O ENTERRO DO SAPO - Cap III




_ Tá chovendo muito, pra onde a gente vai?

_ Pra janela da outra sala, olhar a chuva...

_ Quem vai primeiro? Quis saber o garoto.

_ Você, que é pequeno. Eu fico vigiando a vovó.

Silencioso, o menino esgueirou-se encostado à parede e rápido escapou. Menina fez à mesma coisa e num segundo estava na outra sala. Com cuidado, pegou duas cadeiras e colocou-as juntas à janela. Agora era outra coisa. Eles podiam observar tudo o que estava acontecendo lá fora. 

A chuva continuava forte. A ventania balançava as árvores perigosamente em direção da casa. A estrada estava totalmente coberta pela enxurrada. Tinha-se a impressão de que a casa flutuava nas águas.

Os raios continuavam caindo. De repente, da cozinha chegou o rumor de latas que se chocavam. Curiosos, os dois foram ver o que era. Menina não queria acreditar no que via. No meio da cozinha, Sinhá Doninha e Maria batucavam nos fundos de uma bacia, com canecas de lata. Foi impossível segurar o riso. Menina gargalhava com a cena. As irmãs, Latide e Liviva, abandonaram a pose de beatas e caíram na risada.

Que ritual era aquele? Sinhá Doninha, encabulada com o ridículo da situação, repreendeu os netos e ameaçou castigá-los.
 
Subitamente, após uma trovoada violenta, a chuva parou. Eufóricas, as quatro crianças correram pra varanda. Maria acompanhou-as e, num desabafo orgulhoso, declarou:

_"A chuva parô pru modi que nois feiz a simpatia."

Mal terminou de dizer isto, um raio caiu sobre uma das paineiras a trinta metros do casarão. A árvore partiu-se ao meio. O barulho do trovão foi aterrador. Todos ficaram paralisados de medo. 

Siá Doninha mandou que os netos entrassem de novo e ficassem quietos. Dessa vez eles obedeceram sem protestar. 

Menina começou a imaginar o que teria acontecido com os habitantes da árvore. Nela havia ninhos de passarinhos. Muitas vezes ela tinha vistos muitos calangos e lagartixas que passeavam pra cima e pra baixo, no tronco... Estariam todos mortos? Que vontade de ir lá fora ver. A chuva voltou a cair em ...


Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 15/07/2008
Código do texto: T1081807
Classificação de conteúdo: seguro