castelo.

Por dois dias somente trabalhou:

tinha receio de entrar no quarto belo,

que acreditava estar cheio de sujeira,

diminuindo ainda mais os seus folgares.

Mas depois, ele encheu-se de coragem,

respirou fundo e foi abrir a porta.

Logo acendeu-se uma brilhante luz,

como se abrissem do Sol uma comporta!

O quarto imenso, todo iluminado,

a lhe mostrar uma espantosa imagem!...

O PÁSSARO NEGRO X

Pois o quarto estava cheio de brinquedos!

Eram melhores que os dos filhos do patrão

e estava tudo limpo e bem cuidado,

embora houvesse uma certa confusão.

Não se cansava de brincar de dia e noite,

embriagado nessa orgia de folguedos!...

Mas sentiu fome e foi fazer comida,

queimou os dedos, pensando nos brinquedos.

Limpou a cozinha, com toda a disciplina,

imaginando quais seriam os segredos

daqueles outros seis quartos trancados,

que maravilha haveria ali escondida!

E voltou para brincar, feliz da vida,

mas sentiu um certo peso na consciência,

acostumado que estava a trabalhar.

Ou, quem sabe, era medo a sua tendência:

se não limpasse, na volta do Padrinho,

talvez levasse uma sova merecida!...

O PÁSSARO NEGRO XI

E assim, organizou horário certo:

pela manhã, cuidava do castelo,

cozinhava e lavava o necessário.

Passava as tardes, porém, no quarto belo,

brincando ali, sem nunca se cansar,

bem distraído no edifício assim deserto...

Quando voltou o pássaro gigante,

que afirmava ser o seu padrinho,

encontrou o prédio inteiro como um brinco

e o elogiou, satisfeito e com carinho,

dizendo que, se assim mesmo continuasse,

o seu futuro seria triunfante!...

Depois, outros seis meses se passaram,

sem o Padrinho ir de novo viajar.

Zeferino já crescia, bem depressa,

fortalecido por tanto trabalhar.

Quis devolver ao castelão a chave,

mas entre os dois um horário demarcaram.

O PÁSSARO NEGRO XII

Ele podia usar os seus brinquedos,

depois de ter cumprido obrigações.

E assim, Zeferino era feliz,

tinha tempo para suas diversões,

mas estudava por horas com o Padrinho,

que lhe falava do mundo e seus segredos.

Então, ao iniciar outra viagem,

deu-lhe o Padrinho, como recompensa,

a nova chave para o segundo quarto,

sem do trabalho lhe conceder dispensa.

Zeferino procedeu qual da outra vez,

levou dois dias até criar coragem...

Só então foi abrir a fechadura

e se encontrou em um salão de jogo,

com todo o tipo de divertimento.

Na maioria, eram armas de fogo,

alvos parados ou então em movimento,

favorecendo todo o tipo de aventura.

O PÁSSARO NEGRO XIII

E com o tempo, o salão ficou maior,

depois que tinha apurado a pontaria,

entrava em pradarias e florestas

e acertava a caça que queria.

Mas logo descobriu, para desgosto,

que caçar alvos vivos era pior...

É que depois que os animais morriam,

ele tinha de dispor de suas carcaças!

Tinha ele mesmo de esfolar as peles,

assar a carne e ainda, por pirraças,

precisava os seus restos enterrar,

que animais mortos sempre apodreciam.

Assim, ele aprendeu lição de vida:

cada um é por seus atos responsável.

E passou a caçar somente o necessário.

Na pescaria também ficou notável,

pois o salão sempre aumentava mais

e sua passagem era desimpedida.

O PÁSSARO NEGRO XIV

Logo aprendeu a suas andanças limitar,

porque sempre se afastava o horizonte

e de novo estabeleceu o seu horário.

Os riachos seguia até sua fonte,

porém voltava para a refeição

e as tardes passava a trabalhar...

Desse modo, ao voltar o castelão,

só proferiu palavras de louvor.

Depois disso, foram praticar esgrima

e o Padrinho lhe ensinou a ter valor

com facas, lanças e até zarabatana,

horas e horas lutando em seu salão.

E quando se ausentou por mais um mês

deixou-lhe a chave do terceiro quarto.

Zeferino desta vez não perdeu tempo

e sua coragem não precisou de parto...

O salão era uma imensa estrebaria,

com dezenas de cavalos de uma vez...

O PÁSSARO NEGRO XV

Ele logo aprendeu a equitação,

montava e exercitava os animais,

mas não havia estribeiro na cocheira

e assim aprendeu lição a mais,

que os cavalos precisavam ser cuidados,

com carinho e com grande aplicação.

Passaram anos, Zeferino foi crescendo.

No outro quarto havia muitas mulatinhas,

com quem passava as noites a brincar.

E no quarto seguinte, cem mocinhas

de pele branca e macia de tocar,

cujo carinho o rapaz foi obtendo...

E quando completou dezoito anos,

com livre acesso a todos os salões,

em que aprendeu as artes do namoro

e como conquistar os corações,

o seu Padrinho se ausentou uma vez mais,

e desta vez determinou diversos planos...

O PÁSSARO NEGRO XVI

Ao dar-lhe a chave do sexto salão,

declarou que o queria experimentar.

Tinha bastante para se entreter,

não precisava, portanto, nele entrar.

Zeferino pediu conselho às mulatinhas

e às moças brancas pediu informação.

Mas enfim, o dominou a curiosidade

e, certa noite, foi abrir a fechadura.

Encheu-se o quarto de luz resplandecente:

mal conseguia acreditar em sua ventura!

Havia cofres de jóias e jarrões!...

Foi tocar nos colares, sem maldade...

E um deles grudou-se na sua mão,

e até pensou em se cortar a palma,

mas o Padrinho voltou na mesma hora

e repreendeu-o, com a maior calma:

"Pensei que já ficara responsável,

seu castigo será sua própria proteção."

O PÁSSARO NEGRO XVII

E fez assim com que jóias engolisse:

"Não vão sair pela via natural,

mas formarão em seu peito uma moela.

Não é castigo feito para o mal:

poderá comer pedras e o veneno

não fará mal, apesar de sua tolice."

"Essas pedras ficarão dentro do peito

e somente sairão se precisar.

Mas veja bem, que lhe sirva de lição,

pois da próxima vez, não vou perdoar.

Eu vou lhe dar a derradeira chave,

não entre lá, se quiser agir direito..."

E Zeferino resistiu até bastante,

mas acabou também por fraquejar.

Havia dois rios correndo no salão,

um de prata, de claro cintilar,

outro de ouro, amarelo como o Sol.

Foi dominado pelo brilho fulgurante!...

O PÁSSARO NEGRO XVIII

E ao inclinar-se sobre a água cintilante,

enfiou um dedo, que se virou em prata!

Apavorado com o que lhe acontecera,

novo desastre logo se desata:

ao pular para trás, em desatino,

caiu no rio de ouro nesse instante!...

Ficou dourado dos pés até a cabeça

e logo apareceu o seu Padrinho!...

"Você não sabe realmente se conter!...

Pois doravante, irá viver sozinho,

não poderá mais ficar no meu castelo,

até que aprenda e, finalmente, cresça!..."

E transformou-se em ave, novamente,

Segurou-o nas garras e o deixou,

abandonado, no meio de uma estrada.

Sem se importar com quanto suplicou,

bateu a asa negra e majestosa,

aos gritos do rapaz indiferente...

O PÁSSARO NEGRO XIX

Em breve, sentiu sede Zeferino

e foi beber a água de um regato.

Viu que no sol seu rosto e mãos brilhavam,

estava todo dourado, triste fato,

porque gostava muito de ser negro

e para ele, era este um mau destino!

O rapaz sentiu-se tão desesperado

que se engasgou na água que bebia...

Cobriu a boca com a palma de sua mão

e alguma coisa saiu, quando tossia:

era uma jóia, brilhante e refulgente,

uma daquelas a que engolir fora obrigado.

Então pensou que poderia ser roubado,

com seu corpo assim brilhando a ouro

e as roupas finas que ele ainda usava...

Precisava então vender o seu tesouro.

Passou no rosto a lama do riacho,

para esconder o brilho desusado...

O PÁSSARO NEGRO XX

Foi a um ourives, na próxima cidade

e vendeu aquela jóia que possuía.

Com o dinheiro, se hospedou numa estalagem,

comprou um cavalo da melhor valia,

duas pistolas e espada com bainha

e então partiu, na maior velocidade...

Mas tão logo chegou na capital,

apesar de toda a poeira da viagem,

viu que seu rosto brilhava novamente.

E depois de se hospedar noutra estalagem,

pediu papel e também vidro de tinta,

porque sua cor o fazia sentir-se mal.

No outro dia encontrou um negro velho,

pedindo esmola junto do castelo

e lhe propôs trocarem as suas roupas.

E querendo sentir que era mais belo,

passou a tinta pelo rosto e mãos,

usando uma lagoa como espelho...

O PÁSSARO NEGRO XXI

Zeferino, porém, não percebera

que por uma das janelas do castelo

a princesa mais moça vira tudo.

E vendo o moço tão dourado e belo,

foi dizer a seu pai que desejava

casar com ele, de qualquer maneira!

É claro que a princesa não sabia

que por baixo do corpo assim dourado,

Zeferino era um negro de verdade!

Ficou o rei desgostoso e até magoado,

mas como amava a sua filha caçula,

acabou por concordar com o que queria!

Então o rei mandou buscar o mendigo,

que ficou com a notícia espantadíssimo!

Pois não sabia o que a princesa havia visto...

Por outra parte, sentiu-se felicíssimo,

porque Isabel era linda de verdade

e seu destino se mostrara muito amigo!

O PÁSSARO NEGRO XXII

Pediu umas horas para se preparar

e foi depressa até a estalagem,

depois de lavar a tinta de seu rosto.

Pegou o cavalo e as roupas de viagem,

tossiu na palma uma segunda jóia,

voltou ao castelo, depois de se pintar.

A que tossira era aliança de diamante,

para enfiar no dedo da princesa.

E assim se celebrou o casamento,

porém o rei sentiu tanta tristeza,

que adoeceu gravemente e seu doutor

receitou-lhe um remédio extravagante.

Pois precisava comer três corações

de faisões de plumagem deslumbrante,

mas que não existiam em seu reino.

E o rei, em sua febre delirante,

ordenou, sob pena de desterro,

que seus três filhos buscassem os faisões!

O PÁSSARO NEGRO XXIII

Zeferino lavava o rosto toda noite,

para dormir com Isabel, a sua princesa,

mas de manhã de novo se pintava.

Assim os dois imaginaram uma proeza:

ele mesmo iria buscar os faisões,

pois sabia onde se achava seu acoite.

Os três filhos eram muito preguiçosos

e foram se hospedar numa estalagem,

onde comiam e bebiam sem parar...

Mas Zeferino, com a maior coragem,

foi ao castelo do Padrinho lhe pedir

e voltou com três faisões esplendorosos!

Os três príncipes com nada se importavam:

se o pai morresse, um deles rei seria!...

Mas quando viram Zeferino na estalagem,

com aqueles três faisões que conduzia,

insistiram para que lhos entregasse,

ou senão, que pela força lhe tomavam!...

O PÁSSARO NEGRO XXIV

Mas Zeferino esgrimava muito bem

e bem depressa a todos três já derrotou;

seguiu em frente com os três faisões,

os três príncipes com o laço ele amarrou

e os fez andar até uma clareira,

trouxe lenha e acendeu fogo também!

E disse aos príncipes: "Se querem os faisões,

vão se deixar os três marcar a ferro,

igual que os negros. Lembrem-se que o rei

ameaçou mandá-los ao desterro,

se não lhe conseguirem o remédio:

meu preço é este pelos três corações!..."

Os príncipes não queriam consentir,

mas já estavam os três bem amarrados

e Zeferino marcou na perna os três...

Cortou as cordas, deu os pássaros comprados

e seguiu cavalgando até o palácio.

A pé os príncipes tiveram de o seguir!...

O PÁSSARO NEGRO XXV

Pintou o rosto e contou tudo à princesa.

Os três príncipes entregaram os faisões,

o rei tomou o remédio e então sarou...

Fizeram grandes comemorações,

porém na hora do maior banquete,

Zeferino recusou sentar-se à mesa!...

"Não vou sentar junto com meus escravos!"

E como todos ficassem espantados,

disse que os príncipes traziam a sua marca!

Eles ficaram muito envergonhados,

mas levantaram as pernas de suas calças

e lá estavam as marcas de seus cravos!...

O rei mostrou-se encolerizado,

mas após toda a história esclarecida,

mandou os seus três filhos para o exílio:

ficou a coroa para a princesa garantida

e Zeferino, mesmo sendo negro,

por ser o marido, seria coroado!...

O PÁSSARO NEGRO XXVI

Mas o povo contra isso revoltou-se

e proclamou a república no país...

Zeferino não se importou, tinha suas jóias

e foi viver com Isabel onde bem quis...

E quando os filhos nasceram mulatinhos,

já se esperava e ninguém mesmo espantou-se.

E Zeferino não chegou a ser rei,

mas permitiram depois que eles voltassem,

após ser abolida a escravidão...

E embora os filhos muito bem educassem,

o país não voltou a ser um reino,

é uma república, por constituição e lei.

E a nação prosperou, com muito ardor

e se tornou "o país do futebol",

em que os maiores heróis são jogadores.

E assim, porque fizeram muito gol,

dos descendentes do velho Zeferino,

tornou-se um "Rei" e outro, "Imperador"!...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 30/11/2011
Código do texto: T3365582
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