GENTE QUE (des)FAZ

Finalmente o Seu Brasilídio tinha conseguido dinheiro para fazer a calçada na frente de sua casinha, para melhorar a chegada quando ele precisava entrar em casa na estação invernosa e após um longo dia de trabalho — de onde geralmente chegava lá pelas 8h da noite, por causa do difícil e demorado trajeto de ônibus. O pedreiro era ele mesmo, apesar de trabalhar noutra profissão na firma atual. E por isso havia levantado mais cedinho pelo terceiro dia consecutivo, conseguindo deixar a calçada pronta com cimento ainda fresco... e sua esposa tinha gostado do que viu quando ela saiu para o trabalho depois da saída dele.

Mas quando Seu Brasilídio chegou na rua, de volta conforme acima descrito, ele viu sua esposa chorando em frente à residência onde ela também tinha acabado de chegar.

O choque foi grande. A calçada que haviam deixado com cimento ainda fresco estava desmantelada e um vizinho contou que um grupo de jovens (de mais ou menos uns 43 a 47 anos e que viviam ainda com os pais), já conhecidos como moradores de um condomínio de classe média naquele bairro, haviam feito um protesto pela agressão à Natureza da parte do Seu Brasilídio. Eles também prometeram que iriam denunciar os prejuízos causados por aquela obra que (conforme narrativa deles) matou algumas deslumbrantes plantinhas que abrigavam também umas lindas formiguinhas raras de onde brotavam asas no inverno e que serviam de fritura para alimento de pessoas em situação de rua protegidas pela Associação Socialista dos Socialistas Socioquarentões.

Seu Brasilídio vendeu a casinha dele, largando o emprego (como também assim o fez sua mulher). E o casal voltou a morar no interior do estado, onde os habitantes sabiam o verdadeiro valor de uma enxada.

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Da coleção zezediozoniana: “Para quem trabalhar não desonra. ”