AVISOS DO ALÉM

Pois bem... resolvi comprar uma motocicleta.

Depois de uma certa idade, a gente tem dessas recaídas.

Um motocicleta simples, usada, para ir pescar.

Soube que meu amigo Chicão estava vendendo a dele, uma Yamaha, baixa cilindrada.

Na juventude tive duas motos: uma Victória e outra Jawa, 350 cilindradas, inglesas, se não me engano, que naquele tempo já eram antigas.

Fui ao Chicão, ele me mostrou a moto e autorizou que eu desse uma volta.

Ainda era de pedal de partida, sem motor elétrico de arranque. Sistema igual as motos da minha adolescência.

Maravilhoso... voltei ao passado.

Meti o pé direito no pedal, dei o tranco necessário, soltei o pé e a motor deu o reverso, acertando o osso da minha perna.

Putz... doeu prá caramba !

Já de imediato começou a levantar um caroço no osso, e a dor se espalhou pela perna... puta que o pariu !!!

Enquanto esfregava a perna e o ferimento, lembrei-me de uma vez que fui ao mecânico levar meu carro para o conserto.

Disse ao mecânico: "quando na rodovia eu passo de 120 km por hora começa um barulho estranho na roda".

O mecânico colocou o carro no elevador, mexeu nas rodas, e nas rebimbocas das parafusetas em torno dela, isso, aquilo, gira, para, mexe prá lá, mexe pra cá e dá o veredicto: "aparentemente não tem nada errado com as rodas... mas vou dar uma volta na rodovia".

Ele sai, demora uns vinte minutos e volta dizendo:

"Tudo certo, nenhum barulho, nenhum defeito nas rodas."

Insisto: "mas faz barulho depois dos 120 km... depois dos 140 km/h faz um barulhão... é tenebroso !".

O mecânico examina novamente as rodas.

Depois, as desmonta e examina atentamente tudo.

Enquanto o auxiliar remonta ele coça a cabeça.

Depois vem a mim e dá sua opinião:

"Será que não é Deus ou um seu amigo do além que bate no capô do carro para você diminuir a velocidade ?"

Passei a respeitar o limite da velocidade; o carro nunca mais reclamou...

Agora, aqui, dando partida na motocicleta e recebendo o golpe do pedal na perna direita, que doeu muito, lembrei-me do mecânico...

Não será um aviso?

Com essas coisas não se brinca.

Não comprei a moto.

Passei a aceitar o fato de que tem alguém que já está em outro plano controlando a minha vida.

Quando eu passar para o oriente eterno, (que menciono apenas por hipótese, porque nunca morrerei), me acerto com ele.

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Em tempo: a moto Jawa era fabricada na Tchecoslováquia; e a Victória na Alemanha. Eram muito comuns no Brasil nos anos 50 e 60. Lambretta era para filho de papai.

obrigado pela leitura

janeiro/2016 + 5