Guardassoli
MINI CRÔNICA
Título: GUARDASSOLI
Mundo Rural
Amélia Luz.
Dona Zizinha mandara Ataliba, moleque de quintal, ir à venda no arraial buscar quitandas. Encomendara várias coisas e deu-lhe alguns trocados e um velho e desbotado guarda-sol porque ameaçava chuva forte. Ataliba, chapéu de palha, camisa de zuarte xadrez, calça de brim barato, remendada, herdada do irmão mais velho, arrumou-se assim vestido em “gala” e montou a égua chamada Baiana e saindo em disparada. No meio do caminho parou no pomar vizinho do Zinho Carlos e esqueceu-se da vida saboreando frutas diversas. De nada adiantou o pedido da patroa para que ele voltasse cedo porque o tempo estava zangado.
Demorou, demorou escutando as prosas nas portas das vendas do Joaquim Candinho, do Antônio Bifano, do português Porfírio Fernandes e da padaria do Miguel Marino. A tarde caiu, a noitinha chegou e ele só apreciando as coisas diferentes do arraial nem percebeu que a chuvarada chegava violenta, derrubando árvores, levando os telhados.
Desceu o temporal! Horas e horas depois chegou ao sítio do Valão da Caçada ensopado e tremendo de frio, todo apressado com as quitandas encharcadas dentro do bornal de algodão branco, bordado com linha Corrente colorida, tendo uma ilustração de ramos de trigo maduro e a palavra PÃO, em ponto cheio. Roscas e pães enormes, inchados dentro do saco alvejado.
Dona Zizinha muito brava perguntou, aflita, sem saber o que comer no café da noite:
-Ataliba, seu molequinho danado, por que você não abriu o guarda-chuva e não voltou mais cedo??? Essa sua mania de escutar assuntos nas portas tem que acabar!!!
Ao que ele respondeu dentro da sua inocência:
- Uai, a “inhora” “falô qui” era “guardassoli”!!! “Si” a “inhora” tivesse falado “qui” era garda-chuva eu tinha “abrido”. “Pru” causa “diss tô ansim”, todo “moiado”.
E foi para a beira do fogão a lenha para se esquentar ouvindo o sermão da Dona Zizinha que não parava de ralhar com ele, colocando batata-doce no braseiro para servir no café.
Êta vidinha dura, sô!!!