O ENTERRO DO SAPO

 

 

Este conto faz parte da série "A Menina da Chácara", composta por 23 episódios. Neles conto parte da minha infância passada na chácara do meu pai. A chácara ficava às margens do Rio Araguaia, em Aragarças, fronteira com Barra do Garças, Mato Grosso. As pessoas citadas nos episódios são todas reais. Evidentemente, alguns nomes foram mudados para preservar a privacidade das mesmas. Chamo a atenção para o modo como meu irmão caçula me tratava: "moço". A razão é explicada no primeiro episódio da série, "A Charrete". No início, escrevi para meu filho e meus sobrinhos, que gostavam de ouvir o relato das aventuras com o gato "Paizinho". Mais tarde, algumas pessoas leram e me incentivaram a publicá-los na Internet.


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Aquele tinha sido o último dia da novena que Sinhá Doninha e suas comadres vizinhas de chácaras, fizeram. Não demorou nem meia hora que a avó entrara em casa e a chuva chegou violenta. A proximidade das serras de Barra do Garças piorava a situação, pois fazia com que os trovões ecoassem mais fortes. Raios enfurecidos rasgavam o céu causando temor a todos. O período de estiagem acabara, graças à novena.

Sinhá Doninha corria pelos aposentos cobrindo os espelhos, segundo ela, espelhos atraiam raios. Tinha na mão um terço e um ramo bento. Cantava uma reza em latim nada compreensível, tudo para agradar Santa Bárbara a quem pedira para livrá-la da tempestade. 

O seu medo era tanto que fizera os quatro netos permanecerem sentados na sala de jantar. Alegava que seus corpos em movimento podiam atrair raios. As netas mais velhas seguiam contritas, os passos da avó, elas pareciam rezar. 

De seu canto, Menina observava quieta e não entendia a aflição da avó. Se ela tinha tanto medo de tempestade, por que então fizera novena pra chover? Gente grande era complicada. O pior de tudo era ter de ficar parada. Ter medo de chuva não fazia sentido. Enquanto pensava Menina viu Sinhá Doninha aproximar-se do pote e do filtro, de onde tirava canecas de água e  em seguida jogava tudo pela janela da copa...
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 14/07/2008
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