Um emprego para o bicho preguiça

Tentamos arrumar um emprego para o bicho preguiça do meu quintal

Me irritava vê-lo alí pendurado, tão parado, não me pareceu legal

- “Carteiro?” – foi a minha primeira sugestão e vã tentativa

- “Não vai dar certo”, disse ela, vai ter gente esperando em vão pela missiva

E o bichinho ficava alí sem fazer nada e só pensava em comer

Olhava meio desconfiado como se adivinhasse que teria algo a fazer

Ele detestava trabalhar e até subir na árvore era um sacrifício

Qualquer movimento brusco, ele se estressava, um suplício

- Bombeiro? Arriscou ela, sem saber que falava besteira

A casa certamente iria torrar antes que ele chegasse com a mangueira

Os moradores iriam trucidá-lo com tanta lerdeza, tanta demora

Iriam chutá-lo e colocá-lo porta afora

Eles são fofos, olhar terno, de grande coração

Mas não têm culpa de ter no máximo 2 ou 3 dedos em cada mão

Não fazem nada para a sociedade a não ser deixar uma criança amando

Pelo carinho, pela calma e no abraço que dá ao galho quando se apoiando

Quem sabe ele pode ser “maquinista”, disse ela, meio repentino

- Um ser calmo demais demoraria dias para levar alguém ao destino

Quase sem muitas opções de como fazer o bicho trabalhar

Nos pusemos a fazer uma lista para a solução encontrar

Olhando-o de longe, notamos que ele tem movimento lento

Gosta de ar fresco, lugares silenciosos, um pouco de vento

Tem longas garras para se segurar no seu galho preferido

"Fazer nada" é o seu melhor passatempo, não faz um ruido

Mas eu ainda, não me dando por vencido

Tentei o último “emprego” ou algo parecido

- “Dentista”- arrisquei, com um sorriso meio amarelo

- Queres ficar sem dente, um homem banguelo?

Gargalhamos quando caímos em si, e concluímos o lógico:

Ele não nasceu para trabalhar, nasceu para o ZOOLÓGICO!

Inspirado, é claro, na obra do poeta e crítico literário JOSÉ PAULO PAES

Paulo Eduardo Cardoso Pereira
Enviado por Paulo Eduardo Cardoso Pereira em 17/07/2020
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