A Aposta

Um rico e um pobre estavam discorrendo sobre temas gerais e a conversa passou para o lado da gastronomia. De repente, o rico pensou numa maneira de levar o pobre a uma derrota, e disse:

- Vamos apostar uma coisa? - Perguntou.

O pobre, já um tanto curioso, respondeu:

- Vamos, sim! Do que se trata?

- Vamos ver quem tem as fezes mais cheirosas.

- Você quer dizer menos malcheirosas, não é?

- Pode ser, mas eu digo é cheirosas mesmo, pois eu vou caprichar.

- Negócio fechado. Quando fazemos a prova? - perguntou o pobre.

- De hoje a uma semana, tá bom pra você?

- Pra mim tá ótimo. Onde?

- Lá em casa, pois tenho um banheiro de luxo, ao passo que o seu é uma "cintrina*" fedorenta. Ah! tem mais um detalhe: A merda tem que sair bonita. Mas o critério principal é o odor: Ganha a aposta aquela que tiver menos fedor.

E se foram. O rico começou a comer só iguarias caras, caviar, lagosta, foie grass, enfim, tudo que o mundo material pode oferecer a um homem abastado. Aproveitou e tomou uns chás aromáticos, como cravo, eucalipto. Só faltou mesmo tomar uma colher de perfume francês, pois seu médico não permitiu.

No dia combinado, o pobre chegou na casa do rico e foi atendido por uma bela doméstica, vestida a caráter, haja vista que o rico queria impressionar o pobre até não poder mais.

O rico cagou primeiro, no chão do banheiro, numa parte onde previamente se haviam escritos os nomes RICO e POBRE. A catinga subiu velozmente, e, tal e qual um sinal de WI-FI, espalhou-se pela casa toda, como um rastilho de pólvora. O rico só tinha uma esperança: a de que as comidas que o pobre ingeriu fossem mais fedorentas, em virtude da qualidade da alimentação, a falta de higiene (que ele supunha ser costume do pobre) etc.

Finalmente ele disse:

- Pronto, pobre, agora é a sua vez. A empregada já limpou o meu cocô.

O pobre entrou no banheiro e defecou em silêncio, que não foi quebrado sequer por um peido ou uma bufa.

O cagaião* saiu bonito, amarelinho, inodoro (sem catinga nem fedor).

O rico reconheceu a derrota, pagou a quantia combinada anteriormente e perguntou:

- Qual é o seu segredo para ganhar esta aposta?

O pobre, já com o dinheiro garantido, respondeu:

- Isso não te interessa.

E se foi para casa, feliz da vida.

Para o rico ele não contou o segredo, mas eu conto para os leitores:

O pobre passou uma semana comento só jerimum caboclo.

* Cintrina: Não existe essa palavra, mas quando eu era criança vi um professor (que depois se tornou meu colega de trabalho em uma escola técnica) dizendo que não queria comprar aquela casa por que não tinha cintrina. Na realidade, a casa tinha uma cintrina, o que ela não tinha era um banheiro, ou mesmo uma sentina mais moderna. No caso, a cintrina era de taipa, do tipo "pei-bufo", com um buraco embaixo do "cagante". Esse professor falhou ao dizer que a casa não tinha cintrina, de acordo com o dicionário cearês.

**Cagaião: Não existe nos dicionários, mas aqui no Ceará, todo mundo sabe que é uma ruma de fezes.

Autor desconhecido
Enviado por António Fernando em 25/05/2020
Reeditado em 28/05/2020
Código do texto: T6958064
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