Maria das Graças Costa Pereira da Silva, filha de pais portugueses, Gracinha, como era chamada,morava com os pais na periferia de São Paulo. Tinha no nome o que lhe faltava em formosura.Longe de ser muito feia fosse, mas uns óculos grossos apoiados sobre o nariz adunco, lhes davam um ar, porque não dizer inestético, o que acompanhados de uma certa e expressiva quantidadede de buço no lábio superior se encarregavam de piorar.o seu visual.
Fizera vestibular pra Medicina pois o pai queria a filha doutora uma vez que o filho continuou na vocação da família : padeiro.
Tendo prestado vestibular para Medicina, Gracinha entrou em Veterinária e acabou mesmo cursando Psicologia numa dessas faculdades com nome de santo e com mensalidades milionárias, que a padaria do pai conseguia suprir perfeitamente       
Agora, formada há algum tempo, sem trabalho.e entrando em anos, via-se na obrigação de ter que trabalhar. Afinal, tinha que ajudar à família e quem sabe arrumar um namorado, o que tanto um como o outro lhe faziam muita falta.Pensou em trabalhar em algo diferente uma vez que atualmente o número de psicólogos superava em muito o de padeiros ,e onde a concorrência era acirrada.
Lembrou-se então da grande dificuldade de Dna. Micas, sua mãe ,ao aprender a dirigir., pois mesmo após 10 aulas de dedicação ainda não havia conseguido tirar o carro da garagem, sem arrancar o portão, ou parte dele.
Isto fez com que a família, tomasse duas decisões: uma,a de  deixar a garagem sem portão, e outra , fazer Dna ,Micas jurar nunca mais encostar a mão num volante.,
Segundo a própria Gracinha, o fracasso da mãe muito se devera ao fato de  ao instrutor da auto-escola um pouco de psicologia , e não como maldavam as matildes do bairro, à dificuldade natural do povo lusitano ao uso pouco eficiente do cérebro.Daí a sua grande idéia: abrir uma auto-escola que associasse os seus conhecimentos de Psicologia ao ensino de dirigir. Quantas pessoas não teriam dificuldade em dirigir por falta de equilíbrio psicológico, ou controle emocional ,ainda mais no trânsito caótico da cidade de São Paulo ?
Na garagem lateral da casa ,agora sem portão, Gracinha inaugurou orgulhosa a "Tome a Direção “ a autoescola que faz de você  verdadeiro piloto.!
Coincidência ou não, Dna. Alzira, uma sessentona que morava nas imediações, ganhou um carro em um sorteio dos aposentados da Caixa e procurou a nossa instrutora para aprender a dirigir.
Gracinha pediu emprestado a Brasília do pai para que pudesse então, começar a dar suas primeiras aulas.
No dia marcado lá vai a nossa instrutora psicóloga buscar a aluna para sua primeira aula.
- Bom dia, Dna Alzira. Lindo dia não?( Regra nº 1:  Psicologia básica : transmitir alegria e otimismo ao iniciante)
- Não sei não, Gracinha. Estou tremendo dos pés à cabeça. Tenho vontade de desistir. Esta noite nem dormi de medo ...
- Que é isso Dna. Alzira? Para a Sra. isto aqui vai ser uma brincadeira. (Regra nº 2 , mesmo mentindo incutir auto confiança )
- Muito bonito, mas eu estou me borrando toda! Pimenta no dos outros é refresco.
Note-se que o medo começou a soltar a língua de Dna Alzira, que de uma senhora comedida começou a se transformar.
A aluna senta-se ao volante e Gracinha ao lado:
- Bem, vamos lá. Não se esqueça de que a pressa é a inimiga da perfeição e nós temos todo o tempo do mundo. ( Regra nº 3 :   Psicologia da Paciência e Tolerância ).
Ainda tremendo, Dna. Alzira arruma o espelho retrovisor e tocando na imagem de“ São Cristóvão “ ali pendurado, faz o sinal da cruz e se prepara...( Regra nº 4 : Psicologia do Otimismo Exacerbado )
- .Pise naquele pedal da esquerda e empurre a alavanca do câmbio
- Onde ?
- Esse cabo aqui, do seu lado direito, Isso, muito bem! Solte o freio de mão e agora vá soltando o pé esquerdo enquanto o direito pisa devagarinho no pedal da direita.
- Ótimo! Veja como o carro obedece. Olha aí, já estamos andando!
- Gracinha! É, é um milagre! Nunca pensei que pudesse conseguir! grita eufórica Dna.Alzira num misto de medo e euforia
- Agora, sem medo, (  Regra 5 : Psicologia da coragem) vá pisando no pedal da direita devagarinho que vamos mudar para a 2ª marcha.
Isso...Pise no pedal da esquerda e suavemente puxe o câmbio para trás...Devagar, devagar ...acelere de leve...
Pronto, estamos em 2ª...
Até hoje não se sabe direito o que aconteceu. Por medo ou porque o pé tivesse ficado preso, Dna. Alzira começa a acelerar o carro descontroladamente.
- Calma Dna. Alzira! Devagar, tenha serenidade...
E Dna Alzira acelerando...
- Pare ! Olhe a tremenda ladeira...! Freie !
- Não consigo !
- Pare esta merda, pelo amor de Deus ! Pise no freio, porra !
Nisso, Gracinha puxando o freio de mão que insistia em não responder, já havia perdido toda a sua compostura , serenidade, esquecendo-se totalmente da Psicologia ficando mais para o "salve-se quem puder " do que para pormenores de educação.
De nada adiantou. Precipitando-se ladeira abaixo em incontrolável carreira ia aquela Brasília desgovernada, com nossas duas heroínas cuja voz já tinham perdido de tanto gritar.
No meio da ladeira um carrinho de frutas foi pego em cheio belo bólido desgovernado,o que fez a felicidade dos moradores da rua e a infelicidade do fruteiro que pelo menos escapou com vida,o que não se pode dizer dos dois cachorros que foram atropelados...Um após o outro...
Uma velhinha que tomava sol na calçada,para fugir do automóvel descontrolado correu tanto, que de susto teve um ataque cardíaco.
Por fim, o carro acabou parando embaixo da carcaça abandonada de um caminhão abandonado na rua..
Só saíram do carro ,com algumas escoriações ,depois que o Corpo de Bombeiros serrou a carroceria.
Só mais tarde foram achar o “São Cristóvão “que com o impacto, caiu dentro do soutien de Dna. Alzira.
Passados alguns meses do ocorrido Gracinha ainda está em tratamento para perder o pânico de dirigir, que segundo sua mãe só se resolverá se ela encontrar um bom marido.
Dna. Alzira é motorista de praça em São Paulo ,na Urbe,não tirando por nada o “São Cristóvão”do retrovisor.Em paralelo está terminando um livro :” Dirigir com segurança na 3 ª idade“, que ela jura de pés juntos que teve o prefácio psicografado pelo Ayrton Senna