É o fim da picada...

Eu na fila apavorado que nem quenga no cangaço
A enfermeira sacou logo a agulha e mandou escolher o braço
“O da esquerda Dona Moça, preciso com o outro trabalhar”
Ela nem me ouvindo, logo socou a agulha, o sol a me fritar

A fila era grande de gente tão feia que mais feia ficava
Porque já sabiam a dor que a vacina inoculava
Era a velha banguela falando por entre 2 dentes
Era o velho careca, mais feio ainda, rindo da gente

E quanto mais se aproximava da turma da fila
Elas iam chamando os nomes: Ariovaldo, Dolores, Camila
E vinham com os olhos esbugalhados, andando devagar
Tendo todos os sintomas bem antes da vacina tomar

Logo chegou mais um de apelido “Beiçola”
Segurava na mão uma latinha de Coca-Cola
E foi rindo da turma que chorava de desespero
Provavelmente já inoculado; o velho matreiro

Uma gorda rechonchuda com cara de poucos amigos
Os peitos davam quase chegando nos umbigos
“Eu sou gorda, eles vão me deixar”, ela pensou
Furou a fila e somente mais ódio na fila causou

Era gente de outras cidades que sabendo da vacina
Vieram correndo sem se importar com a angina
Sabiam do medo e dos sintomas da reação
Mas vinham assim mesmo: as gordas, as magrelas e os veios babão

A fila parecia fila do INSS em dia de pagamento
Até os olhos alcançarem, só se via medo e tormento
Era veia se abanando, veios falando da vida alheia
Já nem sabiam o que fofocar as veias fofoqueira

Era um evento único e sombrio na cidade
Porque morriam de medo do COVID naquela idade
Bem sabiam que a dor de cabeça e a muscular
Não teriam capacidade de tudo suportar

Porém, quando a metade já tinha sido inoculada
E a outra metade com as calças cagadas
Ouviu-se um aviso no auto falante:

“Acabou a vacina, volte amanhã o restante!”
Paulo Eduardo Cardoso Pereira
Enviado por Paulo Eduardo Cardoso Pereira em 21/06/2021
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