NEGÓCIOS QUE NÃO CASAM

Dona Arminda possuía uma marmitaria em casa, negócio que corria junto com o pequeno frigorífico do marido. Geralmente quem comprava a quentinha durante a semana, comprava carnes no fim de semana, que é quando a turma fazia o churrasco com calma nos dias de folga. O público da dona Arminda era avisado de suas ofertas pelo grupo de Whats App, mas nem todos se aperceberam do novo negócio dela, que foi a banquinha de jogo do bicho para gerar uma renda extra.

No primeiro dia, deu logo problema. A dona Arminda jogou no grupo: “Hoje é carneiro!” O Edgar pensou: “Opa, se a banca tá sugerindo carneiro, vou jogar 20 reais nele”. Acontece que a dona Arminda apresentava o cardápio das quentinhas e o Edgar viu a empresária avisar no grupo:

- Pessoal, hoje deu cobra!

O Calisto viu a última mensagem do grupo enquanto conversava com um amigo e compartilhou com ele:

- Rapaz, agora eu vi o frigorifico mais exótico da cidade, lá na dona Arminda tão vendendo carne de cobra.

O problema é que o amigo do Calisto era funcionário da prefeitura e não lembrava de nenhum estabelecimento licenciado para venda de carne de cobra. Não titubeou e ligou para o secretário de meio ambiente para fazer uma denúncia. No primeiro dia como bicheira, a dona Arminda já tinha contra si um processo administrativo.

No segundo dia, ela disparou no grupo:

- Caros clientes, hoje temos cabra e peru.

O Edgar, dessa vez, entendeu que era o cardápio e pediu peru, mas o filho da dona Arminda fez o jogo no peru, cobrando apenas quatro reais. O Edgar saiu satisfeitíssimo com uma marmita de carne de peru por apenas quatro reais.

Passaram-se mais algumas mensagens, e o Calisto só foi ler quando a Arminda disse que o resultado do dia era o elefante. O amigo do Calisto recebeu a mensagem encaminhada e elocubrou horrores, suspeitando que a marmiteira estava comercializando marfim. Não denunciou na prefeitura, contatou o IBAMA e a Polícia Federal.

Montou-se uma operação gigantesca. Havia helicópteros sobrevoando a cidade, fiscais nas docas portuárias, abordagens nas estradas, tudo a fim de obstar os fornecedores da pobre empresária. Quando os carros da polícia cruzaram a rua e todos eles pararam na marmitaria da dona Arminda, os vizinhos conversavam entre si, invejosos do sucesso da colega que agora alimentaria os policiais.

O oficial bateu o pé na porta da cozinheira, mostrou o mandado e perguntou:

- Cadê o marfim? Cadê o marfim?

Ao que dona Arminda respondeu:

- Se for o seu Martim, é três casas depois, aqui é só quentinha e jogo do bicho.

O pessoal do IBAMA levou quatro quentinhas e o sargento da polícia federal fez uma fezinha no porco, além de pagar pelo conserto da porta.

Wesley Ribeiro Dias
Enviado por Wesley Ribeiro Dias em 16/08/2021
Código do texto: T7322228
Classificação de conteúdo: seguro